O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República vai gastar R$ 7.142.500 com a compra de 29 carros para as famílias do presidente Jair Bolsonaro e de seu vice, Hamilton Mourão.
Para transportar membros das duas famílias, todos os sedãs grandes terão de ser blindados, ter pneus à prova de bala e equipamentos de varredura e monitoramento. Mas os carros cotados precisam atender a outros requisitos muito específicos, detalhados nesta reportagem.
Segundo o Edital de Licitação nº 004/2019, o Governo Federal vai comprar 17 veículos de “serviço especial com características mistas, policial e escolta, com blindagem nível III-A – a máxima proteção balística para uso civil no Brasil –, tipo executivo para cinco ocupantes.” Serão gastos R$ 4.598.500, sendo R$ 270.500 por unidade.
Já as 12 unidades restantes têm as mesmas características, mas sem blindagem. Com estas serão gastos R$ 2.544.000, cerca de R$ 212 mil por carro. Ou seja, a diferença de R$ 58.500 será investida na blindagem. De acordo com o edital, todos os carros devem ser da mesma marca, modelo, cor e ano de fabricação. Será considerado “o menor preço total do grupo”, ou seja, ganha a montadora que ofrecer as melhores condições para a compra das 29 unidades.
Carros no páreo
De acordo com a descrição da licitação, três modelos foram utilizados como exemplo para a compra: Ford Fusion (R$ 179.900), Honda Accord (R$ 204.900) e Audi A6 (R$ 306.990). Mas o edital permite que outras montadoras enviem proposta com carros equivalentes. O preço, teoricamente, impediria a participação da Audi.
As especificações dos veículos determinam que eles sejam da cor preta, com potência igual ou superior a 240 cv. Isso inclui o Fusion na disputa, pois seu motor 2.0 turbo entrega 248 cv, enquanto A6 e Accord entregam 252 cv e 280 cv, respectivamente. Outros modelos que podem entrar na concorrência e atendem aos pré-requisitos são BMW Série 3, Jaguar XE e XF, Mercedes-Benz C 300 Sport e Toyota Camry.
A cilindrada também deve ser igual ou superior a 2 litros, podendo ser flex, mas com velocidade máxima não inferior a 160 km/h. O tanque de combustível precisa ter capacidade de, no mínimo, 55 litros – todos os modelos se encaixam nessa configuração.
Os sedãs devem ter rodas de 17 polegadas de liga leve e suspensão independente nas quatro rodas. Os pneus, incluindo o estepe, deverão receber cintas de aço inox para “proporcionar capacidade de evasão em uma situação de risco, mesmo quando o pneu esteja furado ou alvejado.”
Outra exigência é a quantidade de bolsas infláveis: no mínimo seis (duas frontais, duas de cortina e dois airbags laterais). O carro deve ter ar-condicionado; película G20 nos dois vidros laterais dianteiros e G5 (mais escuro) em todos os demais, exceto no dianteiro, que deve ser totalmente transparente.
Mimo para os ocupantes, como central multimídia, é requisito do governo: o sistema tem que ter conexão Bluetooth, microfone embutido, GPS, entrada USB, leitor de CD e DVD, Rádio AM/FM e ao menos quatro alto-falantes. Além disso, a fabricante precisa oferecer três anos de garantia a partir da data de entrega de cada veículo, inclusive cobrindo os custos de manutenção periódicas realizadas durante os 36 meses seguintes.
E todos os carros deverão ser blindados depois da compra, pois o edital determina que “a contratada deverá fornecer veículos originais de fábrica, que constem na linha regular de produção e comercialização, não se admitindo veículos cujas características originais tenham sido configuradas especificamente para atender a esta compra.”
Porém, todos eles devem vir equipados com itens de viatura policial e escolta, o que inclui kit de sinalização interna e externa com estrobo de LED e sirene com função megafone.
Blindagem Nível III-A
Os pneus já são contemplados quando se blinda o veículo, mas o estepe é cobrado à parte. Esse sistema de segurança, com cinta de aço nas quatro rodas, permite que o pneu não saia da roda e, por mais que esteja murcho, proporciona mais aderência e certo controle do automóvel – mais do que quando o carro está com as rodas diretamente no asfalto.
Esse tipo de proteção é “o máximo que um civil pode ter no Brasil”, afirmou o representante comercial da GR Blindados. O nível de blindagem está diretamente associado ao tipo de material utilizado e sua capacidade de absorver impacto, não à quantidade de peças blindadas. Assim, o escolhido pela Presidência da República para o veículo de seus familiares suporta até pistolas Remington Magnum .44. Ou seja, a segurança está garantida contra qualquer pistola ou revólver inferior ao calibre 44.
As peças que recebem blindagem são os vidros, portas, banco traseiro (o porta-malas não é incluído), painel corta-fogo, colunas e o teto-solar. Existem diversos tipos de blindagem: I, II-A, II, III-A e III.
Impugnação
A GR Blindados, empresa especialiazada localizada em São Paulo, enviou para a Coordenação-Geral de Licitação e Contrato uma análise de Impugnação alegando que o Edital do Pregão não especifica o tipo de material usado na blindagem dos carros presidenciais e também não exige o Certificado de Registro (CR) do Exército Brasileiro, instituição responsável por autorizar todas as blindagens no país.
A blindadora cobra mais detalhes: “A única exigência é de que a blindagem seja nível III-A, faltando especificações mínimas quanto aos materiais balísticos a serem empregados, podendo acarretar na aquisição de veículo blindado de baixa qualidade ou até mesmo imprestável”, afirma a GR no documento.
Além disso, consultamos os valores praticados pela GR para os três carros mencionados como exemplo no edital e os valores podem ser menores do que os R$ 58.500 apresentados na diferença entre os 17 modelos blindados e os 12 não blindados. Para um Honda Accord e um Ford Fusion o valor é de R$ 53 mil, enquanto que para o Audi A6 é de R$ 55 mil.
Já na Totality Blindados, outra empresa de São Paulo, a blindagem do Fusion sairia mais em conta, por R$ 46.800. Para o Accord custa R$ 50.100 e, para o A6, R$ 54.500, o que poderia poupar uma bela quantia para os cofres públicos. Todos os produtos foram cotados com garantia de dez anos para blindagem transparente e cinco anos para blindagem opaca.
A Autorização do Exército e emissão do CR pode demorar de três a dez dias. Somado ao período de até 45 dias para encomendar e instalar o material balístico, o carro ficaria pronto entre 50 e 60 dias.