Com o objetivo de promover um chamado global para as evidências da emergência climática escancaradas a partir da desafiadora realidade vivenciada no Pantanal Mato-Grossense ao longo dos últimos quatro anos, entre fevereiro e junho de 2025 o Documenta Pantanal levará ao público de dois países da Europa, Alemanha e Portugal, a impactante seleção de 80 fotografias que compõem a exposição-manifesto Mudança Climática: Água Pantanal Fogo.
Originalmente intitulada Água Pantanal Fogo, a mostra foi apresentada ao público paulistano em 2024 e impactou mais de 15 mil visitantes do Instituto Tomie Ohtake. Com curadoria de Eder Chiodetto, a exposição reúne 40 imagens de Luciano Candisani e 40 de Lalo de Almeida, dois dos mais respeitados fotodocumentaristas do país, estabelecendo contrastes sobre vida e morte nesse ameaçado bioma.
Agora renomeada Mudança Climática: Água Pantanal Fogo, entre 6 de fevereiro e 6 de abril de 2025 a exposição será um dos destaques da programação do Museu Internacional Marítimo de Hamburgo, na Alemanha. A partir de 19 de abril a itinerância segue para Lisboa, em Portugal, e permanecerá em cartaz até 25 de junho de 2025 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência.
“Ao levar Mudança climática: Água Pantanal Fogo a Hamburgo e Lisboa começamos a realizar o desejo de ecoar esse grito de alerta até mais longe. Com forte influência sobre o clima brasileiro e sul-americano, o Pantanal é também paradigma de uma urgência que diz respeito a todos nós que vivemos nesse planeta. Mais do que defender a necessidade óbvia de conservar nossos patrimônios naturais, nos interessa convocar públicos do mundo inteiro a tomar consciência da gravidade da crise climática em que nos vemos e a pensar no que é preciso fazer para contê-la”, advertem Mônica Guimarães e Teresa Bracher, coordenadoras do Documenta Pantanal.
Contrastes e diálogos
Registradas ao longo dos incêndios que assolaram o Pantanal em 2020 e também produzidas em 2024, as fotos de Lalo de Almeida são um testemunho da devastação do bioma. Com impactante poder de síntese e denúncia, as imagens circularam globalmente, alertando a sociedade, a comunidade científica, o governo brasileiro e organizações internacionais para a necessidade de esforços coletivos de preservação. Intitulada Pantanal em Chamas, a série de dez fotos registradas em 2020 conferiu a Lalo o prestigioso prêmio World Press Photo na categoria Meio Ambiente.
“Por mais que nossas imagens fossem antagônicas – ou seja, as fotos do Luciano mostram a exuberância e a beleza do Pantanal, a relação dos bichos com a água, enquanto meu trabalho tem um aspecto trágico que mostra as consequências da degradação causada pelo homem –, a curadoria do Eder fez com que as fotos conversassem muito bem. Nesse sentido, a exposição tem um caráter didático, como um manifesto para chamar a atenção das pessoas não só sobre o que é o Pantanal e suas belezas, mas, também, sobre as ameaças que rondam o bioma”, defende Lalo.
Especializado em fotografar ecossistemas ao redor do mundo e capturar imagens subaquáticas, Candisani traz no conjunto de 40 fotos apresentado na mostra um retrato da imponência da água na maior planície alagável do planeta, seja por meio de fotos submersas, terrestres ou aéreas. Caracterizadas por uma rara combinação de excelência técnica e expressividade, as imagens registradas por ele foram produzidas em condições complexas durante as cheias pantaneiras, enfrentando adversidades que o fotodocumentarista vem perseguindo nas últimas três décadas.
“Meu trabalho nasce de uma motivação criativa e uma ligação muito forte com a natureza, especialmente com a água, e adotei a ferramenta da fotografia para registrar esse meu interesse explorando, principalmente, o ambiente aquático submarino. Hoje, tenho mais de 30 anos de uma jornada de busca de interpretações, narrativas visuais e temas que são fundamentais para mim, especialmente a conservação dos grandes espaços naturais remanescentes, como é o caso do Pantanal”, explica Candisani.
Assombrado com as imagens que chegavam sobre os incêndios criminosos que devastaram o Pantanal em 2020, Eder Chiodetto acompanhava o trabalho de fotógrafos entrincheirados no fogo que consumia o bioma quando foi impactado pela urgência das fotos então registradas por Lalo de Almeida. Fato que coincidiu com a chegada às mãos do curador de um novo livro de Luciano Candisani, Terra D’Agua Pantanal (editora Origem, 2022), que retrata dez anos de expedições fotográficas no bioma. A ideia de contrapor os dois conjuntos de imagens foi o estopim para que Chiodetto, com seu olhar atento, idealizasse a mostra Mudança Climática: Água Pantanal Fogo.
“Luciano e Lalo são cronistas visuais que frequentemente buscam parcerias com cientistas e pesquisadores. Para obter o resultado exposto nessa mostra eles criaram logísticas complexas e se expuseram a vários tipos de perigo. É em trabalhos como esses, que aliam idealismo, paixão e militância, que a fotografia alcança seu ápice, tornando-se uma janela aberta a revelar as idiossincrasias e o sublime do mundo. A justa medida do encontro dos dois nos mostra não só a pulsão de morte e a pulsão de vida, mas, sobretudo, o quanto a gente pode trabalhar como sociedade para repensar o que estamos fazendo com o planeta”, avalia Chiodetto.