“A arte pode ser qualquer coisa desde que o artista diga que sim.”. Icônica frase de Marcel Duchamp, artista francês tido como o mestre da ideia de ready made como objeto de arte, transportando com audácia elementos da vida cotidiana para o universo desbravador das artes. E desse intercâmbio de ideias surgiu a exposição coletiva Manifesto Tramas das Artes, promovida com muita expertise e alma avant-garde pela By Kamy para a 7ª edição do Design Weekend (DW!), de 27/08 a 15/09, em São Paulo.
Sob a curadoria da psicóloga e escritora carioca Daniella Bauer, que reuniu peças de artistas consacré como Niobe Xandó, Gilvan Samico, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, transportadas para tapeçarias e arazzos de artistas contemporâneos como Luisa Editore, Mónica Millán e Nicole Tomazi, que desenvolveram trabalhos exclusivos para o mesmo suporte, em um contexto híbrido totalmente novo. A exposição, que promove a transição entre o design têxtil e a arte contemporânea, mostra um novo ideal sobre a arte em uma sociedade volante e volúvel.
Movida pela pergunta que não quer calar, o que é arte? Daniella mergulhou com maestria no universo único e particular de produções artísticas e em seu mercado esférico para trazer à tona essa resposta. “A arte é uma maneira de traduzir e manifestar o que compreendemos ou não, o que enxergamos, sentimos, tocamos, cheiramos, escutamos ou intuímos o que nos revolta, o que nos cala, o que precisa ser dito. Ela é acima de tudo um modo de quebrar paradigmas e estabelecer o novo.”, expressa a curadora.
De acordo com Daniella, seria purismo crer que a arte possa simplesmente ser, pois nada é desprovido de significado. “Aquilo que é aparente está em constante transformação, portanto cabe aos artistas atribuírem significados, materializar a ideia, dar corpo ao que é etéreo. O mundo contemporâneo exige uma transfiguração constante e uma capacidade adaptativa inesgotável. Em consonância a isso, a By Kamy tenciona, unindo as duas artes, estabelecer um novo modelo que a princípio pode causar desconforto, mas indubitavelmente trará mudanças em acordo com o tempo atual.”, explica Daniella.
O manifesto
Como no Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade, que foi peça fundamental para a primeira fase modernista no Brasil, a ideia era reforçar a ruptura das produções artísticas do período, que chocaram por fugir completamente da estética europeia tradicional que até então influenciava os artistas brasileiros.
Encabeçado por ícones como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, que já era considerada um dos grandes pilares do modernismo brasileiro, a Semana de 22, defendia o novo e uma nova escola artística.
A frente de seu tempo, em 2017, a By Kamy fez sua primeira parceria para a realização de obras selecionadas de Tarsila em tapeçarias inéditas da mais alta qualidade.
Dando prosseguimento a esse trabalho, a mostra “Manifesto Tramas das Artes” propõe duas parcerias: a primeira dará prosseguimento a fértil união com as obras de artistas falecidos e consagrados, que serão produzidas com o rigor técnico e cuidados necessários para manter a fidedignidade dos originais. A segunda parte dessa exposição será inovadora, um pequeno grupo de artistas contemporâneos com o propósito de produzir obras inéditas no suporte tapeçaria e arazzo.
Devido à maturidade poética e de vanguarda do grupo e da By Kamy, será possível mergulhar nesse universo de impressões, que guarde vestígios de presença, com os vazios marcados pelo papel, preenchidos na tecitura dos fios tramados.
Tecitura e história
Kamyar Abrarpour, CEO da By Kamy, trabalha há mais de 40 anos com o comércio de tapetes. De origem iraniana, continuou seguindo a tradição de sua família: apaixonado pelo universo da arte têxtil e do trabalho manual, Kamy aplica hoje em sua empresa, além de toda a sabedoria desenvolvida ao longo das gerações com os negócios de sua família, também o “know-how” que detém sobre gestão empresarial e finanças.
Consolidada como a principal grife de tapetes do país, por meio de um trabalho sólido, destinado às pesquisas de novas técnicas, materiais, ideias, cores e texturas, a By Kamy apresenta consistência do começo ao fim, perpassando por todas as etapas do processo, desde a criação, pesquisas de materiais e fontes, confecção, comunicação, estratégia de venda, serviços até chegar ao consumidor final.
