Influenciadores digitais como os irmãos Felipe e Lucas Neto, Pedro Rezende e Enaldinho foram parar no centro de uma polêmica envolvendo pais, crianças, adolescentes, imprensa e agora médicos. Referência mundial no tratamento da obesidade, o médico brasileiro Cid Pitombo viu chegar em casa o efeito da disseminação de conteúdos que incentivam a infância a consumir doces e industrializados desenfreadamente. Pai de três, o cirurgião que cuidou dos atores André Marques e Leandro Hassum sentiu na pele o efeito desse tipo de influência, e publicou na sua página nas redes sociais um desabafo, que serve de orientação para pais e responsáveis.
“Eu tenho filhos pequenos, que assistem a esses vídeos de youtubers famosos. É uma moda. Mas esse tipo de alimentação proposta por essas pessoas tem sido um dano muito grande nas nossas famílias. Meu filho, por exemplo, que nunca teve acesso a chocolate e até então não gostava desse tipo de alimento; vez ou outra pede para consumir uma marca específica de achocolatado que é muito divulgada por esses youtubers. Todo esforço que fazemos de evitar que tenha chocolate em casa, evitar o biscoito recheado, o refrigerante e a bala – que são alimentos de baixíssimo nível nutricional e extremamente calóricos – a gente sofre guerra do outro lado de pessoas que ficam propondo má alimentação através da internet”, disse o médico Cid Pitombo.
A Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo poderia chegar a 75 milhões, caso nada seja feito. Para além da questão estética, o excesso de peso pode provocar o surgimento de vários problemas de saúde como diabetes, problemas cardíacos e a má formação do esqueleto. E um sinal de alerta para a necessidade de prevenção imediata: oito em cada dez adolescentes continuam obesos na fase adulta.
“Apesar de ser cirurgião bariátrico, sou o maior apoiador da prevenção, talvez por saber exatamente das graves consequências dessa doença. Já operei em diversos países do mundo e no Brasil desenvolvo ampla pesquisa sobre o tema. Visito escolas, creches e empresas tentando entender onde estamos errando O relato das crianças coloca o hábito alimentar da casa, bem como o tipo de oferta alimentar feita pelos familiares, como o grande “vilão” dessa doença. Vocês pais tem que tomar cada vez mais cuidado no acesso das crianças a esse tipo de conteúdo que reforça o mau hábito alimentar.”, destaca Pitombo.
Pacientes do Dr. Cid Pitombo no SUS perderam juntos mais de 100 toneladas
Desde 2010, quando a equipe de Cid Pitombo criou o Programa de Cirurgia Bariátrica no Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio de Janeiro, foram operados mais de 2.200 pacientes moradores de todas as regiões do estado do Rio de Janeiro. A média de atendimentos ambulatoriais está sendo mantida em 2 mil/mês e a taxa de sucesso é de 99%.
A equipe do Programa é multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas. A cirurgia não é o objetivo principal e sim a qualidade de vida e a mudança de hábitos. Mais de quatro mil pacientes estão sendo acompanhados pela equipe do Programa.
Estudo feito pela equipe do dr. Pitombo apontou que a vida sexual e financeira dos ex-gordinhos só melhorou após a cirurgia. Cerca de 40% dos pacientes afirmaram que a vida sexual passou de ruim para muito boa. Outros 14% disseram que a vida entre quatro paredes passou de boa para muito boa. Os novos magrinhos também relataram aumento de mais de 30% na renda familiar.
Atendimento a jovens – Pioneiro neste tipo de tratamento, o Programa já tratava jovens pacientes dois anos antes da divulgação de portaria do Ministério da Saúde, permitindo a realização da redução de estômago pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para pacientes a partir dos 16 anos. O objetivo principal é focar no atendimento especializado e preventivo, ou seja, a redução do peso com dietas. O motivo da opção prioritária pela não intervenção cirúrgica de imediato está relacionado aos eventuais danos psicológicos em pessoas tão jovens.
Perfil do especialista – Há quase 25 anos, ao sair da faculdade, Pitombo foi para os Estados Unidos se especializar em cirurgia laparoscópica. Voltou ao Brasil cinco anos depois para aprender sobre cirurgias da obesidade e, ao final do mestrado e doutorado, rodou grandes centros de cirurgia bariátrica nos EUA. Logo percebeu que os conhecimentos sobre laparoscopia e obesidade eram uma área a ser explorada. Juntou-se aos grandes nomes da cirurgia bariátrica, experimentou diferentes técnicas, operou e deu aulas em diversos países e se tornou referência no Brasil em cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, técnica que utiliza em todas as unidades em que opera. O procedimento é menos invasivo e proporciona recuperação mais rápida do paciente.
Como ter acesso à bariátrica pelo SUS – Para se candidatar à cirurgia bariátrica no programa do Estado, o paciente deve procurar um atendimento ambulatorial próximo de sua casa para que um médico avalie a necessidade da cirurgia. Se a operação for indicada, o médico da atenção básica deve inserir o paciente na Central Estadual de Regulação, que faz o encaminhamento para o Programa de Cirurgia Bariátrica do dr. Cid Pitombo. As regras da fila são estipuladas pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado de Saúde.