Quando analisamos os resultados da produção agrícola das diferentes regiões brasileiras, constatamos que os ganhos na produtividade física obtido s com a maioria das espécies cultivadas nem sempre se traduz em aumento de lucratividade. Isto significa dizer que, pode estar ocorrendo: aumento dos custos de produção e/ou desvalorização dos produtos agrícolas. Parece que a primeira situação é a que melhor representa o momento atual, ou seja, está havendo incremento muito grande nos custos de produção (figura 1).
Figura 1 – Evolução dos custos variáveis/ha para produção de soja em Mato Grosso do Sul, no período de 2014/15 a 2016/17. Richetti, A. 2017
O aumento dos custos de produção de forma desproporcional ao valor do produto, é uma das imperfeições do Mercado. Como corrigi-la? Este é o grande desafio e para isto, é necessário mudança comportamental.
A agricultura brasileira tem pela frente grandes desafios, talvez um dos mais significativos seja: rever os modelos de produção, passando a olhar não a espécie a ser cultivada, mas sim o sistema de produção.
De acordo com a CONAB (2017), em Mato Grosso do Sul, no ano agrícola de 2016/17 foram cultivados 2,52 milhões de hectares com soja e destes, 1, 7 milhões de hectares deverão ser cultivados com milho (Figura 2). Com o que está sendo cultivado os outros 800.000 hectares?
Figura 2– Evolução das áreas cultivadas com soja e milho segunda safra em Mato Grosso do Sul no período de 2007/08 a 2016/17. CONAB, 2017.
Nas áreas ocupadas com soja no verão se cultiva além do milho, no período de outono-inverno: algodão, sorgo, milheto, nabo-forrageiro, aveia, trigo, centeio, braquiárias, etc., mas ainda fica muita área descoberta, o quanto é difícil calcular devido à inexistência de estatísticas. Mas, calculo que sejam algo entre 600 a 700 mil hectares. Esta área, no mínimo poderá estar sendo cultivados com espécies que irão auxiliar as espécies cultivadas no próximo período de verão, onde a soja é a principal.
A pesquisa agrícola já produziu conhecimentos que foram transformados em tecnologias que, se adotadas, podem impulsionar significativamente a produção de soja, de milho e de carne em Mato Grosso do Sul. Uma dessas tecnologias é o consórcio do milho com a braquiária ruziziensis, a integração lavoura-pecuária e floresta, são exemplos.
Quando cultivado em consórcio com a braquiária, a produtividade de grãos do milho não é reduzida, há produção de forragens que pode ser utilizada como pastagem, especialmente no período do ano onde a oferta de forragem é muito limitada por conta das condições climáticas, escassez de água e temperaturas baixas. Bovinos se alimentando de forragem produzida em consórcio com o milho, no mínimo não vão perder peso, com isto deixa de existir o boi “sanfona”, o que já é muito interessante. O animal não perdendo peso no período das secas, com certeza haverá redução da idade de abate, um grande desafio no processo de modernização da pecuária de corte, especialmente no Brasil Central. No entanto, se o manejo da braquiária e dos animais for adequado, tem-se ganho de peso destes. Assim, vamos ter duas safras de grãos (soja e milho) e produção de carne, além da uma menor emissão de gases de efeito estufa. Isto acontecendo, tem-se ao mesmo tempo a intensificação da produção e a integração. Com certeza, ocorre uma melhoria da margem de lucro por unidade de área. A braquiária ainda vai deixar o solo coberto e suas raízes irão contribuir para a melhoria do ambiente onde vai crescer as raízes da soja, por exemplo. A biomassa da parte aérea e do sistema radicular da braquiária vai proporcionar o acúmulo de carbono no solo, o que resultará em incremento na produtividade de soja, por exemplo.
Na ausência do preparo do solo, com aração e gradagem, são as raízes das plantas as responsáveis pelo condicionamento do solo para a próxima semeadura. Portanto, a adoção do Sistema Plantio Direto requer diversificação de culturas, com inclusão de espécies de abundante sistema radicular, capaz de condicionar o solo para a safra seguinte.
Plantas daninhas de difícil controle são adequadamente manejadas quando no período de inverno, o solo permanece coberto com vegetação ou palha. Exemplo de uma planta daninha cujo manejo impacta significativamente no custo de produção é a buva, e se não for adequadamente manejada trará prejuízos quantitativos para a soja.
A intensificação e a integração devem ser feitas de acordo com os preceitos do Sistema Plantio Direto.
O sistema plantio direto, vai muito além de simplesmente não preparar o solo com arado e grade. Este sistema de manejo de solo, o mais adequado para as condições tropicais, exige a cobertura permanente do solo com espécies vegetais em crescimento e/ou com palha, o não revolvimento do solo além da linha de semeadura e rotação de culturas. A não observação de qualquer um destes fundamentos, coloca em risco o sistema, cujas consequências podem trazer efeitos altamente negativos para a produção agropecuária.
Em resumo, rever o modelo de agricultura atualmente em uso, levando-se em consideração a necessidade de intensificar e integrar as atividades dentro da visão de sistema de produção, é a estratégia mais adequada para fazer frente aos grandes desafios impostos pela necessidade de se aumentar a produtividade dos diferentes fatores de produção. Nesta revisão do modelo de produção, é imperiosa a adoção do sistema plantio direto, levando-se em consideração os fundamentos básicos do sistema. Finalizando, é importante que todos estejam atentos às transformações por que passa a agropecuária brasileira. Estamos entrando na era da agricultura 4.0, junto com esta nova era, estão em curso profundas transformações. Estas estão intimamente ligadas ao tema deste artigo, que traz como mensagem a necessidade de atitudes que assegurem a sustentabilidade da produção agrícola, baseada nos sistemas integrados de produção, que proporcionam intensificação de resultados.
* Fernando Mendes Lamas – Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste