Mais de cinco séculos se passaram, mas a “Mona Lisa”, obra-prima de Leonardo da Vinci, continua motivando descobertas.
Após a revelação feita pelo pesquisador francês Pascal Cotte de que a montanha situada atrás da “Gioconda” seria a Torre de Caprona, em Pisa, outro mistério do quadro pode ter sido revelado.
Uma pesquisa conduzida pelo historiador italiano Silvano Vinceti, presidente do Comitê Nacional de Valorização dos Bens Históricos, Culturais e Ambientais, indica que a ponte situada no lado direito da tela, logo acima do ombro da Mona Lisa, seria a Ponte Romito, situada em Laterina, na província de Arezzo.
A tese contraria as hipóteses mais populares até o momento, de que a imagem retrataria uma ponte de Buriano, também em Arezzo, ou a ponte medieval de Bobbio, na província de Piacenza.
“Eu também defendia a tese da ponte de Buriano, mas hoje não tenho mais dúvidas: a pintura mostra a ponte etrusca-romana de Romito”, disse Vinceti nesta quarta-feira (3), em Roma, ao apresentar os resultados de seu estudo.
“Um erro comum é pensar que Leonardo pintasse visões fantásticas. Na Mona Lisa, sim, mas não na paisagem”, acrescentou o historiador.
Apenas um arco da ponte resistiu à passagem do tempo, mas, segundo Vinceti, a estrutura estava em pleno funcionamento nos primeiros anos do século 16 e era bastante frequentada, “como mostra um documento da família Médici encontrado nos arquivos de Estado de Florença”.
Naquele período, Da Vinci se encontrava no Vale do Rio Arno, que cruza a Toscana, primeiro a serviço de César Borgia e depois do então governante da República de Florença, Pier Soderini.
A Ponte Romito era composta de quatro arcadas e se apoiava em duas falésias, assim como a da pintura, e fazia parte de um atalho que permitia encurtar em muitos quilômetros o percurso entre Arezzo e Florença.
“Economizar tempo permitia a Leonardo estudar mais.
As pontes de Bobbio e Buriano, por sua vez, têm mais de seis arcadas e se apoiam em terrenos planos”, explicou Vinceti. Além disso, o traçado sinuoso do Arno na “Mona Lisa” é típico do rio nos arredores de Laterina.
Para consolidar sua tese, o historiador usou imagens feitas por drones, a reconstrução virtual da ponte e documentos históricos que mostram que Da Vinci passava bastante tempo em Fiesole, cidade situada nas colinas acima de Florença.
Graças aos drones, foi possível encontrar o ponto a partir de onde o gênio renascentista teria pintado o cenário: a pequena colina de Punta Caianiello. A comparação das imagens com alguns desenhos do início do século 16 também permitiu identificar a possível paisagem do canto inferior esquerdo do quadro.
“Poderia ser o complexo de penhascos ou de pirâmides de terra na área superior do Vale do Arno, a 10 ou 15 quilômetros da Ponte Romito”, disse Vinceti, ainda usando o condicional para essa hipótese.