Na quinta-feira pré-Carnaval (8 de fevereiro), alunos do ensino médio das unidades JK (Vila Nova Conceição) e Alto da Boa Vista da Escola Lourenço Castanho, em São Paulo, vão tocar junto com a bateria do cordão carnavalesco Kolombolo Diá Piratininga. A atividade será feita com os alunos que tiverem participado da oficina de bateria nos dias anteriores, conta Paulo Chagas Dalcheco, orientador educacional da unidade JK da Escola Lourenço Castanho, e membro do Kolombolo.
“Vamos fazer uma apresentação e interagir com as crianças. No aspecto pedagógico, estamos trazendo a arte e a cultura para a escola e, dentro desse contexto, o Carnaval faz parte da identidade brasileira”, argumenta Paulo. É o segundo ano consecutivo que o cordão se apresenta na escola e o objetivo é oferecer diversão, mas também mostrar, de forma prática, parte da história e cultura do Carnaval.
Muita música e nenhum celular
Além da temática cultural, a apresentação é um ponto de partida para estimular a iniciação musical dos alunos, adianta Paulo. “Queremos incentivá-los a formar uma bateria e se apresentarem em eventos internos da escola este ano, como Festa Junina e jogos escolares. Hoje, não temos isso.” Depois da folia, a escola vai organizar oficinas de experimentação de instrumentos durante os recreios para que os alunos se sintam encorajados a tocar.
É um exercício prático artístico e uma alternativa que ajuda na socialização em tempos de uso excessivo de telas, continua o orientador. “É impossível olhar para o celular quando se está tocando bateria. E quem não sabe tocar, já consegue fazer isso depois de uma ou duas aulas.”
Para ele, o trabalho conjunto é a chave do aprendizado. “Queremos que as aulas se tornem momentos de convivência e colaboração. Isso vem antes de qualquer técnica e é o que faz a bateria funcionar como um só instrumento.”
Identidade cultural
Apesar da origem europeia do Carnaval, a festa ganhou identidade própria no Brasil e começou nas ruas, puxada pelos cordões carnavalescos – agremiações de foliões que tocavam e dançavam separados do público por cordas, e que deram origem aos blocos e escolas de samba.
Nesse contexto, Paulo disse que haverá aulas introdutórias sobre o Carnaval antes da apresentação, abordando cultura e espaço territorial. “As escolas de samba, cordões e blocos estão atrelados ao espaço geográfico. O bairro da Liberdade (São Paulo), hoje associado à cultura asiática, era o lugar de negros libertos no começo do século 20”, exemplifica.
Conteúdo pouco ministrado ou oferecido
O conteúdo étnico-racial, do qual o Carnaval brasileiro faz parte, é pouco ministrado nas escolas, de acordo com o estudo de 2023 ‘Avaliação da Qualidade da Educação Infantil: Um retrato pós BNCC (Base Nacional Comum Curricular)’, feito em parceria entre a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e o Itaú Social.
De acordo com o levantamento feito em mais de 3 mil creches e pré-escolas de 12 municípios brasileiros, 89,8% delas ignoram o ensino da temática. Das 11 mil horas de atividades para crianças da educação infantil avaliadas, não foi constatada nenhuma ênfase em questões raciais. Materiais artístico-cultural e científico de diferentes origens étnico-raciais tiveram a menor presença nas salas de aula, sendo completamente ausentes em 70% das turmas.
Nos ensinos Fundamental e Médio, a resistência institucional e a falta de formação do docente ao longo da carreira são fatores determinantes que dificultam a difusão da temática durante o ano, constata o estudo. Tudo isso contraria a Lei 10.639/2003, que determina a inclusão de conteúdos relacionados à história e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar.
Nesse sentido, a iniciativa de Lourenço Castanho em trazer uma bateria de Carnaval ganha relevância, pois também aborda a influência da cultura africana na formação de São Paulo. “Temos que trazer essa cultura com identidade brasileira para dentro da escola, para que os alunos possam ver a cidade de maneira diferente”, explica Dalcheco.