“As abelhas podem contribuir com o aumento da produtividade nas lavouras de soja”, esse foi um dos resultados da pesquisa apresentada na palestra de abertura do Fórum Douradense – Manejo de Pragas: gargalos e ações para o seu incremento. A declaração foi feita pelo pesquisador da Embrapa Soja, Décio Luiz Gazzoni, que falou sobre Soja e as Abelhas. O pesquisador explicou que existe um processo de ganha-ganha no cultivo de abelhas junto com as lavouras de soja, onde ganha o apicultor, que produz mais mel; bem como o agricultor, que produz mais soja. Segundo ele, para o sucesso da atividade de forma conjunta é preciso redesenhar esse agroecossistema, por meio de investimentos em boas práticas agrícolas e apícolas, além de uso de Manejo Integrado de Pragas (MIP), entre outras tecnologias, que poderão proporcionar grandes avanços nesse processo de produção integrada.
O presidente da Associação de Produtores de Mel de Dourados (Promel), que também é engenheiro agrônomo, produtor rural e apicultor há cerca de 28 anos, José Renato Cavalheiro, salienta os benefícios mútuos de trabalhar com as duas atividades de forma simultânea. Segundo ele, é possível produzir mel de qualidade com a cultura da soja e aumentar a produtividade das lavouras. “É visível o aumento na produção de grãos. Porém, o sucesso nas duas atividades simultâneas exige conhecimento técnico e adequação das culturas e práticas agrícolas. O repasse de informações é fundamental para o êxito de ambas atividades, dessa forma o apicultor não corre o risco de perder seus enxames de abelhas e, consequentemente, suas colmeias. É possível consorciar e trabalhar as duas atividades sem danos a nenhuma delas”, destaca ele. Ele informou ainda que atualmente, existem 18 associados na Promel.
Sobre o Fórum – O Procurador da República no município de Dourados, Marco Antônio Delfino de Almeida, salientou que o Fórum Douradense é uma oportunidade para debates e trocas de informações para busca de soluções conjuntas. “Conciliar interesses em prol da produção agrícola pujante e em consonância com outras atividades rurais, tais como: apicultura, aquicultura, sericicultura, orgânicos, entre outras, é um dos alvos desse evento, especialmente proporcionando ganhos tanto para os produtores quanto para o meio ambiente”, concluiu o procurador.
O Chefe Geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Lafourcade Asmus, destacou a relevância da agricultura que é o carro chefe da nação brasileira e acrescentou que “o MIP é um dos caminhos que podem contribuir com a sustentabilidade dos sistemas produtivos que buscam a excelência dos processos, minimizando possíveis impactos negativos”.
Para o engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal de Agricultura Familiar da Prefeitura Municipal de Dourados, Marcelo Tibúrcio Rezende, o evento foi bastante eficiente, reunindo informações relevantes e salutares sobre os sistemas produtivos. “O ponto forte do evento foi a sincronia entre os assuntos tratados, onde uma palestra foi complementando a outra e que trouxeram esclarecimentos importantes. Além disso, a heterogeneidade do público possibilitou a pulverização das informações para diferentes segmentos do setor agropecuário”, destaca Rezende.
Avanços do Plano Estadual – O professor da UFGD, Fabricio Fagundes Pereira, apresentou detalhes do Plano Estadual de Controle Biológico. Ele destacou as urgências para o avanço do Plano, dentre elas: a necessidade do comitê executivo do plano de realizar reuniões mensais, buscar apoio junto ao Governo do Estado, parcerias com empresas e produtores, incentivo a instalação de biofábricas no MS, além de campanhas demonstrando a importância do monitoramento de pragas e do reconhecimento do papel dos agentes de controle biológico e polinizadores. “É preciso compreender que os agentes biológicos estão prestando um serviço para o equilíbrio natural do agroecossistema”, explicou Pereira. Segundo ele, um dos frutos do Plano Estadual de Controle Biológico é que o Mato Grosso do Sul já dispõe de tecnologia para monitorar a população de percevejos nas lavouras de soja, denominado Patrulha Percevejo.
