Campo Grande (MS) – O Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul (Marco) abre sua 3ª Temporada de Exposições no dia 31 de outubro de 2018, (quarta-feira), a partir das 19h30, com as mostras: Mundo Animal, com o artista Gervane de Paula (MT – Funarte); Transição de Fase, de Lourival Cuquinha (PE – Funarte); A simplicidade de saber viver e pintar a vida, de Masahiko Fujita (MS) e Cidadão do Mundo, de Roberto de Lamônica (MS). Os artistas foram selecionados pelo Edital do Marco, lançado anualmente para compor sua Agenda de Exposições Temporárias.
As obras do artista cuiabano Gervane de Paula provocam reflexões acerca do mundo contemporâneo. Realiza uma obra que dialoga com o pop e a iconografia popular do Centro Oeste Brasileiro. O artista mantém seu olhar ativo e afinado com constante vigor na produção, nesses 43 anos de carreira, continua firme com coerência e postura artística, sobrevivendo unicamente de seu trabalho.
O projeto “Mundo Animal” foi contemplado pelo Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais. Na exposição, Gervane apresenta o resumo de sua ampla pesquisa, que assume postura crítica em relação aos processos e circuito da própria arte, estabelecendo conexões entre as estratégias de produção, conteúdos enfocados no contexto do cenário atual político e econômico, considerando as características técnicas, mas evidenciando o potencial do discurso.
Com a Curadoria de Daniela Labra e Laudenir Gonçalves, o artista leva para o Marco cerca de 30 obras, entre pinturas, instalações e esculturas. A curadora Daniela Labra explica que a obra do Gervane tem uma “pegada” regional, mas ao mesmo tempo fala das estruturas de poder que se replicam por todo o País, e a gente pode avançar um pouco mais, e falar de situações na América Latina. “As estruturas de poder e de exploração da droga, do tráfico, da milícia, da morte, da PM, do corpo, da sexualização da mulher, da prostituição infantil, tudo isso que está na obra dele, diz respeito também à América Latina”, diz Daniela.
Lourival Cuquinha nasceu no Recife (PE), em 1975. Já expôs em nações como Indonésia, Alemanha, Inglaterra, Holanda, França, Estados Unidos, Cuba, Bélgica e Espanha, entre outras. Seus trabalhos integram coleções de instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP), na capital paulista; a Coleção de Arte da Cidade de São Paulo (CCSP); e o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Recife). Obras suas figuram em coleções privadas em diversos países.
Cuquinha explica que “Transição de Fase” é um termo da física, que retrata a mudança do sólido ao líquido, ou do líquido ao gasoso. “Dentro da exposição, porém, abrange mais: é partir de um território familiar e conhecido para um território novo não-doméstico”, diz o artista, que viveu a condição de imigrante no Reino Unido, por cinco anos.
O conjunto exposto dialoga com a temática da imigração; reúne dezenas de obras e uma instalação sonora, criada em parceria com Mariana Lacerda e Muep e foi contemplado com o Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais.
No processo de criação do trabalho, durante quatro anos, em várias partes do mundo, o pernambucano Cuquinha encontrou-se com vendedores ambulantes, que vivenciavam situações de imigração. A cada um deles, propôs adquirir mercadorias que eles ofertavam, pagando o dobro do valor cobrado. Em troca, pediu um retrato de cada imigrante. Por fim, imprimiu as imagens sobre materiais como cobre, ou cédulas, com um detalhe: as superfícies tinham o mesmo valor do custo dos produtos negociados. A peça sonora, concebida em parceria com os artistas Mariana Lacerda e Muep, é composta por trechos de entrevistas com alguns dos imigrantes retratados na pesquisa.
Masahiko Fujita (1925 – 2015) foi estudante de arte, professor de desenho e pintura de tantos alunos nas cidades japonesas onde morou; advogado, ex-combatente e sobrevivente de guerra que imigrou sem problemas pela alfândega brasileira no dia 1º de abril de 1964, em pleno dia da eclosão do regime militar no Brasil, onde também desenhou e pintou muito. Não mais tanto no chão, mas sim no seu estúdio em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde se radicou após a imigração.
