Agindo de forma reativa, enlaçado pela corrupção parlamentar, premido pela onda obscurantista e pela crise internacional, o governo Lula ruma para o colapso. Cabe reagir sem demora.
Eleito pela mobilização contra a extrema-direita, Lula não exibiu proposições claras e consistentes. Prometeu extinguir o teto de gastos, incluir o pobre no orçamento, rever a reforma trabalhista, valorizar o serviço público, garantir gasolina barata, reestatizar a Eletrobrás e botar picanha e cerveja na mesa do povo.
Mas prendeu-se ao fiscalismo ao gosto dos banqueiros. Estabeleceu meta de inflação inalcançável, argumento para o Banco Central elevar a taxa de juros. Essa camisa de força inviabiliza o bom serviço público, inibe investimentos produtivos e o atendimento aos mais pobres.
Crescimento do PIB, do emprego e da renda não bastam à sociedade. O corte de gastos resultante da obsessão fiscal fomenta a desesperança.
O preço da comida, a insegurança pública, a dificuldade de locomoção e a carência de moradia frustram as expectativas do povo.
A sociedade não mais distingue quem defende o avanço de quem defende o atraso. Práticas parlamentares execráveis são universalmente praticadas, nos moldes das oligarquias carcomidas.
A degringolada institucional é evidenciada quando militares insurretos ficam impunes e juízes são vistos como derradeiros baluartes da democracia.
A ordem mundial se despedaça, mas o governo não se livra dos tentáculos de Washington. Assiste passivo à ruína da convivência sul-americana. Deixa livre o ativismo da extrema direita turbinado pelas novas mídias. A devastadora crise do PIX, conduzida de fora, exemplifica como a sociedade está exposta.
Lula deve preservar sua liderança. As forças democráticas precisam escapar das armadilhas que criaram para si.
Como agenda positiva, sugerimos:
1. Fim da escala 6×1. Jornada de trabalho reduzida para quarenta horas.
2. Isenção do imposto de renda para ganhos até R$ 5 mil/mês.
3. Taxação das grandes fortunas, dividendos e altas rendas.
4. Cobrança de tributos para a exportação de produtos primários e semielaborados.
5. Reforma agrária, amparo à cesta básica, incentivos à agricultura familiar e retorno de estoques reguladores da oferta de alimentos.
6. Tratamento prioritário à transição energética conjugada à defesa ambiental.
8. Reforma penitenciária, criação do SUSP e controle da violência policial epidêmica.
9. Priorização da integração sul-americana, com destaque para projetos de desenvolvimento e defesa ambiental.
10. Supressão de operações de garantia da Lei e da Ordem, nova concepção de Defesa Nacional e reformas nas organizações militares.
Para mudar a correlação de forças, cabe atitude. Novos rumos são urgentes e indispensáveis para deter a regressão. Reavivemos a esperança.
*Ana Hollanda, Roberto Amaral, José Gomes Temporão, Luiz Eduardo Soares, Manuel Domingos Neto e Gilberto Maringoni