Em sua vitoriosa e “dolorosa” carreira de ultramaratonista, aquele que corre provas longas, de 100 até mais de 200 km ininterruptamente, o santista Valmir Nunes (Memorial) está acostumado a superar limites físicos e psicológicos, quebrar recordes, fazer história. Já conquistou as maiores e mais duras corridas do Mundo. Foi bicampeão mundial dos 100 km, tem uma das melhores marcas de todos os tempos na distância e é o recordista das Américas nas 24 horas, com nada menos que 273,8 km percorridos no período.
Entre os títulos mais emblemáticos, destaque para a “temida” Badwater, nos Estados Unidos. Considerada a corrida mais difícil do Mundo, tem 217 km no Deserto do Vale da Morte, com a temperatura chegando a passar dos 50 graus, além de um relevo acidentado indo de menos 85 metros do nível do mar até 4.421 metros de altitude, numa subida duríssima no trecho final do desgastante percurso. Logo em sua estreia na disputa, em 2007, Valmir venceu e ‘pulverizou’ o recorde em quase duas horas, com 22 horas 51 minutos e 29 segundos, tempo ainda não superado.
Agora, oito anos depois, o supercampeão das ultramaratonas retorna à prova. O motivo principal é a comemoração de seus 25 anos correndo provas de longa distância, mas para ele a justificativa é mais simples para voltar a encarar tamanho desafio: “Deu saudades. É um lugar especial pelo silêncio e beleza”.
A mais difícil corrida do Mundo, realizada próxima a Las Vegas, terá largada no dia 28 de julho, em pleno verão norte-americano. Neste ano, o início da disputa será às 23 horas (antes era às 10 horas), evitando o desgaste profundo do calor desértico. “Foi proibido passar no Vale da Morte durante o dia. Assim o meu recorde da Badwater continuará”, afirma.
Apesar da mudança na regra, ele sabe que, a situação ainda exigirá muito. “Desta vez, estarei com 51 anos. Não sei se vou melhorar o meu tempo. Em uma ultra tudo pode acontecer. E agora estarei correndo com a minha segunda cirurgia no pé. Em 2007, era só uma”, argumenta.
Com o calor absurdo, o cansaço extremo, o físico e o psicológico são exigidos à exaustão, mas Valmir lida muito bem com isso. “O físico e o mental formam um conjunto em qualquer situação da vida”, diz o atleta, que terá uma preparação curta se for considerada a dimensão da Badwater. Como faz habitualmente, treinou nos morros e praias de Santos e, desta vez, viajará dez dias antes para o deserto para adaptação.
“A minha preparação foi menor, devido ao cansaço que senti de correr as 24 Horas Croatan, em novembro, e depois a 100 milhas Coldwater, em janeiro, e a 100 milhas Graveyard. Na Coldwater, senti problemas físicos e tive de abandonar e fui parar no hospital por falta de hidratação. De lá para cá, tive que restaurar meu físico e mente. Tenho me sentido mais forte”, comenta.
Na Badwater só participam atletas convidados. Não há pontos de apoio ou hidratação e o uso de fluidos intravenosos desqualifica o competidor. Cada corredor tem de contar com a sua equipe própria e veículo, responsável por todas as necessidades, como água, gelo, alimentação, ritmo e primeiros-socorros. “Terei seis pessoas me ajudando. É uma prova muito dura e, apesar da largada ser de noite, serão 24 horas de calor e secura”, revela Valmir Nunes, que junto com a Memorial tem os patrocínios da Fupes e ‘The Right Stuff’. “Que é a bebida da Nasa”, destaca.
GRANDES RESULTADOS – Junto à Badwater, o ultramaratonista santista tem uma verdadeira coleção de títulos em provas que poucos humanos conseguem completar, quanto mais vencer, sendo um dos mais premiados do Mundo. São mais de 30 conquistas internacionais, como o bicampeonato mundial dos 100 km em 1991, na Itália, e 95, na Holanda (onde garantiu o recorde de 6h18min09s). Outra grande vitória foi em 2001, na Spartathlon, com incríveis 246 km, na Grécia.
Também estabeleceu o recorde das Américas em 24 horas, com nada menos que 273,8 km percorridos em Taiwan, em 2003. A lista de títulos é grande e inclui o bicampeonato na Prova Pico Subida de Veleta, na Espanha, com 50 km só de subida íngreme. Mais recentemente, outras duas conquistas importantes também nos Estados Unidos, em corridas de 100 milhas, mas desta vez ao invés do calor extremo, o gelo: Em 2010 e 2011, vitória e recorde na Winter 100 Miler & 24 Hour Ultra Marathon, embaixo de neve, sendo a segunda vez a 20 graus negativos.
Quando vai parar de correr? Essa é uma pergunta que nem ele mesmo consegue mais responder. Já chegou a planejar a aposentadoria, mas movido a desafios, sempre encontra um novo estímulo a enfrentar o que o move: dificuldade, superação de limites. “São 25 anos sempre com o apoio da Memorial, do Pepe Altstut, que entende, conhece e respeita muito o esporte. Talvez, sem essa parceria, já teria parado”, completa.
Fonte: FMA Noticias