Salvador é uma das capitais brasileiras mais procuradas por turistas de todo o mundo. Conhecida por sua história, belas praias e pelo carnaval, agora a capital da Bahia vai ganhar outro destaque internacional, desta vez, no âmbito religioso. É de lá a primeira santa genuinamente brasileira: Irmã Dulce Pontes, ou Dulce dos Pobres.
Num ano de tensões mundiais (1914), que culminaram na Primeira das grandes guerras, nascia, no dia 26 de maio, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes. Num contexto de desesperança e de notícias diárias de ataques e mortes, a segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria Pontes já trazia em seu DNA a semente da paz e da caridade.
Aos sete anos, experimentou uma das dores mais amargas que o ser humano pode sentir, a perda de sua mãe. Mesmo órfã, dilatou em seu coração o dom da maternidade, que desabrochou no afeto e no cuidado com os pobres. E isso sem deixar de ser criança e fazer as coisas próprias da idade, como brincar de boneca, empinar pipa e jogar futebol.
Inspirada na família, a adolescente Maria Rita abriu o coração e as portas de sua própria casa para receber mendigos e doentes. Sua residência ganhou o nome de “Portaria de São Francisco”.
A vocação de cuidar dos pobres veio acompanhada do ardente desejo pela vida religiosa. Aos 18 anos, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, na cidade sergipana de São Cristóvão. Ao receber o hábito de freira, Maria Rita adotou o nome de sua mãe, passando a ser chamada de Irmã Dulce.
Na congregação, iniciou como professora, mas a sala de aula ainda não era o campo de atuação a que se sentia chamada. Dois anos depois, Irmã Dulce começou a dar assistência a uma comunidade muito pobre em um conjunto de palafitas (barracos de madeira fincados na maré), na região de Alagados, em Salvador.
De caráter ousado e empreendedor, fundou o Círculo Operário da Bahia, mantido com a arrecadação de três cinemas que ela e um sacerdote construíram por meio de doações. Em 1939, inaugurou o Colégio Santo Antônio – escola pública dedicada aos operários e seus filhos.
Além de empreendedora, era visionária: não esperava as melhores condições para dar início às suas inspirações. Num velho galinheiro ao lado do convento, abrigou os primeiros 70 doentes recolhidos das ruas de Salvador. O ato foi o embrião das Obras Sociais de Irmã Dulce, que viriam a nascer 10 anos depois da procura por um lugar para abrigar os necessitados. A instituição se tornou um dos maiores complexos de saúde do país, com 100% de atendimento pelo SUS. Atualmente, a organização está distribuída em 21 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica, Ensino em Saúde, Educação e na preservação e difusão da história de sua fundadora.
Indicada para o Prêmio Nobel da Paz e carinhosamente chamada de “Anjo Bom da Bahia”, Irmã Dulce encerrou sua missão na terra no dia 13 de março de 1992. Foi beatificada em 22 de maio de 2011 e sua canonização será no próximo dia 13 de outubro, presidida pelo Papa Francisco, no Vaticano.
A partir desse dia, a pequena Maria Rita passará a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres. A data litúrgica será no dia 13 de agosto.
Da Bahia para os altares do mundo. A freira indicada ao Prêmio Nobel da Paz é causa de alegria e admiração dos próprios conterrâneos, que se sentem honrados e bem representados por alguém que dedicou sua vida ao bem dos pobres.
A freira baiana trazia no sobrenome uma marca de seu caráter: Pontes. E talvez a maior delas tenha sido aquela construída sobre o grande abismo da desigualdade, e que deu acesso aos menos favorecidos da sociedade a uma vida digna.
“Se fosse preciso, começaria tudo outra vez do mesmo jeito, andando pelo mesmo caminho de dificuldades, pois a fé, que nunca me abandona, me daria forças para ir sempre em frente.” (Ir. Dulce)
Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!
* Catarina Jatobá é missionária da Comunidade Canção Nova, jornalista e apresentadora do jornal Canção Nova Notícias – 2ª edição.