A construção civil e o mercado imobiliário são dois segmentos que conseguiram continuar em alta mesmo durante a pior fase da pandemia da Covid-19. O Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil cresceu 8% em 2021, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para o coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Civil do Crea-RJ, engenheiro Luiz Carneiro, o crescimento do setor deve ser comemorado depois de anos de estagnação, mas as empresas e profissionais da construção civil precisam ficar atentos ao mercado e aos desdobramentos políticos do país. O recente aumento da taxa básica de juros, a Selic, de 9,25% para 10,75% ao ano, por exemplo, ameaça adiar o sonho da casa própria de muitos brasileiros. Isso porque, com juros mais altos, o financiamento imobiliário ficará mais caro.
“É importante entender que o mercado sempre se adapta. Mas se os bancos e o governo não incentivarem mais as taxas de financiamento, é provável que haja uma redução no mercado imobiliário em si, porque haverá menos oferta de crédito, menos construção e dinheiro no mercado para as pessoas financiarem imóveis residenciais“, alerta.
De acordo com Carneiro, as únicas áreas da construção civil que nunca param, mas se adaptam, são as da indústria e do varejo. E o balanço de 2021 foi bom também nessa área. Os impactos do crescimento na construção civil se espalharam. Com 49,2 milhões de toneladas vendidas, a comercialização de cimento cresceu 9,7%, segundo a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). A comercialização de tijolos subiu 30% e a de aço bruto aumentou 20%, batendo 27 milhões de toneladas. “Em um cenário desses as indústrias e lojas manterão o que tem ou renovarão, olhando para um prisma de melhorar pontos que possam viabilizar o crescimento dos lucros deles e o mercado continuar girando“, explica.
Para o representante do Crea-RJ, o momento ainda é de expectativas para o setor. Muitas pessoas seguraram os investimentos durante estes dois anos de pandemia e estão com a demanda represada.
“As pessoas estão começando a pensar em investir novamente. Esse é o aspecto positivo para o futuro do mercado, mas também gera insegurança, porque a cadeia de produtos, insumos e equipamentos para a construção civil sofreu e ainda sofre muito com a falta de materiais. Se a demanda represada for solta de uma vez, a escassez de material pode ser uma das consequências“, completa.
Outro termômetro importante sobre o crescimento da construção civil foi a criação de 285,5 mil novos postos de trabalho em 2021, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Atualmente, o setor é responsável pelo emprego de 2,5 milhões de brasileiros.
“Precisamos formar engenheiros com ótima qualificação e capacitar muito bem todos os níveis de profissionais da construção. Construção com qualidade tem durabilidade“, finaliza Luiz Carneiro.