“A longo prazo estaremos todos mortos”. Ninguém questiona que o economista inglês John Keynes (1883-1946), autor dessa frase, estava certo a respeito do nosso futuro. Mas ele provavelmente não imaginava que o longo prazo ficaria mais longo ainda, inclusive no Brasil. A longevidade do brasileiro está aumentando e, segundo o IBGE, 30% da população será formada, em 2028, por pessoas com mais de 50 anos de idade.
E quando cresce a expectativa de vida, cresce também a importância de planejar a situação financeira na velhice, certo?
Deveria ser, mas infelizmente isso não acontece no Brasil. Estudos mostram que poupar não é da natureza humana, mas no âmbito nacional essa tendência é especialmente marcante. Levantamento do Datafolha revelou que o brasileiro é imediatista e que 65% da população não guarda dinheiro para o futuro, número extremamente preocupante em um país onde a ineficiência do sistema previdenciário tornou emergencial uma Reforma da Previdência, ainda sem data definida. Analisando as projeções de crescimento populacional no nosso país, é fácil entender que, no modelo atual, a previdência social não chegará a 2050 sem uma profunda reforma. A projeções indicam que, da forma que esta, a previdência no Brasil custará ao país quatro vezes mais do que custa, em média, nos outros países.
Claro, não é fácil poupar no Brasil. Em países nos quais há menos desigualdade social e mais serviços públicos de qualidade, principalmente, na Educação e na Saúde, além de uma Previdência confiável, a necessidade de economizar não é tão evidente. Isso, no entanto, não muda o fato de que a falta de planejamento financeiro representa um problema grave em nosso país, capaz de tornar a chamada “melhor idade” em um verdadeiro pesadelo para muitos.
É por essa razão que a previdência privada, ou complementar, ganha cada vez mais força como opção de investimento para garantir uma aposentadoria confortável. Enquanto no modelo governamental vigente – administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – não é possível escolher o valor da contribuição, já que é automático e proporcional ao salário recebido, na previdência privada o beneficiário pode investir o quanto quiser, pelo tempo que quiser, de acordo com seus objetivos e sua disponibilidade, e estipular renda mensal superior à definida pelo Governo.
No entanto, mais importante que qualquer modalidade de investimento – ações, fundos de renda fixa e moedas virtuais são outras opções – é aprender a poupar, a controlar os gastos. É um desafio considerável, diante de tantas despesas e um orçamento apertado ou até deficitário, algo que é a realidade de tantos brasileiros. Mas desafio maior ainda é contar apenas com a previdência social para suprir suas necessidades básicas quando o futuro tornar-se presente. A longo prazo, enquanto ainda estivermos vivos, nossa saúde financeira também será fundamental.
*Raphael Swierczynski é economista