A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou nesta sexta-feira (8) os números desoladores da indústria automotiva em abril. Devido às medidas para conter o avanço do novo coronavírus, com o fechamento do comércio e a paralisação das fábricas, o setor sofreu um grande baque nesse primeiro mês cheio desde o começo da quarentena, iniciada em meados de março.
Em abril, foram emplacados apenas 55.700 automóveis em todo o país, o que representa uma queda de 65,9% sobre março, que já tinha sido um mês ruim, e de 76% sobre abril de 2019.
Se antes da pandemia eram vendidas entre 10 mil e 12 mil unidades por dia, esses números estão em um patamar de 2 mil a 3 mil unidades diárias. Segundo a entidade, essa é a maior queda na história para um mês de abril.
As exportações, que já vinham caindo nos últimos meses especialmente por conta da crise na Argentina, também apresentaram enorme retração. Apenas 7.200 veículos foram exportados no período – o pior resultado em 23 anos -, queda de 76,6% sobre março e de 79,3% se comparado ao mesmo mês do ano passado.
Já a produção, com praticamente todas as fábricas fechadas, caiu 99% sobre março e 99,4% em relação a abril de 2019. Somente 1.800 veículos foram produzidos no Brasil no último mês. Mais um recorde para a conta: esse é o pior resultado desde o surgimento da indústria, em 1957.
Dessa forma, o estoque atualmente equivale a 4 meses de produção, uma vez que as vendas estão em queda livre. Ou seja, com a reabertura das fábricas programadas para o final de maio ou junho, a tendência é de que esses números aumentem ainda mais, já que perda de empregos, diminuição de renda e inseguranças financeiras também são justificativas para o adiamento da compra de um carro novo neste momento.
“A retomada ainda vai ser lenta. A produção vai depender do aumento da demanda”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, durante a coletiva virtual.
Para ter uma ideia da gravidade da situação, a retração nos emplacamentos por estados também foi brutal. São Paulo, que tem os maiores números de infectados pela Covid-19 no Brasil, registrou queda de 99% nos emplacamentos: de 58.699 em abril de 2019 para 551 neste ano. A menor queda, de 24%, foi em Roraima, de 509 para 386 unidades, mas são números pouco expressivos para mostrar a realidade do país.
Moraes afirmou que a Anfavea apoia totalmente a decisão das secretarias de saúde dos estados e da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação às medidas de quarentena, uma vez que a saúde dos colaboradores é primordial, mas entende que essas decisões geram consequências.
“Tem gente em Brasília que ainda não entendeu a gravidade da crise na saúde e o que vamos enfrentar na economia. A instabilidade política piora ainda mais nossa situação. Agentes que deveriam atuar de forma coordenada estão em conflito”, pontuou Moraes, sem citar nomes do governo (estadual ou federal).
Em relação à participação do vice-presidente da Anfavea, Antônio Sérgio Martins de Mello, na audiência realizada ontem entre representantes do governo e da indústria – que contou com a presença do Presidente da República Jair Bolsonaro e do ministro da economia, Paulo Guedes – com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, Moraes esclareceu que a pauta não foi a retomada das atividades, mas sim o custo Brasil e medidas de crédito para o setor produtivo.
“Apesar de a Anfavea ter sua própria agenda, alguns temas são horizontais na economia e afetam outros setores, então participamos desses debates. Não cabe à Anfavea entrar nessa discussão política”, disse.
Independentemente da demanda reduzida, algumas montadoras já anunciaram aumentos de preço de seus carros a partir deste mês. Moraes voltou a bater na tecla da crise política para justificar a medida, uma tendência em relação ao aumento da cotação do dólar, que saiu de R$ 4 no início do ano para encostar nos R$ 6 atualmente.
“As montadoras estão vivendo uma pressão enorme nos custos. Cada uma delas tem que avaliar como consegue absorver, é uma combinação explosiva. Mas não é só um problema da indústria automotiva, todos os setores estão sofrendo”, finalizou.