As experiências em educação em tempos de COVID-19 são uma demonstração que a determinação dos objetivos do lado nefasto do neoliberalismo atua mesmo para os resilientes. Gostaria de pedir a sua ajuda para construirmos nossa representação social acerca do nível organizacional, do sentido de progresso e da hegemonia política e econômica dos aparentemente ricos e dominantes possuem no desenvolvimento da sociedade.
Nunca é tarde demais para lembrar que precisamos analisar a hegemonia do ambiente educacional oriundo de uma esfera política e econômica. Precisamos de nossos filhos e netos em qual escola? Uma escola com ou sem identidade, mas que possui apostila, um exemplo em vídeo desconexo de sua realidade, que tem uma placa que identifica com determinado grupo. Ou uma escola, que reconhece os nossos pelo nome, que sabe o motivo de levar uma criança para explorar na copa de árvore e inspirar na superação de obstáculos no futuro.
A nível organizacional, o acompanhamento das preferências de consumo de famílias por status produziu o sistema educacional que conhecemos na sociedade hodierna. A escola do TER precisa dar espaço para escola do SER. Todavia, o julgamento precisa transcender as paredes da filosofia e perceber que o modelo preconizado e que a pandemia refutou a escola do SER, pois essa a curto prazo não tem subsídios econômicos para manter os diferentes profissionais que acolhem os nossos para terem lembranças eternas.
Equalizar o sistema educacional transcende as campanhas das mídias “de compre no mercado local”, pois reflete as carências de um país com seu sistema educacional. Sistema educacional cunhado culturalmente para valorizar o externo, aquele quase impossível, mas que cede para comunidades algumas bolsas e faz seu trabalho social. Continuando na nossa representação do sistema educacional, perceba como somos culturalmente envolvidos. Quando um profissional qualquer diz que estudou no exterior, logo projetamo-lo num pedestal, sem sequer lembrar que possuímos instituições qualificadas em nosso país.
O sistema público criou cotas, mas não resolveu a ausência de realização de sonhos e sequer conseguiu oferecer permanência nos distintos níveis de ensino. A obrigação por lei de matrículas na educação básica produziu escolas que abriram, com infraestrutura mínima e a partir de subsídios governamentais sobreviviam. Com o holofote da COVID-19, percebemos, cada vez mais, é premente uma reestruturação do sistema, pois muitos empreendedores conseguiram vencer num primeiro momento, em casas transformadas em escolas. No entanto, não podemos esquecer que a crescente exposição, não suporta e não perdoa que estruturas mínimas deem conta das necessidades para manutenção da saúde dos estudantes.
Os governos municipais, estaduais e nacionais articulam políticas de retorno aos bancos das escolas presenciais. Como se esta fosse a solução para o sistema educacional. É preciso compreender que cultura se altera com o tempo, que o início de rodízio de estudantes, medição de temperatura, tapetes X ou Y, são paliativos quando do retorno para os lares em transportes coletivos, da convivência dos pais com outras pessoas (…).
E ainda não podemos esquecer em nossas vidas a relatividade que desenvolvemos diante da complexidade do sistema educacional. Quando paramos para pensar, que a escola do bairro, da Professora X, com sólida formação, que consegue ter em seu quadro professores de distintas épocas e que os estagiários são compreendidos como aprendizes e ajudantes, em tempos de pandemia, fica à mercê dos conglomerados econômicos com capital aberto. E que este estudante oriundo da escola elitizada ainda ocupará o espaço na universidade pública, afinal passou uma vida acadêmica destinado para manutenção do status quo.
Todas estas questões, devidamente ponderadas, nos fazem refletir acerca da falência ou sucesso do sistema educacional.
*Autora: Dinamara P. Machado é diretora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.