O levantamento do Movimento do Comércio Varejista (MCV) produzido pela Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG) mostrou que, o mês de maio atingiu 96 pontos, indicando alta nas vendas em relação ao mês de abril (82). O resultado também ficou quatro pontos acima do apurado no mesmo período de 2016. “O resultado nefasto do mês passado não se repetiu, graças às vendas do Dia das Mães. A média dos primeiros cinco meses foi de 89 pontos contra 85 em 2016. Estamos em melhores condições gerais, mas a lenta retomada do consumo e o comportamento do nível de emprego, preocupam muito. Se a ação do governo federal estancou os reflexos da operação Carne Fraca, a delação dos diretores do grupo JBS trouxe todos os receios para o centro do debate”, explica o economista-chefe da ACICG, Normann Kallmus.
De acordo com Kallmus, em Campo Grande, cuja matriz de exportação tem concentrados na cadeia da carne 76% dos embarques, “o desenlace poderá ser catastrófico”. “É bem verdade que os indicadores econômicos passaram a reagir de forma coerente a partir da assunção da equipe econômica, mas o desenvolvimento precisa mais do que técnicos para existir. A insegurança jurídica, em muito provocada pelas interpretações pouco ortodoxas dos textos legais, só faz aumentar as incertezas e, ao mesmo tempo, reduzir as condições para o investimento”, complementa.
Metodologia – O MCV/ACICG é um índice apurado a partir da evolução dos dados do setor, englobando as transações realizadas entre empresas e também entre consumidores e o comércio. Considerando a sazonalidade característica da atividade comercial, o MCV foi desenvolvido com base fixa definida pela média do desempenho do ano de 2014. O Índice é composto de dois outros sub índices que ajudam a avaliar sua evolução: o MCV-PF, que analisa as transações entre Pessoas Físicas e as empresas do setor terciário, e o MCV-PJ, que avalia as transações entre as empresas.
O MCV-PF de maio foi de 99 pontos, contra 93 no mesmo mês de 2016, 108 em 2015 e 2014. Atribuímos a esse componente o desempenho melhor do comércio varejista em relação ao indicador do ano passado. Já o MCV-PJ foi de 76 pontos, contra 80 em maio de 2016, e 88 em 2015. “Este continua sendo o maior problema registrado na análise do mês, que corrobora a tendência de queda que temos observado nos últimos meses”, afirma Kallmus.
O economista-chefe da ACICG conta que o comportamento desses indicadores mostra que estão ocorrendo duas alterações significativas no comportamento das empresas do setor que é responsável por mais de 75% do PIB em valores agregados do município. “Em primeiro lugar, como já temos alertado há algum tempo, as empresas não estão fazendo estoque, o que pode ser observado a partir do comportamento muito similar entre os MCV-PF e MCV-PJ. O outro aspecto a ser destacado é derivado da observação do fechamento de empresas e da alteração da atividade principal, de revenda a representação. O problema é que a carga tributária, aliada à falta de coerência do setor público, só agravam a tendência. Há casos emblemáticos como o da aquisição de kits e uniformes escolares, tanto do estado quanto do município, através de adesão a atas de registro de preços de certames efetuados em outros estados, no valor de quase R$20 milhões (R$8,4 milhões do estado e R$3,4 milhões do município em kits, e mais R$7,8 milhões do município em uniformes). O que ocorre é a geração de um círculo vicioso. A alta carga tributária aumenta o custo e reduz a competitividade das empresas. Isso reduz o mercado ainda mais. Menos transações, menos receita tributária, portanto, maior pressão para aumento da carga tributária”, detalha Normann Kallmus.
Perspectivas
O economista-chefe da ACICG afirma que, de acordo com o levantamento, junho nunca apresentou um indicador maior do que maio, e que não existem razões objetivas para imaginar que esse paradigma seja quebrado neste ano. Conforme previsto no último Boletim, maio manteve a tendência de alta em relação a abril, mas não exatamente por desempenho da economia, mas por um aspecto social, que é o desejo de presentear no Dia das Mães.
Kallmus explica que o fator de risco para qualquer análise da situação brasileira, não está no desempenho econômico, mas na insegurança jurídica à qual os poderes Judiciário, Legislativo e Executivo expõem a todos. “O quebra-quebra promovido em Brasília aparentemente gerou efeito contrário ao que se esperava, aumentando a repulsa aos movimentos esquerdistas, evidentemente vinculados aos episódios. Decisões como a do TSE de não reconhecer fatos comprovados e não cassar a chapa Dilma-Temer, ao contrário de tranquilizar o mercado, deixa seus agentes cada vez mais inseguros, gerando uma evidente dificuldade na retomada dos investimentos. Os avanços prováveis na legislação trabalhista trazem algum alento, mas não o suficiente para garantir uma retomada das atividades produtivas, o que evidentemente aprofunda o problema do desemprego”, finaliza.