Ao aproximar-se mais um ciclo eleitoral no Brasil, partidos políticos e formadores de opinião se põem a discutir os temas que irão compor a agenda do debate público. De fato, uma democracia sadia reclama também o escrutínio dos candidatos e a existência de discussão irrestrita, de modo a englobar a maior parte possível da sociedade e dos itens que atendem ao interesse nacional.
A despeito disso, muita tinta é gasta em torno de questões como a probidade moral de determinados candidatos e o temperamento de outros. Também costumam tomar precioso tempo as digressões acerca de conceitos como “comunismo” e “fascismo”, “esquerdismo” e “conservadorismo”.
Ainda que temas mais pragmáticos também recebam algum espaço (o teto de gastos, o desemprego, a inflação, a harmonia entre os Poderes, os programas sociais etc.), a reflexão estratégica sobre o que realmente importa é escassa. A relativa pobreza do debate leva a crer que todas as energias se consomem nos objetivos de curto prazo (as polêmicas do dia e as eleições da vez), em detrimento dos intentos de longo prazo (as futuras gerações e os destinos do país).
O exemplo mais acabado desse processo é a insignificância para a qual é relegada a educação na agenda eleitoral que se desenha. Se o Brasil fosse referência em educação, compreender-se-ia. Não é o caso, contudo. Faltam políticas sólidas e consenso social ativo em torno da importância do tema.
Ainda que nossos investimentos públicos na área não sejam desprezíveis (em torno de 6% do PIB), os resultados colhidos vêm sendo péssimos há décadas. Logo, fica claro que o problema está na carência de políticas públicas estruturadas, e não no volume de recursos alocados. O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa – maior estudo em educação existente) apontou que o Brasil, considerados os 78 países avaliados, está entre as posições 55 a 59 em Leitura, 69 a 72 em Matemática e entre 64 e 67 em Ciências. Para o mais, 68% dos nossos jovens na faixa etária dos 15 anos não possuem nível básico de Matemática, enquanto 55% não atingem o essencial em Ciências e 50% patinam em Leitura. Ou seja, estamos a “formar” toda uma geração de analfabetos funcionais, que não entende o que lê, não consegue se expressar por escrito adequadamente, é incapaz de realizar operações matemáticas elementares no cotidiano e desconhece os pressupostos da ciência.
No ensino superior, o panorama não é menos desalentador. A universidade brasileira mais bem colocada no QS World University Ranking aparece apenas no modestíssimo 115º lugar. De acordo com a 11ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior e não mais do que 17,4% das pessoas de 25 anos ou mais concluíram uma graduação. A fim de termos um parâmetro, no Canadá esse índice chega aos 62%, enquanto a Argentina, nossa vizinha, alcança 40%.
É por essas e outras que os resultados do estudo desenvolvido pelo IMD World Competetiveness Center (que compara a competitividade e a prosperidade dos países) insere o Brasil na última posição. Como esperar cidadãos cultos e produtivos sem que haja uma educação consistente na base e adesão razoável ao ensino superior de qualidade? Como esperar geração de riqueza generalizada nessas condições? Enfim, como presumir que teremos bons representantes se aqueles que os elegem poucas condições têm de aprimorar a habilidade do discernimento?
Conforme demonstra reiteradamente a Ciência Política, o eleitor típico costuma votar sobretudo com base nas paixões e na imagem projetada pelos candidatos. Mesmo diante de tal realidade, porém, é imperativo que a educação ganhe protagonismo no debate eleitoral de 2022 a fim de que os eleitos, pressionados pelos setores estratégicos da sociedade, assumam compromissos nesse setor. Do contrário, seguiremos pagando o preço como nação, independentemente de quem venha a ocupar os governos do porvir.
*Marcos Paulo dos Reis Quadros, gestor na Estácio. Bacharel em Ciência Política, mestre, doutor e pós-doutor em Ciências Sociais.