A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul divulgou recentemente o Edital com o Conteúdo Programático do seu Vestibular 2023 e PASSE. Um dos mais concorridos do Centro-Oeste, o Vestibular UFMS vincula a indicação das Obras de Leituras Obrigatórias, nove no total, dentre as quais o livro Vias do Infinito Ser, do poeta Rubenio Marcelo, que é radicado em Campo Grande. Os demais livros atualmente indicados são: Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga; Esaú e Jacó, de Machado de Assis; Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; Viagem e Vaga música, de Cecília Meireles; Sagarana, Guimarães Rosa; O encontro marcado, Fernando Sabino; Seminário dos ratos, de Lygia Fagundes Telles; e Cinzas do Norte, de Milton Hatoum.
Ao se debruçar sobre este conteúdo, os vestibulandos devem atentar para o estudo de cada autor, o estilo, o contexto histórico e análise crítica, visto que a tendência das bancas examinadoras é apresentar questões que pressupõem um bom conhecimento interpretativo dos alunos/leitores.
A a justa indicação deste livro de Rubenio Marcelo é conquista de mérito irrestrito. A obra Vias do Infinito Ser configura o poeta existencialista na sua essência, refletindo sobre a condição humana, a busca da virtude, o ser na sua complexa natureza. Rubenio sabe que a poesia é também um trabalho de “escavação”; ele sabe que o “ser deve superar o tempo”, como disse Alfredo Bosi em Poesia-Resistência. O poema Pelos caminhos essenciais da Poesia (de RM) configura o conhecimento desse trabalho: “…contigo caminho,/ Poesia,/ e na tua confidência/ desarmo as tocaias/ e subterfúgios do cotidiano…/ recobro a leveza da intuição/ e dou-me conta/ da tua clara evidência…/ contigo caminho/ Poesia/ – caminho e abrigo.”
Esse entendimento é responsável pela atemporalidade e universalidade presentes na obra Vias do Infinito Ser. Rubenio Marcelo é poeta do mundo. Ele canta as dores, angústias, alegrias, expectativas do ser contemporâneo. Ele dialoga com a linguagem poética. Pelo poder do verbo, apresenta o real ao homem e cumpre com a função de expressão dos sentimentos humanos mais profundos. Sabe a medida de seus reflexivos pensamentos e equilibra dimensões filosóficas e metafísicas, visto que não se afasta, em momento algum, do poder transformador e catártico da poesia. A amplitude de sua poética se deve à independência empregada em seus poemas, libertos de pressões, mesmo quando se serve de intertextualidades. Julia Kristeva, escritora e crítica literária, afirma: “todo texto é absorção e transformação de um outro texto”. Rubenio deixa entrever em vários poemas um leque de relações intertextuais.
Embora apresente intertextualidade com ideias heideggerianas – a existência autêntica seria aquela que sabe que vai morrer, a única verdade que o tempo nos dá. Nós somos o ser-aqui, o homem em face da finitude, e o tempo é a própria substância dessa finitude – o nosso poeta vai mais além ao acrescentar sua visão de que o tempo é histórico e que o presente prepara o futuro dando sentido à caminhada humana. Entanto, o ser-no-mundo pode se aproximar do infinito através da linguagem ou por suas ações de virtude, que se tornam exemplares (se infinitizam) através do tempo.
Juntam-se, semanticamente, metáforas inusitadas, sinestesias, símbolos pulsantes e habilidoso uso da metalinguagem (um dos pontos marcantes do livro). Cada característica possui – nos versos de Vias do Infinito Ser – sentido próprio, o que dá dinamismo à poesia rubeniana. No seu texto poético viceja a liberdade da linguagem, que “é a morada do ser”, como afirmou Heiddeger. Enfim, Rubenio Marcelo exprime a sua natural identificação interativa com a palavra simbólica; contempla-a, sente-a profundamente: “Poesia, Poesia…/ em teu espírito/ entrego as minhas mãos…”.
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*a autora Ana Maria Bernardelli é ensaísta, escritora e professora. Formada em Língua e Literatura Francesa pela Université de Nancy, França. Especialista em Literatura Brasileira e Portuguesa, há quatro décadas leciona em cursos preparatórios para concursos públicos e vestibulares. Recentemente, lançou o livro de poemas: Na Trilha das Formigas. É a titular da Cadeira nº 27 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras. Natural de São Paulo, reside em Campo Grande/MS.