Uma história que ouviu quando tinha oito anos de idade e nunca mais saiu de seu imaginário, assim foi o primeiro contato do quadrinista e artista visual Olimpio Leme com a saga de Januário Garcia Leal, conhecido como Garcia Sete Orelhas. Ao se reencontrar com a lenda muitos anos depois, de maneira inesperada, ele decidiu mergulhar em uma extensa pesquisa, que se desdobrou durante cinco anos. Essa pesquisa se transformou na história em quadrinhos “Garcia – Luta, Fé e Justiça”, primeiro trabalho autoral de Olimpio, que teve financiamento do Fundo de Investimentos Culturais (FIC-MS) e será lançada nesta quinta, dia 7, a partir das 19 horas, no Sindicato dos Bancários.
A HQ se passa no século 19, na época da colonização portuguesa, e apresenta a história de Januário Garcia Leal, um homem comum que, diante do assassinato cruel de seu irmão, decide buscar vingança contra os algozes dele. “Essa história foi contada para mim quando eu era criança, pelo meu pai, e na época eu fiquei muito impressionado, tanto que nunca me esqueci. É uma história trágica de um homem que busca justiça, honra, de uma maneira que hoje em dia sabemos ser dura, mas que era o que ele tinha como recurso na época”, conta o autor e ilustrador.
O que Olimpio descobriu durante a pesquisa, por meio de livros, documentos e registros históricos, foi que Januário Garcia Leal realmente existiu, e que a saga vivida por ele acabou trazendo sua família, após seu falecimento, de Minas Gerais para terras do que viria a ser Mato Grosso do Sul, na hoje denominada Região do Bolsão, tornando-se uma das pioneiras. A ampla pesquisa realizada possibilitou ao autor trazer elementos históricos sobre os povos originários e quilombolas, pouco mencionados na narrativa original, buscando, assim, uma leitura mais ampla do contexto. “É uma história muito complexa dos idos de 1800, porque toca em temas sensíveis. É claro que muitas das ações dele foram inflexíveis, e a intenção não é glamourizar nem justificar, mas entender que isso fez parte da nossa história e ver o que podemos fazer para não deixar isso acontecer novamente”, frisa.
O autor descobriu também que a saga da família Garcia encontrava semelhanças com a de sua própria família, que teve terras na região. “Sou o quinto Olimpio Leme Cavalheiro, de nome e sobrenome, e o primeiro Olimpio foi assassinado por disputa de terras, então essa situação de conflito é algo muito próximo da minha família. É uma realidade que acontecia nos rincões do Brasil e que fez parte da formação do Estado”, relata.
A HQ foi totalmente ilustrada pelo autor, que também assina o roteiro. Ele criou todas as ilustrações no papel, o que aumenta a riqueza de detalhes, com a técnica old school, que utiliza nanquim. Como cada página é uma prancheta, foram 136 pranchetas e muitas horas de trabalho até o resultado final. Olimpio trabalha como ilustrador há muitos anos e desenha desde criança, incentivado pelo pai, que era arquiteto. “Gosto de histórias em quadrinhos desde os meus cinco anos de idade, quando aprendi a ler, e sempre desenhei. Todo mundo me dizia que eu deveria fazer uma HQ, mas foi só quando me deparei com essa história que veio a necessidade de contá-la ao mundo, e foi assim que nasceu o projeto”.
Para o artista, a importância de contar essa história, além de apresentar uma parte da história do próprio Estado, é refletir sobre questões sociais, sobre desigualdade, injustiça, e entender como hoje em dia podemos contribuir para uma sociedade mais justa. “Desde a colonização a história do Brasil foi pautada pelo conflito, e minha ideia não é julgar o que já aconteceu, mas ver maneiras de construir algo em cima disso, de corrigir uma rota. Nosso país tem muitas coisas que precisam ser mudadas, mas a solução não está lá fora, e sim em conseguirmos construir uma nova visão, de uma nação única, com visões diferentes, mas com respeito. Pode parecer utópico, mas tenho esperança”, finaliza.
Serviço: A história em quadrinhos “Garcia – Luta, Fé e Justiça”, do autor e ilustrador Olimpio Leme, publicada pela Life Editora, por meio do Fundo de Investimentos Culturais (FIC-MS), será lançada nesta quinta-feira, dia 7 de novembro, a partir das 19 horas, no Sindicato dos Bancários de Campo Grande MS e Região, que fica na Rua Barão do Rio Branco, 2.652 – Centro. Evento aberto ao público e com entrada gratuita.