O corpo e suas representações se colocaram, no decorrer do século XX e XXI, sempre como a possibilidade de uma reinvenção mágica daquilo que somos e que nos identifica. A forma bípede, coesa, com membros, capacidade cognitiva avançada e polegares opositores fora o cânon das manifestações artísticas até o início do séc. XX, sempre, em sua grande parte, pautada no binarismo de gênero e na ideia clássica de representação do humano, concentrando a ideia de corpo e o que ele representava dentro de uma visão ocidental e falocêntrica, que em muito operou na construção de uma ideia de que há apenas duas formas de ser no mundo.
A arte contemporânea opera aí: nessa imensa tarefa de dispersão do corpo para assim dispersar o nome. Por meio do tensionamento dos ideais de natureza e imagem humana, da manipulação da matéria em busca de uma representação, o corpo hoje é visto muitas vezes apenas como a memória ou a ideia de si mesmo, abrindo as possibilidades de representação, em um movimento contra a essência do desinteresse que a história da arte relegou a nós: uma tragédia anunciada em relação ao cerceamento dos nossos corpos.
A possibilidade da arte hoje, de postular a reimaginação por meio de suas diversas linguagens, daquilo que nos representou, em uma dança entre negar instituições e reafirmar intentos, foi o ponto de partida que esta exposição decidiu postular: um espaço fora da carne, que assume para si as potencialidades imaginativas, narrativas, místicas e ocultas da visão artística sobre o que nós somos. Nesta diluição da representação, nos confrontamos com silhuetas tornadas paisagens, exercícios de repensar nossos papéis sociais, formas que nos reintroduzem a quem somos e aquilo que delimitaria nossos corpos, novas proposições para compreendermos onde habitamos hoje, assim como a intrínseca capacidade que temos de nos redescobrir e conectar-se com nós mesmos.
Com esta parceria, na primeira exibição no espaço físico da galeria londrina em São Paulo, a LAMB e a KURA convidam o espectador a reconhecer e reconectar-se com seu próprio corpo por meio de um discurso que busca atrelar a transcendentalidade da representação hoje àquilo que nos possibilita ser. Um espaço de constante autorreconhecimento, daquilo que somos e do que nos circunda para, assim como uma fera que grita “Eu sou” no fim do mundo, afirmar a necessidade latente que a contemporaneidade apresenta de que não podemos, hoje ou amanhã, limitar nossa essência a ideais e formas pré-concebidas de existir.
Eu sou”, gritou a Fera no fim do mundo
Brígida Baltar
Tracey Emin
Celia Hempton
Alba Hodsoll
Anna Koak
Natalia LL
João Loureiro
Christabel MacGreevy
Robert Mapplethorpe
Janina McQuoid
Lyz Parayzo
Yuli Yamagata
Fernanda Zgouridi
Project space: “Mastur Bar”, de Fabiana Faleiros
Em “Fálico Mágico”, Fabiana Faleiros (Lady Incentivo) apresenta uma pesquisa desenvolvida desde 2015, que já passou por diversos espaços independentes e institucionais, incluindo a 10ª Bienal de Berlin. Fabiana retorna a São Paulo com sua aula-show e a instalação “Mastur Bar”. Além da performance realizada, a artista criou um ambiente sensorial que visa aproximar o corpo do espectador daquilo que o circunda e de si próprio. Dentro da perspectiva da construção da ideia do feminino no decorrer da história, o ato de tocar-se fora para a mulher um âmbito de repressão: as mulheres tiveram suas mãos afastadas de si mesmas.
A partir de uma releitura de “I Feel Love”, de Donna Summer, o ato de masturbar-se está presente no espaço pelos versos do Lady Incentivo. A trilha ” Masturbei” toca no mesmo ritmo da música da diva pop e os ojetos que compõem o espaço convidam para uma experiência sensorial, em alusão ao amor e à intimidade que apenas nós somos capazes de nos fazer sentir.
Período expositivo
Até 12 de fevereiro de 2019
Lamb Arts – Rua Barão de Capanema, 343, 9º andar
Horário de visitação: de segunda à sexta-feira, das 11h às 18h. Sábados das 11h às 15h. Fecha aos domingos.
Sobre Kura Arte
Kura, que vem do alemão Kuratorium e significa ‘curadoria’, vem ao encontro dos anseios de sua criadora, Camila Yunes Guarita, uma apaixonada pelo mundo das artes, que deu seus primeiros passos nesse universo, ainda na faculdade. Hoje, Camila é referência quando o assunto é arte e desenvolve um trabalho estratégico e customizado para cada cliente. O propósito da empresa é desenhar linhas curatoriais de coleções em que segue à risca as peças que serão adquiridas. Assim, são formadas coleções sólidas e estruturadas, a partir de pesquisas de mercado e valorização, feitas por Camila.
Sobre Lamb Arts
A Lamb Arts foi criada, em Londres, em 2014 para promover o intercâmbio entre práticas artísticas e curatoriais, mercados e projetos institucionais entre a América Latina e a Europa. Com o propósito de expandir o que já existia na cidade inglesa, que é proporcionar aos artistas emergentes a oportunidade de apresentar seus trabalhos na Europa, Lucinda Bellm, à frente da Lamb, trouxe o projeto também para o Brasil com a colaboração de diferentes espaços e galerias. A Lamb Arts participa há 5 anos da SP-arte e ArtRio.