As alergias na infância representam um desafio significativo para pais, cuidadores e profissionais de saúde. Elas são uma resposta do sistema imunológico a substâncias estranhas ao corpo, chamadas de alérgenos, que podem desencadear uma série de sintomas, em alguns casos, graves.
O Coordenador do Departamento Científico de Alergia na Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dr. Bruno Acatauassu Paes Barreto, explica que a alergia alimentar está entre as alergias mais comuns na infância e ocorre quando o sistema imunológico reage exageradamente à proteína de certos alimentos, como leite, ovos, amendoim, trigo e frutos do mar.
O especialista conta que no Brasil não há estatísticas oficiais, porém, a prevalência parece se assemelhar à literatura internacional, que mostra cerca de 8% das crianças com até dois anos de idade sofrendo algum tipo de alergia alimentar.
“Os sintomas são bastante variados e podem se manifestar de forma cutânea (placas vermelhas, inchaço de olhos, bocas e orelhas, coceira); gastrointestinais (diarreia e vômitos); respiratória (falta de ar e chiado no peito); e cardiovasculares (queda da pressão arterial e anafilaxia)”, detalha Dr. Paes Barreto.
A seguir, Dr. Bruno explica quais os outros tipos de alergias mais comuns na faixa etária infantil:
Ácaros – Podem causar sintomas como espirros, irritação nos olhos e coriza. Em crianças com asma e rinite alérgicas, os ácaros são um fator determinante para o desencadeamento das crises. O tratamento pode envolver o uso de anti-histamínicos, corticosteroides nasais e medidas de controle ambiental para manter a casa livre de alérgeno.
Asma – Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a asma atinge cerca de 235 milhões de pessoas em todo o planeta. Só no Brasil, a doença afeta aproximadamente 20% das crianças e adolescentes. Estudos apontam que a asma é responsável pela morte de dois milhões de pessoas no mundo.
Responsável pela quarta causa de internação e pela morte de duas mil pessoas por ano no Brasil, a asma é definida como uma obstrução brônquica, geralmente ocasionada por um processo inflamatório. A asma pode ser alérgica e não alérgica. A mais comum e que atinge principalmente as crianças é a asma alérgica, desencadeada pelos alérgenos inalantes como poeira, ácaros, fungos e pólen.
Rinite Alérgica – Não é contagiosa e os sintomas são crises de espirros, coriza clarinha, coceira no nariz (podendo atingir também os olhos, ouvidos e a garganta) e entupimento nasal.
Uma criança com pais alérgicos terá aumentada de 50% a 70% a chance de desenvolver uma doença respiratória, inclusive rinite alérgica. No Brasil, um estudo do International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC) mostrou frequência média de 12,5% de rinite entre crianças de 6 e 7 anos e de cerca de 20% em adolescentes com idades de 13 a 14 anos. A incidência progride até a adolescência, fase da vida em que pode afetar até 25% da população.
Dermatite Atópica – É mais comum na infância e cerca de 60% dos casos ocorrem no primeiro ano de vida, com melhora gradual até o final da infância. Caracteriza-se por um processo inflamatório da pele com períodos alternados de melhora e piora. Não é contagiosa, tem carácter genético, e, é comum preceder a asma e a rinite. Outros fatores podem desencadear a dermatite atópica, entre eles estão os alimentos, aeroalérgenos (ácaros, fungos, epitélio de animais), perfumes e suor.
Urticária – Manifesta-se com manchas vermelhas, coceira e, em alguns casos, inchaços, chamados também de angioedema. O tratamento geralmente envolve o uso anti-histamínicos e os corticoides por via oral, por períodos curtos.
Para todas as alergias descritas acima, quando de difícil controle, em casos graves, já existe a possibilidade do uso de imunobiológicos. Nestes casos, o especialista pode orientar o manejo para as melhores opções.
“É importante considerar que algumas alergias infantis podem ser superadas com o tempo, na medida em que o sistema imunológico da criança amadurece. No entanto, outras podem persistir até a idade adulta”, comenta o Coordenador da ASBAI.
Portanto, é fundamental consultar um médico especializado em Alergia Imunologia para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado. Além disso, a prevenção desempenha um papel crucial na gestão das alergias na infância.