Indústria automotiva trava no Brasil, quase sem vendas, e Anfavea critica crise política

Segundo presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, "tem gente em Brasília que ainda não entendeu a gravidade da situação": produção cai 99%, com índices iguais ao dos anos 1950

Queda na produção em abril foi de 99% sobre o mês anterior (Foto: Divulgação)

Queda na produção em abril foi de 99% sobre o mês anterior (Foto: Divulgação)

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou nesta sexta-feira (8) os números desoladores da indústria automotiva em abril. Devido às medidas para conter o avanço do novo coronavírus, com o fechamento do comércio e a paralisação das fábricas, o setor sofreu um grande baque nesse primeiro mês cheio desde o começo da quarentena, iniciada em meados de março.

Em abril, foram emplacados apenas 55.700 automóveis em todo o país, o que representa uma queda de 65,9% sobre março, que já tinha sido um mês ruim, e de 76% sobre abril de 2019.

Se antes da pandemia eram vendidas entre 10 mil e 12 mil unidades por dia, esses números estão em um patamar de 2 mil a 3 mil unidades diárias. Segundo a entidade, essa é a maior queda na história para um mês de abril.

Estoques nas fábricas e concessionárias equivale a 4 meses de produção (Foto: Divulgação)

Estoques nas fábricas e concessionárias equivale a 4 meses de produção (Foto: Divulgação)

As exportações, que já vinham caindo nos últimos meses especialmente por conta da crise na Argentina, também apresentaram enorme retração. Apenas 7.200 veículos foram exportados no período – o pior resultado em 23 anos -, queda de 76,6% sobre março e de 79,3% se comparado ao mesmo mês do ano passado.

Já a produção, com praticamente todas as fábricas fechadas, caiu 99% sobre março e 99,4% em relação a abril de 2019. Somente 1.800 veículos foram produzidos no Brasil no último mês. Mais um recorde para a conta: esse é o pior resultado desde o surgimento da indústria, em 1957.

Dessa forma, o estoque atualmente equivale a 4 meses de produção, uma vez que as vendas estão em queda livre. Ou seja, com a reabertura das fábricas programadas para o final de maio ou junho, a tendência é de que esses números aumentem ainda mais, já que perda de empregos, diminuição de renda e inseguranças financeiras também são justificativas para o adiamento da compra de um carro novo neste momento.

“A retomada ainda vai ser lenta. A produção vai depender do aumento da demanda”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, durante a coletiva virtual.

Gráfico mostra a queda de emplacamentos por estados em abril (Foto: Anfavea/Divulgação)

Gráfico mostra a queda de emplacamentos por estados em abril (Foto: Anfavea/Divulgação)

Para ter uma ideia da gravidade da situação, a retração nos emplacamentos por estados também foi brutal. São Paulo, que tem os maiores números de infectados pela Covid-19 no Brasil, registrou queda de 99% nos emplacamentos: de 58.699 em abril de 2019 para 551 neste ano. A menor queda, de 24%, foi em Roraima, de 509 para 386 unidades, mas são números pouco expressivos para mostrar a realidade do país.

Moraes afirmou que a Anfavea apoia totalmente a decisão das secretarias de saúde dos estados e da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação às medidas de quarentena, uma vez que a saúde dos colaboradores é primordial, mas entende que essas decisões geram consequências.

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea (Foto: Divulgação)

Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea (Foto: Divulgação)

“Tem gente em Brasília que ainda não entendeu a gravidade da crise na saúde e o que vamos enfrentar na economia. A instabilidade política piora ainda mais nossa situação. Agentes que deveriam atuar de forma coordenada estão em conflito”, pontuou Moraes, sem citar nomes do governo (estadual ou federal).

Em relação à participação do vice-presidente da Anfavea, Antônio Sérgio Martins de Mello, na audiência realizada ontem entre representantes do governo e da indústria – que contou com a presença do Presidente da República Jair Bolsonaro e do ministro da economia, Paulo Guedes – com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, Moraes esclareceu que a pauta não foi a retomada das atividades, mas sim o custo Brasil e medidas de crédito para o setor produtivo.

Presidente Jair Bolsonaro se dirige ao STF para audiência com representantes da indústria (Foto: Agência Brasil)

Presidente Jair Bolsonaro se dirige ao STF para audiência com representantes da indústria (Foto: Agência Brasil)

“Apesar de a Anfavea ter sua própria agenda, alguns temas são horizontais na economia e afetam outros setores, então participamos desses debates. Não cabe à Anfavea entrar nessa discussão política”, disse.

Independentemente da demanda reduzida, algumas montadoras já anunciaram aumentos de preço de seus carros a partir deste mês. Moraes voltou a bater na tecla da crise política para justificar a medida, uma tendência em relação ao aumento da cotação do dólar, que saiu de R$ 4 no início do ano para encostar nos R$ 6 atualmente.

“As montadoras estão vivendo uma pressão enorme nos custos. Cada uma delas tem que avaliar como consegue absorver, é uma combinação explosiva. Mas não é só um problema da indústria automotiva, todos os setores estão sofrendo”, finalizou.

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