Uma obra de arte afro-brasileira mestiça, a cantora e atriz baiana Mariene de Castro, dona de uma voz poderosa que encantou o público no encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016, vai se apresentar na última noite do Festival América do Sul Pantanal 2016, no dia 14 de novembro de 2016, às 22h30, na Praça Generoso Ponce. Mariene vai apresentar o show “Colheita”, nome de seu terceiro álbum de estúdio e o quinto da carreira, em que ela se mostra fiel a seus princípios, que emanam da cultura popular, com “a força que vem da raiz”.
Mariene de Castro despontou no cenário musical brasileiro identificada como uma força da natureza. A intimidade com o palco, que fica latente a quem assiste a um show da artista, começou muito cedo. Aos cinco anos, ela já se apresentava em espetáculos de dança no Teatro Castro Alves, em Salvador, sua cidade natal. Na adolescência, soltava a voz como integrante do grupo Timbalada, de Carlinhos Brown e, em 1996, teve a oportunidade de realizar seu primeiro show solo, no Pelourinho. No mesmo dia, na plateia, estavam produtores franceses que se encantaram por Mariene e a convidaram para uma turnê por 20 cidades da França. Na ocasião, chegou a ser comparada pela crítica local à mítica cantora Edith Piaf, pela força de sua interpretação e a singularidade de seu timbre vocal.
Em 2004, ganhou o Prêmio Brasken de Música e gravou o seu primeiro CD, Abre Caminho, escolhido no ano seguinte como o Melhor Disco Regional no Prêmio TIM. O segundo álbum, Santo de Casa – Ao Vivo, foi lançado em 2010, com a sala principal do Teatro Castro Alves completamente lotada. Antes do tributo a Clara, Mariene lançou ainda o álbum Tabaroinha, em 2012, e vem conquistando o reconhecimento de nomes de peso no mundo do samba, como Beth Carvalho, que a convidou para participar de seu CD e DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia.
Lançado em 2012, o DVD Ser de Luz tem no coro a participação especial de três integrantes da Velha Guarda da Portela: Tia Surica, Áurea Maria e Neide Sant’Anna, que conviveram com Clara Nunes e também ajudaram a orientar a cantora baiana fora de cena. João Nogueira foi compadre de Clara, e seu filho, Diogo, participa do tributo dividindo com Mariene a música Juízo Final, de Nelson Cavaquinho. Com Zeca Pagodinho, ela canta Coisa da Antiga, de Wilson Moreira e Nei Lopes. Clássicos como Conto de Areia (Romildo/Toninho), Guerreira (Paulo César Pinheiro/João Nogueira), A Deusa dos Orixás (Toninho/Romildo), O Mar Serenou (Candeia), entre outros grandes sucessos da saudosa cantora mineira estão no DVD.
Na safra de 2014, surge uma Mariene naturalmente mais madura e segura, ocasião em que se tornou naciolnamente conhecida – e o resultado de tanta dedicação faz de “Colheita “uma verdadeira obra de arte afro-brasileira mestiça”, como ela comenta no encarte do CD. “Esse projeto foi realizado de forma bem integrada e coletiva, com todo mundo colaborando e dando sugestões. Ficamos um mês convivendo juntos na casa do estúdio Toca do Bandido, o que contribuiu muito para o resultado”.
Samba e candomblé, atabaques e cordas, o rústico e o polido, o festivo e o amoroso, Amazônia e Cabo Verde: na ponte Rio-Bahia, Mariene congrega diversas influências, misturando ritmos, temas e tempos, num momento em que a cantora até modula a voz de maneira diferente dos álbuns anteriores, revelando-se mais suave. “A leveza do meu momento pessoal foi pro canto também”, diz ela. “Até pra mim foi uma descoberta. Eu já vinha cantando algumas coisas mais leves e isso ficou mais presente nesse disco. Mas sou a mesma Mariene do início. Esse repertório foi escolhido pelo coração”.
“Nós Dois” (Cartola) e “Retrato da Vida” (Dominguinhos / Djavan) são dois momentos exemplares dessa leveza no CD. Outra canção de amor, “Impossível Acreditar Que Perdi Você”, sucesso de Marcio Greyck, que a compôs com Cobel nos anos 70, Mariene decidiu gravar ao ouvi-la na trilha sonora do filme “Quase Samba”, de Ricardo Targino, em que atuou como protagonista ao lado de Otto.
Zeca pagodinho a presenteou com “Colheita”, que Nelson Rufino tinha dado a ele para gravar. “Observando a minha história, parece que essa música foi feita pra mim”, diz Mariene, que registrou o samba em duo com Zeca, por gratidão a ele.
Roque Ferreira é um caso à parte na história de Mariene. Presença constante no repertório da cantora, ele assina quatro faixas de “Colheita”: “Oxóssi”, “Tirilê” (parceria com Dunga), “Mágoa” (com Toninho Geraes) e “A Força Que Vem da Raiz”, está uma canção antiga, que deu nome ao bem-sucedido show que ela fez em Salvador, depois de uma temporada na Europa no final da década de 1990.
Cigarra com espírito de formiga, Mariene conquistou merecido prestígio entre o público, especialistas em música popular e artistas compatíveis com seu talento, que lhe abriram caminhos e hoje correspondem à admiração e ao respeito dela por eles. Pela força dessas raízes, juntando cores, amores e sabores que unem Rio e Bahia desde que o samba é samba, a arte de Mariene se ramifica para aumentar o apetite de um território musical sem fronteiras, com o tempero próprio dela.
O show de Mariene de Castro será no dia 14 de novembro de 2016, às 22h30, na Praça Generoso Ponce.