Ética em tempos de pandemia

Dra. Magyda Arabia Araji Dahroug Moussa – Foto: Arquivo Pessoal

Pandemia é um termo epidemiológico utilizado para descrever uma disseminação mundial de uma nova doença que vem se espalhando por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. E cada pessoa traz consigo uma variedade de virtudes, vícios, sentimentos que em momentos como este acabam se fazendo mais presente. E em uma extrema diversidade, como lidar com ética em tempos de pandemia?

A ética não é individual! Não tem a ver com você e sim com todos! A ética não é unívoca entre as pessoas, pois não há um mesmo entendimento sobre o que é ético. Mas de uma forma bastante simples, a ética é uma ciência da prática, do fazer e mesmo tendo como base diversos pensamentos e teorias de escolas filosóficas, é agindo que a ética é vista, conhecida e entendida.

Há várias virtudes que norteiam as condutas éticas, tais como honestidade, prudência, responsabilidade, sigilo, empatia, responsabilidade, entre outros. No entanto, não é você quem fala da sua própria virtude e sim o outro que reconhece a virtude em você. As nossas virtudes são públicas e em tempos de pandemia não seria diferente.

A ética se dá em momentos de contingência que permeiam em termos azar ou sorte ou pelo momento que estamos vivendo, se me isolo ou não. No entanto, é certo que a pandemia redefine comportamentos, identifica certas virtudes e vícios, tais como a irresponsabilidade, que é o oposto da prudência e o gozo paranoico com discurso exagerado e pessimista acerca do vírus. É prudente resistir a discursos irresponsáveis e apocalípticos.  Nunca foi tão fundamental a virtude aristotélica da prudência, principalmente nas decisões de distanciamento social e de quando sair dela. A prudência que devemos ter está entre aqueles que pregam nenhuma medida e aqueles que anunciam o fim do mundo.

Na escola deontológica a premissa discutida tem que valer para todo mundo. Se não vale para todos, não é ético, pois não atende à norma universal. Sendo assim, é importante a busca de normas para auxiliar no norteamento das nossas virtudes e atitudes. Ou seja: Se você tem sintoma e estes se agravam, você busca ajuda médica; se começam testagem em massa, você testa; se você testa positivo para coronavírus, você deve ficar isolado. Ou seja, aquilo que você faz, todos deveriam fazer, o que é utópico, mas deve ao menos funcionar como parâmetro. Percebemos então que a pandemia pode ser resolvida com o comportamento de todos e não apenas por atos dos órgãos competentes e diretrizes entregues às instituições. Temos que aprender a lidar com o vírus, sendo cada um ator da sua responsabilidade moral.

Já do ponto de vista do princípio utilitário, o ser humano age de uma tal forma para que ele sofra o menos possível, fugindo da dor e em busca do bem-estar. É necessário levar em conta o bem-estar e mal-estar que as pessoas sentem do ponto de vista individual e coletivo. Se o mal-estar cresce, as pessoas tendem a ser antiéticas. Ao contrário, se o bem-estar prevalece, as pessoas somam com mais facilidade ao convívio ético. Sendo assim, do ponto de vista das medidas epidemiológicas, é importante levar em conta o equilíbrio do combate do vírus e não a geração de agonia, desespero e desordem por causa disso. As medidas de prevenção à epidemia adotadas no mundo inteiro somado às consequências deste combate tem como objetivo alcançar o menor dano possível.

A discussão ética em tempos de pandemia talvez seja uma das mais dramáticas, pois impactam a sua possibilidade de comportamento que permeiam em bem-estar e mal-estar. É momento de valorizar as boas atitudes, esforços, boas intenções e inovações. Os acontecimentos ruins independem de nós de forma direta, mas precisamos ressignificar a forma de lidar com a pandemia de forma otimista.

Não venceremos essa pandemia sem a virtude da coragem e da prudência. O momento atual deve ser vivido com um somatório de esforços com as virtudes que possuímos e até mesmo aprimorar algumas que certamente nos ajudará a sermos éticos nas próximas adversidades.

*Dra. Magyda Arabia Araji Dahroug Moussa, professora da Universidade Católica Dom Bosco

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