Quando governantes brasileiros fecham os olhos para os lixões estão cometendo crime e criando enormes passivos ambientais, sociais, de saúde pública e econômicos. Cálculo inédito do Departamento de Economia do Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana (Selurb) revela que, só nos últimos 10 anos, o país acumulou uma “dívida” superior a R$ 730 bilhões com a falta de combate à destinação irregular de resíduos.
Apesar de impactante, o valor considera apenas os custos para remoção desse lixo, descontaminação do solo e o direcionamento do material para um aterro sanitário (equipamento adequado para a recepção e tratamento de resíduos). Ou seja, os danos à saúde, impactos sociais e econômicos não entraram na conta.
“Esse é um cálculo conservador. Usamos como base dados do programa ‘IllegalDumpFreePA‘, dos EUA, onde o custo de limpeza de resíduos destinados a lixões é de U$ 600 por tonelada (R$ 2.520/tonelada com câmbio a R$ 4,20). A estimativa para adaptação desse impacto no Brasil foi conservadora, pois não levou em consideração aspectos como a inexistência de tecnologia como máquinas e equipamentos nacionais para a execução da descontaminação adequada dos terrenos. Desse modo, os custos poderiam ser até maiores”, revela Jonas Okawara, economista do Selurb.
A entidade considerou a média anual de 29 milhões de toneladas jogadas diretamente no meio ambiente, sem quaisquer mecanismos de proteção do solo ou do lençol freático. Só em 2017, dos 71,6 milhões de toneladas de lixo coletados no país, 40% foram para lixões ou aterros controlados, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil.
Aterros sanitários: solução mais adequada e barata para o Brasil
Enquanto o preço para recuperar uma área transformada em lixão custa cerca de R$ 2.520 por tonelada de resíduo, a destinação ambientalmente correta (aterro sanitário) do mesmo volume de lixo pode ficar até 38 vezes mais barata. O custo para destinação em aterro sanitário é entre R$ 62,9 e R$ 269,89 por tonelada de resíduo, dependendo do tamanho do empreendimento.
Para o engenheiro Carlos Rossin – especialista em sustentabilidade e coordenador de diversos estudos sobre gestão de resíduos sólidos – a solução para o Brasil é criar aterros regionalizados que possam atender a grupos de municípios.
“Vivemos em um país de tamanho continental, composto por 5.570 municípios, sendo 90% destes com população inferior a 50 mil habitantes. Portanto, temos dois grandes desafios para trazer a viabilidade ao sistema do ponto de vista logístico: percorrer grandes distâncias e transportar pequenos volumes. Por isso, a solução regionalizada é a mais adequada. Estudos mostram que se o Brasil construir novos 448 aterros sanitários (hoje são 679), poderá fechar os cerca de 3 mil lixões atualmente em operação”, afirma Rossin, que foi diretor de Sustentabilidade da PwC e conselheiro do Pacto Global em São Paulo.
Ele afirma que o modelo americano é o que mais se adequa ao Brasil, por serem ambos países de tamanho continental, com acesso a commodities, facilidade em geração de energia, entre outros aspectos que influenciam a viabilidade econômica das soluções para este setor.
Na década de 1960, segundo o especialista, os EUA tinham cerca de 20 mil lixões – praticamente um por cidade. Em 15 anos, o país resolveu este problema com a criação de 2 mil aterros sanitários regionais, possibilitando a geração de escala para atender cidades pequenas que individualmente não teriam viabilidade econômica para tratar o seu próprio lixo; a redução de custos da logística por meio da utilização de uma mesma estrutura de tratamento atendendo diversas cidades; a viabilidade econômica para a reciclagem e para a estruturação de plantas de geração de energia nos aterros regionais (Waste-to-Energy).
Fonte: EPA