Embora bastante jovem – se comparado a países europeus – o Brasil tem crescido no segmento científico sendo a maior referência latino-americana contemporânea. Segundo o CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico são mais de 40542 doutores em atividade registrados e certificados através do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, números esses indesejáveis na perspectiva de que os dados científicos são basilares para contribuição efetiva de ações a serem tomadas.
Os parâmetros para transformação são evidentemente indissociáveis quando a temática é a pesquisa científica. A proporção de países com o maior número de doutores demonstra que esse percentual reverbera assertivamente no resultado estatístico-mundial apresentando o diferencial que tanto se almeja em países como os nossos da América Latina. Nota-se que os países de maior economia no mundo possuem largo grupo de pesquisadores doutores em atividade nas diversas universidades e centro de pesquisas.
Ainda sobre essa missão sem destino ideal de chegada a UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas divulgou algumas médias europeias que resvalam nos resultados socioeconômicos de países como a Inglaterra cujo percentual médio é de 41 doutores para cada 100 mil habitantes. Já em Portugal são em média 39,7 doutores e na maior economia da Europa, a Alemanha são 34,4 para cada 100 mil habitantes, enquanto no Brasil, são em média 7,6 doutores para cada 100 mil habitantes. Um dos casos mais baixos na Europa – ainda segundo a UNICAMP – é o da Itália, cuja média de doutores é de 17,5 pesquisadores com doutorado a cada 100 mil habitantes.
A curiosidade é que a soma populacional dos países mencionados quantificam o número da população brasileira, ou seja, Inglaterra, Portugal, Alemanha e Itália computam aproximadamente 205 milhões de habitantes. Hoje, segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – o Brasil abriga 203.080.756 cidadãos sendo, desse montante, 51,5% de mulheres perfazendo o número de 104.548.325 milhões e o quantitativo de 98.532.431 milhões homens, prefigurando 48,5% da população brasileira masculina.
É salutar recordar que o período do início de atividade das universidades dos países supracitados – exceto o Brasil – datam entre 700 (setecentos) a 1000 (mil) anos de fundação e ainda estão em plena atividade, enquanto, por exemplo, a primeira Universidade do Brasil foi fundada em 7 de setembro de 1920 em que o governo federal criou sua primeira universidade: a Universidade do Rio de Janeiro (URJ). Aqui, refiro-me ao conglomerado de Universidade com o conjunto de cursos, pois é sabido que o Brasil teve diversos outros cursos de ensino superior que datam muito antes de 1920, mas corpo universitário-institucional, apenas há pouco mais de 100 anos.
Bastante interessante é que em 1920 o Brasil inaugurava em sua capital – Rio de Janeiro – a primeira Universidade, enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, no mesmo ano, o país estadunidense já possuía 73 universidades em atividade e que historicamente, teve como as suas mais antigas instituições as afamadas Harvard inaugurada em 1636, Yale em 1701 e a universidade da Filadélfia em 1755.
O fato é que por sermos um país bem mais jovem é indubitável a disparidade do progresso embora estejamos entre as vinte maiores economias do mundo, sobretudo, em decorrência da cadeia produtiva alavancada pelo sistema robusto do agronegócio segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) com o apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Nesses meandros, friso que o fomento financeiro é sem dúvida o grande propulsor desses resultados. No desfecho de 2023, por exemplo, a Universidade de São – USP, através do World University Rankings: Latin America & The Caribbean foi considerada a melhor universidade de América Latina no quantitativo de 430 universidades dentre 25 países avaliados entre a América Latina e o Caribe. Notável presumirmos que o Brasil, por também ser a maior economia latino-americana, teria seus méritos e justificativas para correspondência do primeiro lugar do pódio, o que mais uma vez ressalto ser indissociável aos aspectos político-sociais dos países em questão mensurados.
Ainda segundo os dados do CNPQ por meio do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, o Estado de São Paulo possui 6735 pesquisadores doutores dos 40542 registrados na plataforma sendo o estado com o maior número de doutores em atividade em nosso país. Isso se justifica também pelos berços universitários e da maior população de um estado brasileiro com pouco mais de 50 milhões de habitantes segundo o IBGE.
Em se tratando de proporção comparatista nacional, o estado do Rio de Janeiro – segundo o CNPQ – é a unidade federativa com o maior número de doutores ativos no país. Com uma população de pouco mais de 17 milhões de habitantes, de acordo com o IBGE, o estado do Rio de Janeiro possui atualmente 4549 pesquisadores doutores segundo dados do CNPQ por meio do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, sendo portanto, o estado – proporcionalmente – que mais tem pesquisadores doutores em atividade em nosso país, registrando assim, o estado da primeira universidade brasileira o que mais possui pesquisadores doutores em atividade.