By Kamy não se limita apenas a uma loja física, mas consiste em abarcar todos os pontos, tanto pela estrutura fabril, de ateliê, galpão, estoque, quanto aos departamentos de gestão empresarial, financeira e internamente com o setor próprio de marketing. A marca estabeleceu-se como referência não somente para o mercado de tapetes, mas para uma vertente geral especializada em arte, decoração e tendências no Brasil. O seu foco atual, e já em andamento, encontra-se na busca por ampliar horizontes mundo a fora!
Um produto como o tapete normalmente se limita à beleza da composição, porém, para a marca existe a necessidade de ir além: mostrar o que está por trás de suas linhas e estampas, como técnicas e conhecimentos que envolvem habilidade, intuição e sensibilidade, conectando design e criação. A qualidade e originalidade das peças endossam a dedicação dos empresários Kamyar Abrarpour e Francesca Alzati, Diretora Criativa, à frente de todos os processos. Cada produto possui a alma da empresa e sua filosofia de vida. “Podemos observar mudanças em todos os lugares do mundo, especialmente em relação à originalidade das criações. O mercado desafia o novo, o diferente. Essa é a alma do design”, explica Francesca.
O processo de criação das peças permite a incorporação de elementos abstratos inspirados no contemporâneo, na individualidade, no expressionismo e na vanguarda. Assim como admite a influência global em um senso coletivo representado em seus produtos. A marca By Kamy produz mundo a fora! A procura por hábeis tecelões, o respeito pelo trabalho manual e conhecimento de técnicas milenares espalhadas pelos continentes é o que encanta Francesca: “o mundo é a nossa fábrica”.
Artistas e obras
Niobe Xandó
Niobe Xandó descende de mineiros de Baependi e de fundadores das cidades paulista de Assis e Botucatu. Nasceu na antiga Vila da Boca do Sertão do Avanhandava, Capela de Nossa Senhora dos Campos Novos de Paranapanema e viveu a infância e a adolescência no interior do Estado, mudando-se para a capital em 1932.
Em 1947 conheceu os pintores Takaoka, Newton Santana e Geraldo de Barros, quando frequentava o ateliê do artista e professor Raphael Galvez. Pensando inicialmente na escultura, foi incentivada por esse grupo a desenhar e a escrever algumas crônicas.
Entre 1948 e 1952 participou de mostras coletivas que já foram definindo e reforçando suas predileções pelo desenho e pela pintura. Sua primeira individual foi em 1953, na Livraria das Bandeiras.
Retornou à Europa em 1968, passando por Paris, Londres e Estocolmo, voltando ao Brasil em 1971. Nesse novo período europeu, criou um círculo de amizades e conhecimentos com os brasileiros que moravam nessas cidades, além de artistas e intelectuais locais, bem como daqueles que, de passagem por essas cidades, estiveram presentes em suas exposições.
Entre 1972 e 1980 fixou-se em São Paulo, produzindo intensamente e, das suas viagens ao exterior, aquela que seria a última, levou-a a morar em Nova York por 6 meses, em duas ocasiões, em 1981 e 1983, depois retornando para São Paulo em definitivo.
No ano 2000 foi convidada para o módulo “Arte Afro-Brasileira” da “Mostra do Redescobrimento”. Em 2001, com a mesma “Mostra”, teve obras expostas no Convento das Mercês, em São Luís do Maranhão. Nesta atual mostra do MAM de São Paulo, pela primeira vez, comparece com obras dos períodos do Letrismo e do Mecanicismo, movimentos pouco conhecidos e discutidos.
Teve uma grande retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2007, e uma mostra antológica, em 2008, no Museu Oscar Niemeyer de Curitiba. Com várias outras exposições coletivas após esse período teve a obra representada, no Repertório da SP-Arte, em 2017 e, na Galeria Berenice Arvani de São Paulo integrou a exposição sobre os artistas do grupo do crítico Theon Spanudis, em 2018.
Gilvan Samico
O pintor, desenhista e gravador Gilvan José de Meira Lins Samico (1928-2013) começou a sua carreira artística no início de 1950, quando era um membro da “Sociedade de Arte Moderna do Recife”. Participou do “Atelier Coletivo” de Recife, movimento que buscava engrandecer a arte popular e a figura humana de Nordeste do Brasil.
Samico estudou xilogravura com Lívio Abramo. Na Escola de Artesanato do MAM-SP em 1957 e no ano seguinte gravura com Oswaldo Goeldi na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. A partir dos anos 60, afastou-se do expressionismo de Goeldi para encontrar novos rumos.
