Campo Grande (MS) – Foi aberta na noite de ontem a 4ª Temporada de Exposições no Marco. Matéria Derivado, de Guilherme Moreira, Fragmentos, de Weimar Arurda, Acidente Geográfico, de Luis Arnaldo, e obras do acervo adquiridas com recursos do Prêmio Marcantonio Vilaça/Minc/Funarte, dos artistas Ignêz Corrêa da Costa, Jorapimo e Wega Nery, trouxeram ao público um olhar mais atento e apurado e ao mesmo tempo diverso daquilo que se vê.
A cerimônia de abertura teve início com a coordenadora do Marco, Maysa Barros, agradecendo a presença de todos. “O Marco abre hoje a 4ª Temporada de Exposições totalizando 15 mostras em 2016. Agradeço a todos que nos prestigiaram, aos parceiros que tornaram possível mostrar ao público os trabalhos ao longo do ano, aos artistas desta temporada, que não mediram esforços na montagem das mostras. Este ano o Marco desenvolveu vários projetos, cumprindo sua missão de difundir a arte, tornando-a acessível ao maior número de pessoas. Agradeço ao secretário de Cultura, Athayde Nery, à presidente da Fundação de Cultura, Andréa Freire, e a toda a equipe do Marco. Desejo que aproveitem as exposições. Um Feliz Natal e um 2017 cheio de realizações”.
Weimar Arruda falou em nome dos artistas desta temporada. “Boa noite. Gostaria de agradecer em nome dos artistas por ter sido selecionada para expor no Marco. Agradeço a presença do secretário de Cultura e das pessoas que trabalham aqui.. Muito obrigada pela presença de todos”.
O secretário de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Athayde Nery, agradeceu às pessoas presentes e aos artistas que prestigiam “nossa cidade e nosso Estado”. “Temos nesta exposição Jorapimo, o artista do pantanal, Wega Nery e Ignêz Corrêa, que estão presentes nesta exposição. Este é um ano muito importante para a cultura. Comemoramos os 100 anos do nascimento do poeta Manoel de Barros, teremos ano que vem os 150 anos da Retirada da Laguna. Este é um Estado feito com vários povos, os povos indígenas, os fronteiriços com Paraguai e Bolívia, temos o Pantanal, Bonito, todas regiões acolhedoras e alvissareiras. O Marco tem o desafio de trazer estudantes para visitação, uma parceria da arte com a educação. Parabenizo este trabalho que a Maysa faz com carinho e devoção. Obrigado e boa noite a todos”.
Logo depois, os presentes foram convidados a visitar as exposições e conhecer as obras dos artistas. Luis Arnaldo é de Campinas mas mora em Belo Horizonte. Sua mostra, “Acidente Geográfico”, traz uma série de desenhos sobre papel utilizando grafite, lápis de cor, pastel seco e oleoso, cimento branco, pigmento em pó, tinta acrílica e bastão a óleo. Também traz uma série composta por duplas de fotografias com desenhos em grafite sobre argamassa de cimento. Na sala da exposição também são exibidos dois vídeos, todos documentando o processo de feitura das obras com intervenções ficcionais como sons dos trabalhos de uma construção e também com leitura de textos do livro “A perda da imagem ou através da Sierra de Gredos”.
Luis Arnaldo fala que “Acidente Geográfico” tem como mote o fracasso da arte moderna em lidar com os problemas do mundo. “Uso um desastre, que seria provocado pelo homem, um deslizamento de encosta numa grande rodovia de Belo Horizonte, com metáfora para o desmoronamento dessa tradição moderna. Retrato como a imagem não dá conta de revelar os problemas do mundo. A gente olha para os trabalhos, o que eles podem dizer é muito pouco, a imagem não dá conta do evento, pois há transformações que estão além do evento. Pretendo que a obra não seja apenas uma sedução do visível, como a história moderna pretendia, a autonomia da imagem, que acaba vendo a arte como um deleite estético. Isto me parece supérfluo neste sentido”.
O arquiteto formado pela UFMG e artista plástico pela UEMG diz que as obras retratam uma experiência que teve em 2012. “Fui visitar uma área rural de Minas e fiquei preso durante três dias numa casa sem energia elétrica por conta de um deslizamento de uma encosta. Essa documentação do desastre, dessa situação, gerou desenhos a partir de fotografias que documentam esse desastre. É a união da cultura com a natureza”.
“Matéria Derivado”, de Guilherme Moreira, traz imagens abstratas que não têm significados específicos. “O exposto é o ângulo reto. Eu venho de Brasília, tenho familiaridade com obras modernas, e para mim, a linha é muito importante, por isso utilizo o caibro e o papel. Você não vê desenho, mas tem linha o tempo inteiro. Procurei trabalhar a tridimensionalidade por meio do papel, que começa a ganhar um corpo, uma textura tridimensional”.
Guilherme é formado pela unB em Teoria Crítica e História da Arte. “Sempre tive contato com ateliês, artistas, o que me deu possibilidade de construir tudo isso. Em 2015 comecei a expor as obras em papel e madeira, retratando a relação do suporte, da forma. Os visitantes não vão encontrar um sentido como explicação, as imagens vão surgindo para cada um. A questão do espaço é importante para mim. As pessoas vão se curvar, agachar, se movimentar, a obra provoca isso. Mais do que o significado, é um contato visual”.
O artista de Brasília ficou impressionado com a sala da exposição e a estrutura do Marco. “Vinha acompanhando o trabalho do museu, com muitas exposições maravilhosas, aqui vem muitas escolas, as crianças tendo contato com a arte contemporânea. O trabalho do museu é fantástico, o espaço é incrível, eu me perdi neste espaço”.
Weimar Amorim, de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, traz recortes de obras em óleo sobre tela pregados em suporte MDF e papelão na mostra “Fragmentos”. A artista recortou obras do começo de sua carreira para compor a exposição. “E cortei as telas nesses quadrados compondo um mosaico. As obras que ficaram comigo, em casa, do início da minha carreira, na década de 1980, do jeito que estavam não me satisfaziam, daí resolvi mudar. Minha intenção era fazer sentido. Tudo começou no museu de Ribeirão preto. Fiz o rodapé com esses recortes, gostei da brincadeira e estou fazendo isso até hoje. As obras são cortadas por trás daí eu redefino os quadros. É um quebra-cabeça”, diz.
O Marco traz também seu acervo composto de obras adquiridas graças ao Prêmio Marcantonio Vilaça, do Minc/Funarte, em 2009. A coordenadora do Marco, Maysa Barros, disse que o museu tinha poucas obras dos artistas Ignêz Corrêa da Costa, Jorapimo e Wega Nery, e graças ao prêmio, pôde adquirir mais. “Nós temos essa política, de apresentar o acervo em no mínimo duas vezes por ano. O Marco tem mais de 1.600 obras. Isto tem que ser mostrado, não é só para ficar guardado”.
As exposições desta quarta temporada vão ficar abertas para visitação até 22 de janeiro de 2017. O Marco está aberto ao público de terça a sexta-feira, das 7h30 às 17h30, e aos sábados, domingos e feriados das 14 às 18 horas. O Museu fica na rua Antônio Maria Coelho, 6000, Parque das Nações Indígenas. Telefone: (67) 3326-7449.