Seus traços entre canetas, palhetas, pincéis, óleos e aquarelas sobre as telas tiveram a força criativa do artista e professor de artes plásticas que, pelos espaços, objetos, formas e cores em seus diversos estilos, encantou alunos e o mercado das artes plásticas. No seu jeito oriental simples e sereno, com pinceladas encantadoras eternizou a capital e o Estado de MS num estilo que foi desde o abstrato às paisagens, sempre com forte personalidade artística aliada a técnica primorosa.
A grande atração pelas cores e a retratação de paisagens foi seu prazer singular e um gosto pessoal, que expressou através de ruas, prédios, casas, paisagens do cotidiano num roteiro particular transportado às telas. Seu foco nas sombras e nos volumes expressaram verdadeiro quebra-cabeças de composição de cores e criatividade. Fujita usou os limites não tão limitados de cidades, arquiteturas e panoramas para trazer um conhecimento quase centenário de arte à beleza da expressão artística.
Paisagens e concretos e tantas outras memórias e inspirações da vida de Masahiko Fujita transpuseram sua arte para telas que receberam traços de suas inspirações de vida, inclusive as que usava quando criança em desenhos sobre o chão de terra, de cimento, sob qualquer superfície no solo de Kobe, no Japão – com a imensa força criativa de um homem que até seus 90 anos, a cada dia, vivia a vida e as artes plásticas dentro de sua simplicidade oriental de saber viver e pintar a vida.
Roberto De Lamônica (1933-1995) foi um dos mais celebrados gravuristas do século XX. Pouco conhecido em Mato Grosso do Sul e no Brasil, o artista nasceu em Ponta Porã. Muito jovem seguiu para São Paulo, onde começou seus estudos na Escola de Belas Artes. Trabalhando no Masp, teve entre seus mentores artistas do porte de Poty e de Renina Katz. Em 1958 dirigiu-se ao Rio de Janeiro para estudar no Liceu de Artes e Ofícios. Na sequência, fez aperfeiçoamento com Johnny Friedlander no Museu de Arte Moderna. Ganhou autonomia e tornou-se festejado gravurista. Em 1965 foi agraciado com uma Bolsa Guggenheim. Em 1966 seguiu para Nova York. Fixou residência e foi professor em diversas instituições universitárias norte-americanas.
Enquanto esteve no Brasil, sua obra evoluiu para o expressionismo. Elaborou desenhos figurativos no início da carreira. Em seguida, os signos geométricos, numéricos e alfabéticos ganharam o primeiro plano. Por fim, amadureceram preocupações com a existência humana que se manifestaram por meio de gravuras expressionistas. Por oposição à objetividade dos signos, até então dominantes em seus trabalhos, ganharam o primeiro plano figuras humanas em processo de dissolução. O homem coisificado e informe se (des)materializava, simbolizando a massificação imposta por relações sociais marcadas por profundas desigualdades.
A mostra realizada no espaço do Marco é uma pequena demonstração da beleza estética imanente à obra de Roberto De Lamônica. Os sul-mato-grossenses, além da oportunidade de fruí-la, podem se orgulhar por ter como conterrâneo esse artista genial, um cidadão do mundo que honrou como poucos, sua terra.
Serviço:
O Museu de Arte Contemporânea fica na Rua Antônio Maria Coelho, 6000 – Parque das Nações Indígenas. Fone: (67) 3326-7449. A entrada para 3ª Temporada de Exposições é franca.
Período de visitação: 31 de outubro a 16 de dezembro de 2018
Horário de atendimento: de terça a sexta feira, das 7h30 às 17h30. Sábados, domingos e feriados das 14 às 18 horas. Escolas podem agendar visitas mediadas ao Museu por telefone. Informações também pelo site https://marcovirtual.wordpress.com/