Por sugestão do multiartista Ariano Suassuna (1927-2014), voltou-se para os temas do Cordel, a arte dos panfletos vendidos na rua, em feiras, mercados e praças do Nordeste, que combinam três formas de arte: as narrativas poéticas, a xilogravura nas capas e a sonoridade de seus versos cantados, acompanhados por instrumentos como a viola o violino. Samico criou suas figuras e cenas fantásticas e míticas a partir das histórias de Cordel.
Participa então da Bienal de Paris em 1961, e em 62 é premiado na 31ª Bienal de Veneza. No Rio de Janeiro também passa a ser premiado consecutivamente nos mais importantes eventos da cidade, recebendo em 1968 o prêmio do 17º Salão Nacional de Arte Moderna (SNAM) que o leva a permanecer por dois anos na Europa.
Em seu retorno ao Brasil e a Pernambuco, é convidado por Ariano Suassuna a integrar o Movimento Armorial, do qual é um dos maiores expoentes. Nos anos 80 a 90 integra o Atelier Coletivo de Olinda, movimento liderado pelo mítico marchand Giuseppe Baccaro.
Sua arte vai paulatinamente se afastando do Armorial, até encontrar nas suas últimas décadas expressão mais autoral, com base em lendas indígenas e do romanceiro popular. Em Olinda vive e produz até seu falecimento em razão de câncer em 2013.
Di Cavalcanti
Di Cavalcanti (1897-1976) nasceu no Rio de Janeiro, no dia 6 de setembro de 1897. Com 17 anos, já fazia ilustrações para a revista Fon-Fon. Em 1917, mudou-se para São Paulo, onde iniciou o curso de Direito na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Neste mesmo ano, fez sua primeira individual para a revista “A Cigarra”.
Em 1919, ilustrou o livro “Carnaval” de Manuel Bandeira. Em 1922, idealizou junto com Mário de Andrade e Oswald de Andrade, a semana de Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, onde elaborou a capa do catálogo e expôs 11 telas.
Di Cavalcanti mudou-se para Paris, em 1923, como correspondente do jornal Correio da Manhã. De volta ao Brasil, em 1925, foi morar no Rio de Janeiro. Em 1932, fundou o Clube dos Artistas Modernos, junto com Flávio de Carvalho, Antônio Gomide e Carlos Prado. Em 1934, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Nesse mesmo ano mudou-se para a cidade do Recife.
Simpatizante das ideias comunistas, foi perseguido pelo governo de Getúlio Vargas. Voltou para a Europa, onde permaneceu entre 1936 e 1940. O pintor adquiriu experiência expondo seus trabalhos em galerias de Bruxelas, Amsterdã, Paris, Londres, onde conheceu artistas como Picasso, Satie, Léger e Matisse.
Em 1951, participou da Bienal de São Paulo e doou seus desenhos ao MAM- Museu de Arte Moderna. Em 1953, recebeu o prêmio de melhor pintor nacional, na II Bienal de São Paulo. Em 1954, O MAM do Rio de Janeiro fez uma retrospectiva de sua obra.
Em 1955, publicou o livro “Memórias de Minha Vida”. Em 1956, recebeu o prêmio da mostra Internacional de Arte Sacra de Trieste, na Itália. Em 1958, elaborou a tapeçaria para o Palácio da Alvorada e pintou a Via Sacra da catedral de Brasília.
Em 1971, expôs uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, morreu no Rio de Janeiro, no dia 26 de outubro de 1976.
Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral (1886-1973) foi uma pintora modernista brasileira. Nasceu na Fazenda São Bernardo, no município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha de família tradicional e rica estudou em São Paulo no Colégio de Freiras e no Colégio Sion. Completa seus estudos em Barcelona, na Espanha, onde pintou seu primeiro quadro, “Sagrado Coração de Jesus”, aos 16 anos.
Em 1916 começa a trabalhar no ateliê de William Zadig, escultor sueco radicado em São Paulo. Com ele aprende a fazer modelagem em barro. Em 1920 vai para Paris, onde estuda na Academia Julian, escola de pintura e escultura.
Tarsila tem uma tela sua admitida no Salão Oficial dos Artistas Franceses em 1922. Nesse mesmo ano regressa ao Brasil e se integra com os intelectuais do grupo modernista. Faz parte do “Grupo dos Cinco”, juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia. Embora não tenha sido participante da “Semana de 22” integra-se ao Modernismo. Volta à Europa em 1923 e mantem contato com os modernistas que lá se encontravam, são intelectuais, pintores, músicos e poetas.
