Deborah Wright foi uma das primeiras mulheres a romper o teto de vidro e, aos 38 anos, tornar-se CEO de uma multinacional. Única entre os melhores executivos de 1995 da revista Exame, passou quase metade dos seus mais de 30 anos de carreira à frente de multinacionais como Kraft Suchard Foods, Kibon, Tintas Coral e Parmalat.
Deborah falou para platéias de mais de mil pessoas, conheceu políticos e executivos renomados, comeu nos restaurantes mais estrelados, degustou os vinhos mais exclusivos. Trabalhava, em média, 12 horas por dia. Filha de pai inglês e mãe de origem escocesa, recebeu educação esmerada e formou-se em 1979 entre os melhores da Escola de Administração de Empresas da FGV-SP.
“Fui forjando o caminho e pagando o preço”, conta. Na falta de referência feminina, adotou o modelo masculino de liderança para transitar no mundo corporativo. Como expressar emoções era sinal de fraqueza, ela engolia o choro. Deixou uma empresa para assumir nova posição em outra aos 8 meses de gravidez. Lutou para equilibrar maternidade e carreira, cabeça e coração. Em fase de amamentação, estremeceu ao ver o leite vazar na roupa, pouco antes de uma reunião. O preço foi alto: um câncer e um burnout.
Os chefes de sua geração, ela conta, eram rígidos e disciplinadores. Por isso considera extraordinária a transformação em curso nas empresas, acelerada pela deterioração da saúde mental coletiva durante a pandemia, a fim de abrir espaço para a vulnerabilidade. Na contramão do seu tempo, construiu um modelo de gestão solidário e inclusivo. Aprendeu cedo a jogar limpo, a criar um clima de respeito entre as pessoas e a trabalhar em equipe.
O fracasso também lhe ensinou algumas lições, como lidar com a dificuldade de negociar salário e benefícios. Levou dois anos para descobrir que ganhava a metade do seu colega, no primeiro emprego. Por isso, diz, toda executiva deveria fazer curso de negociação para aprender a precificar melhor o seu valor.
Numa narrativa recheada de histórias saborosas, ela conta em “Senhora de Si” que, hoje, o que alimenta sua alma é contribuir com a causa da Governança, como em questões de diversidade, inclusão e equidade, movimento que também protagonizou no Brasil e hoje está no foco de sua atuação no Conselho do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Se entusiasma com os resultados: “Das empresas listadas na B3, 68% têm mulheres no conselho! Há ainda um longo caminho a percorrer para se atingir a equidade, mas o progresso é inegável. Acredito em celebrar as vitórias, para depois arregaçar as mangas e voltar à carga!”
Casada há 34 anos, com uma filha, dois enteados e uma neta, Deborah se considera uma eterna aprendiz, grata pelas oportunidades – assim como pelos obstáculos.