Pereira falou ainda sobre os desafios para adoção do controle biológico, tais como: tempo de prateleira dos inimigos naturais, sincronismo com o surgimento da praga, a especifidade da fase da praga, impactos endafoclimáticos, fortalecimento do MIP e do monitoramento, importância de instalação de empresas nessa área, escala de produção de produtos biológicos e de suas armadilhas. “As mudanças necessárias passam por uma visão sistemática do agroecossistema, que demanda monitoramento ao longo de todo o ano e prevenção. Conhecimento, monitoramento e planejamento são palavras chaves para os produtores interessados em adotar o MIP e obter sucesso no seu uso. Outro ponto desafiador é que não se pode ter uma visão pontual do negócio, somente da sua propriedade, é preciso unificar a região como um todo, fomentando o uso da mesma tecnologia de controle biológico, inclusive contando com um sistema de alerta que evite que o problema se espalhe”, destacou.
Em sua apresentação, o professor ressaltou ainda que o MIP pode ser utilizado em diversos segmentos produtivos, como: sucroalcooleiro, florestal, produção de grãos soja e milho, cultura do algodão e setor pecuário. “As soluções estão disponíveis para serem incorporadas pelo sistema produtivo”, concluiu.
Experiências – O Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agropecuária Oeste, Harley Nonato de Oliveira, destaca o sucesso do evento “foi muito oportuno e importante conversar sobre Manejo Integrado de Pragas (MIP), especialmente pela fase em que se encontram os plantios de soja”. Oliveira enfatizou a importância do depoimento do produtor Ake, apresentado no evento, em que destacou a importância de se fazer o MIP e, especialmente, da incorporação do controle biológico como uma das principais táticas de controle.
Segundo Oliveira, para que o produtor possa utilizar o MIP com segurança é importante difundir esse conhecimento, mostrar os ganhos ambientais e econômicos e contar com depoimentos de quem está utilizando, pois demonstra que essa forma de manejo é viável e, possível, de ser incorporado ao sistema de produção, trazendo o retorno econômico que se espera, além de ganhos ao meio ambiente. “Vimos que houve uma grande adesão e participação no Fórum e as boas impressões nos motivam a intensificar essas oportunidades para discutir e fortalecer a utilização do MIP”, concluiu Oliveira.
O produtor rural de Maracaju Ake Bernhard Van Der Vinne, participou do evento e fez um depoimento sobre sua experiência com MIP. Segundo ele, que produz soja há 42 anos, é preciso que os técnicos da assistência rural estejam ainda mais alinhados com os princípios do MIP, pois são eles que estão em contato direto com os produtores e finalizou “todos os produtores tem a responsabilidade de procurar formas de reduzir o uso dos rodutos químicos e adotar o uso dos produtos biológicos. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma alternativa segura para essa mudança e que, no meu caso, tem gerado resultados positivos”.
O evento – O Fórum Douradense – Manejo de Pragas: gargalos e ações para o seu incremento aconteceu na terça, 4 de dezembro, no auditório da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados. O evento reuniu cerca de 120 pessoas, entre produtores, técnicos da assistência técnica, representantes de órgãos públicos, professores, pesquisadores e estudantes. O Fórum foi uma realização do Ministério Público Federal, da Prefeitura Municipal de Dourados, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e da Embrapa Agropecuária Oeste, além de contar com apoio da Koppert, Legado Pesquisa e Consultoria, Binatural e Lecobiol.
Palestrantes – Além do pesquisador da Embrapa Soja, também apresentaram palestras, o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Crébio José Ávilla, que falou sobre o Case de Sucesso sobre o Manejo Integrado de Pragas em Lavouras de Soja (MIP), saiba mais sobre o assunto, nessa matéria (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/39653077/manejo-integrado-de-pragas-poderia-economizar-r4-bilhoes-na-producao-nacional-de-soja). A Koppert também fez uma apresentação sobre o assunto. Samir Oliveira Kassab, da Legado Pesquisa e Consultoria falou sobre Controle Biológico e Manejo Moderno de Pragas. Depois todos participaram de uma mesa redonda sobre o tema.