Em MS, cerca de 30% dos laticínios fecharam as portas devido aos custos com transporte, alerta dirigente da Agraer

Foto: Néia Maceno/Assessoria

Campo Grande (MS) – Com quase 30% dos laticínios de portas fechadas no Estado, o cenário regional aponta uma situação alarmante na cadeia produtiva do leite sul-mato-grossense. Os dados foram apresentados pela Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), nesta quinta-feira (1º), data em que se celebra o Dia Mundial do Leite, durante o tradicional “Leite da Manhã”. Há quatro anos consecutivos o evento é realizado pela Assembleia Legislativa em alusão a importância da pecuária leiteira no cenário econômico estadual.

Segundo o diretor-presidente da Agraer, Enelvo Felini, dos 70 laticínios, com alguma certificação, 20 estão inativados. “Percebemos que dentro do SIF [Selo de Inspeção Federal] das 20 indústrias que o Estado tem, hoje, 9 estão paralisadas, são 9 de 20. Então é um número muito assustador. O SIE que é a inspeção estadual, de 24 nós temos 7 paralisadas dentro do Mato Grosso do Sul e do SIM [Selo de Inspeção Municipal] de 26 plantas de laticínio, no Estado, temos 4 indústrias paralisadas, que é aquela venda que se faz no município”, afirmou ele que destacou a grande preocupação do governo do Estado e demais entidades envolvidas mediante a situação, “Isso demonstra o grau de gargalos que nós temos dentro da cadeia produtiva. Por isso temos de ser mais agressivos para buscar, comprar e fomentar o leite nas regiões próximas aos laticínios ou vamos ter um desequilíbrio muito forte”.

Para Felini a solução é a redução nos custos com o transporte do produto do curral até os laticínios. “Tem que diminuir o consumo de combustível para buscar o leite. Os laticínios têm de fomentar os pequenos produtores das zonas rurais mais próximas para se inserirem dentro da cadeia produtiva do leite.  Só assim deixaremos de fechar as portas. A Agraer já vem fazendo a sua parte, estamos com técnicos qualificados trabalhando maciçamente com produtores no melhoramento de pastagem e genética do rebanho. Contudo, a interação das empresas é de extrema importância”, garantiu.

Foto: Néia Maceno/Assessoria

O estudo realizado pelo Agraer e Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar) comparou a produtividade sul-mato-grossense com países com extensões territoriais menores que a do nosso estado. “Estamos com um estudo muito profundo e já foi observado que países como Nova Zelândia [268.021 km² de extensão] tem 200 litros leite coletados por quilômetro, enquanto que o Mato Grosso do Sul [357.125 km²] tem, por quilômetro, de 25 a 30 litros a cada dois dias de coleta. Então, a grande lucratividade do nosso leite tem ficado, não tenho dúvida, para o transportador e não para o produtor e nem para a indústria”, afirmou o diretor-presidente da Agraer, Enelvo Felini.

“Estados como Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais têm uma proximidade com o produtor, enquanto nós estamos buscando o produto a 400 ou 300 quilômetros de distância. Estamos buscando esse leite muito longe e esse dinheiro não está indo para o produtor, ou seja, não estamos motivando o pequeno produtor a movimentar a indústria. A Agraer queria deixar isso como alerta para a gente enfrentar o problema e assim reverter esse quadro. O leite é um produto muito importante para a sociedade e o governo quer dar uma grande contribuição para não termos o fechamento de mais indústrias. Isso é muito ruim para o produtor e para a economia do nosso estado”, avaliou Felini.

Para o secretário Ajunto da Semagro, Ricardo Senna, o caminho para ser trilhado é uma política pública bem estruturada para bem atender o pequeno produtor rural com assistência técnica, capacitações e tecnologia. Trabalho que gradualmente vem sendo executado pelo poder público estadual.  “Primeiro que precisamos olhar para uma perspectiva mais macro, ou seja, olhar a diversificação da produção. Se tem um antídoto para a crise financeira é uma economia robusta, diversificada e avançada do ponto de vista de tecnologia e inovação. A cadeia produtiva do leite representa a possibilidade de consolidar um setor que é predominantemente ocupado por pequenos produtores e que pode se constituir em uma alternativa de desenvolvimento, em especial nos municípios do interior”.

Ao final, autoridades e produtores rurais encerraram o evento com o tradicional brinde do leite e uma saborosa degustação com derivados do leite: queijo, iogurte e doce de leite.

Foto: Néia Maceno/Assessoria

Leite da Manhã

O Leite da Manhã faz parte da programação alusiva ao Dia Mundial do Leite, celebrado hoje, 1º de Junho. A data foi criada em 2.001 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação.

Por esta razão, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul instituiu a “Semana Sul-Mato-Grossense do Leite”, com o intuito de divulgar a importância do leite no cenário econômico e social, e, também, estimular o consumo de produtos lácteos.

A Semana do Leite foi estabelecida em 2010, por meio de uma lei de autoria do deputado estadual Junior Mochi (PMDB), atual presidente da Casa de Leis do Estado.

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