Inicia sua pintura “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente brasileiros. Em 1925 ilustra o livro “Pau-Brasil” de Oswald de Andrade. Em 1926 expõe em Paris, obtendo grande sucesso. Em 1928 pinta o “Abaporu” para dar de presente de aniversário para o seu marido Oswald de Andrade que se empolga com a tela e cria o “Movimento Antropofágico”.
Em 1929 expõe individualmente pela primeira vez no Brasil, no Palace Hotel em São Paulo. Em 1933 pinta o quadro “Operários” e dá início à pintura social no Brasil. No ano seguinte participa do I Salão Paulista de Belas Artes.
Nos anos 50 volta ao tema “Pau Brasil”. Em 1951 participa da I Bienal de São Paulo. Em 1963 tem uma sala especial na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte tem participação especial na XXXII Bienal de Veneza.
Tarsila realiza em 1970, no Rio de Janeiro e depois em São Paulo, uma retrospectiva, “Tarsila: 50 anos de Pintura”. Recebeu o prêmio “Golfinho de Ouro”, em 1971. Tarsila do Amaral faleceu em São Paulo, no dia 17 de janeiro de 1973.
Luisa Editore
Artista chilena radicada em São Paulo. Nasceu em Santiago, no Chile, em 1953. É graduada em Desenho Têxtil pela “Universidad de Chile”.
Luisa Editore tem desenvolvido nos últimos anos uma linguagem ancorada no exercício da pintura e no crescente interesse por todas as etapas de produção dessa pintura. Cria imagens geométricas usando fita adesiva para demarcar os campos que receberão a tinta.
O descarte posterior dessas fitas é usado em outros suportes como em colagens de cartões. Cria uma espécie de sistema, onde todo o material é aproveitado e aplicado. Compõe espaços por justaposição de linhas e grades, com deslocamentos modulados pelas espessuras das fitas adesivas.
Apesar da sua natureza abstrata, percebemos referências à representação da arquitetura e ao automatismo dos processos da própria pintura. Expõe com frequência no Brasil e no exterior. É representada pela Galeria Oscar Cruz.
Mónica Millán
Mónica Millán nasceu em San Ignacio, Buenos Aires, Argentina em 1960. Completou seus estudos em desenho e pintura no Instituto Superior Antonio Ruiz de Montoya. Recebeu bolsas da Fundação Antorchas, do Fundo Nacional para as Artes, da Fundação Rockefeller e da Fundação Telefónica.
Em 2000, obteve a bolsa Trama para participar de oficinas de análise e confronto de obras. A partir de 1997, coordenou curadorias e seminários de arte no nordeste da Argentina.
Desde 2002, trabalha no Paraguai com uma vila de tecelões, assessorada pelo crítico de arte Ticio Escobar, fundador e diretor do Museu de Arte Indígena do Centro de Artes Visuais de Assunção.
Seu trabalho de recuperação, identificação e recriação de tecidos tradicionais permitiu-lhe gerar uma ligação muito fértil entre a criação artística, o artesanato popular e a linguagem plástica.
Entre suas últimas exposições individuais destacam-se: El rio Bord(e)ado, Spanierman Modern Gallery, New York (2007) Llueve etc. Ela também participou das seguintes exposições coletivas: Pampa, ciudad y suburbio, Espacio Imago, Fundación OSDE, Buenos Aires (2007), Pintura sin pintura (2005), Centro Cultural de España CCEBA, Buenos Aires entre outras.
Nicole Tomazi
O forte vínculo com o território, a cultura local e a ancestralidade são a base de seu trabalho e da sua pesquisa pessoal. Atua unindo o design e a produção artesanal desde 2007, por meio do desenvolvimento de peças autorais na sua marca Oferenda Objetos.
Seus produtos foram expostos internacionalmente no Salone Satellite (2010, 2012 e 2013) e Fuori Salone 2009 e 2015.
Vencedora do Prêmio Planeta Casa 2012, finalista do Salone Satellite Award 2012 e 2013 e vencedora do Prêmio Bradesco Private Bank MADE de Design e Arte 2018, suas criações surgem de suas inquietudes e curiosidades.
Mestre em Design com pesquisa voltada ao território e cultura, atualmente desenvolve projetos voltados ao design territorial, peças de autoprodução para sua marca e também projetos para indústrias nacionais.
Serviço:
Exposição Manifesto Tramas das Artes
Data: 27/08 a 15/09
Horário: Segunda a sexta, das 10h às 19h; Sábado das 10h às 17h e Domingo das 10h às 14h
Entrada: Gratuita
Endereço: By Kamy Maison – Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1147, São Paulo – SP
www.bykamy.com.br
(11) 3081-1266