Outra temática bastante relevante para este debate é a desigualdade educacional em nossa América Latina. Em incipiente discussão, nota-se que é possível chegarmos a essa média de doutores dos países desenvolvidos, pois desde 2013 – segundo a UNICAMP – o Brasil forma aproximadamente 50 mil mestres por ano em diversas áreas do conhecimento. Ainda segundo a Universidade Estadual de Campinas, esse número mais que dobrou nos últimos dez anos o que demonstra que o país tem valorado profissionais cada vez mais especializados no que tange às temáticas formativo e social.
O segundo ponto desta discussão, o abismo social, dá-se – sobremaneira – pela disparidade educacional das redes pública e privada. Esse prisma aponta que hoje no Brasil as universidades públicas mais concorridas – mesmo com a projeção das cotas – ainda recebe 8 de cada 10 estudantes advindos da rede privada. A dissonância desses dados demonstra também que as graduações menos concorridas nas universidades públicas e boa parte das universidades privadas, recebem públicos muito parecidos, estudantes que precisam trabalhar para complementação da renda familiar e filhos de famílias da classe média baixa que não conseguem investir mais 3 a 5 anos em uma universidade privada ficando a depender, por exemplo, do financiamento governamental.
Ao considerarmos a maturidade brasileira em comparativo às universidades europeias e estadunidenses, nota-se que estamos caminhando bem. A remuneração de mestres e doutores no Brasil estão proporcionalmente mais robustas que muitos cargos de gerência em diversas outras áreas cujo profissional não possui essas formações complementares acadêmicas, o que significa que a formação tem sido – aos poucos – valorada e, sobretudo, reconhecida pelo mercado de trabalho brasileiro.
Nesse ínterim o impasse agora – entendido como missão – é compreender o porquê de grande parte dos mestres do Brasil não sequenciarem as suas carreiras para o doutoramento. Não podemos apenas acatar a questão da falta de incentivo, mas algo que esteja atravessado pela provocação do próprio mercado. Vale salientar que um profissional doutor em período aproximado de 4 anos de pesquisa – a depender do programa de pós-graduação – aprofunda consideravelmente o seu conhecimento acerca daquela temática e, diferentemente do que se dissemina de maneira frívola no mercado, mestrado e doutorado não são apenas para quem almeja lecionar ou seguir a carreira acadêmica, mas – sobremaneira – tornar-se um profissional genuinamente de referência em sua área de atuação imbricado por experiências advindas da bancada de pesquisa universitária.
Para proposição reflexiva, ainda nesse liame crítico, passa a ser interessante analisar que grandes empresas sempre contam com notáveis especialistas para palestrar ou discernir determinadas temáticas para e com os seus colaboradores, estaria por esse caminho, uma das respostas para aliança entre a expertise voluntária do profissional contemporâneo à confluência técnica dos profissionais de berço-acadêmico? Em possível resposta, endosso que a fusão de saberes consequentemente alavancará os índices brasileiros cujos profissionais corresponderão tecnicamente aos bojos de dados e sistematizações tão caras para qualidade do que se entrega profissionalmente.
Com a grande diferença do período de atividades entre o Brasil e os outros países arrolados para este artigo, a educação brasileira tem se destacado internacionalmente por ter conseguido, em tão menor tempo de atividade educacional, apresentar uma crescente de profissionais cada vez mais qualificados pelos revérberos da massa crítica produzida por diversos centro-universitários do nosso país. A inobservância para essa crescente inequívoca – qualitativamente falando – não permitirá que seja vislumbrada a ideia de parcial melhora na desigualdade social considerando que no Brasil, distintamente de outros países, educação e saúde são sistemas públicos e de fácil acesso pela grande maioria dos brasileiros.
A qualificação universitária, bem como os incentivos para a capacitação são preditores para o sucesso de uma nação. Os dados aquilatados neste artigo demonstram o positivo resultado dos países cujos percentuais de pesquisadores são maiores. A produção de conhecimento – logo, da fortuna crítica e assim, especializada – é deveras uma aposta assertiva na formação de um país cujas (des)igualdade e nuances corporativas requerem mudanças como o caso do Brasil. A proposição deste diálogo – a partir deste estudo de caso – é um bom sinalizador de que o investimento no segmento científico é consonante ao progresso de uma nação.
*Fábio do Vale (Colunista desta página) é Doutor e Pós-doutor em Estudos de Linguagens pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, membro efetivo da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, Vice-presidente do CLAEC – Centro Latino-americano de Estudos em Cultura, professor, escritor, poeta e pesquisador. Graduado em Letras e Pedagogia. Coordenador de Pesquisa e Iniciação Científica da Faculdade Insted, membro do NECC – Núcleo de Estudos Culturais Comparados – UFMS. Pós-doutorando na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – USP e, também, pós-doutorando em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Editor-chefe da RECAM – Revista Camalotes periódico científico da Faculdade Insted.
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