Memória primitiva influência na personalidade e nas atitudes do ser humano

Assim como nos animais, os seres humanos também possuem instintos primitivos, resultados da herança genética, passada de forma embrionária, e que influencia na personalidade e tomada de decisões.

Escritor e filósofo Fabiano de Abreu – Foto: Jennifer de Paula / Viver Pode Não Ser Tão Ruim

O jornalista, escritor, filósofo e pesquisador Fabiano de Abreu explica que no cérebro coexistem as mentes inconsciente, subconsciente e a memória primitiva. “O subconsciente está localizado abaixo da consciência e pode ser facilmente acessado se você se esforçar para isso. Já o inconsciente é uma espécie de local onde estão arquivadas todas as informações que absorvemos ao longo da vida, como um banco de dados que se encontra reprimido pelo nosso cérebro e que não é facilmente acessado pela mente consciente”.

Nesse contexto, a memória primitiva é um “ante inconsciente”, uma lembrança ancestral implantada durante a formação fetal e é comum a todos que nascem. “Nós seres humanos compartilhamos uma essência que nos une. É como um comboio, que nos inclina a viver em sociedade, e a ter uma percepção comum de nós mesmos, e dos outros”.

O responsável por transmitir essa memória é o esfenóide — osso irregular ímpar, que se situa na base do crânio anteriormente aos temporais—. “Em 60 milhões de anos o esfenóide mudou de forma cinco vezes. É um dos ossos mais complexos do crânio e se modifica de acordo com a evolução da espécie. Sendo um dos primeiros a se formar no embrião”.

Nos casos de má formação do esfenóide pode haver a deformação de todos os outros ossos, pois ele dá assento às zonas mais recônditas e misteriosas do cérebro, e é a sede dos instintos, emoções e sonhos. “Quando geramos um filho, passamos essa nossa memória ancestral impressa, e que nos forma, a esse novo ser que se desenvolve intrauterinamente; essa é uma explicação plausível. Nossa herança pode estar justamente impressa no esfenóide e ser transpassada posteriormente ao cérebro”.

As informações carregadas pelo esfenóide são ancestrais, resultado de milhares de anos de evolução. “Seria ilógico pensarmos que nossas características mentais vêm de ontem e não de milhares de anos. Somos o produto de um passado pré-histórico com uma mente primitiva que se desenvolve constantemente, mas que revela, de quando em vez, atos instintivos que nos remetem a comportamentos de nossos ancestrais distantes”, argumenta Fabiano.

A memória ancestral guarda as características que são consequências das adaptações inteligentes que foram necessárias, ao longo do tempo, para que o ser humano pudesse sobreviver. “Acumulamos uma infinidade de conhecimentos que serviam para os nossos ancestrais e que foram adaptados para a nossa vida moderna. Somos a vivência cultural de milhares de anos atrás.”

O cérebro selecionou os principais comportamentos e instintos de sobrevivência  necessários ao longo de nossa existência, sendo a maior parte não-física. “A memória dos eventos dos nossos ancestrais pode estar gravada e impressa em nosso ante inconsciente. Algumas ações irracionais não nos servem mais, mas muitos ainda revelam instintos primitivos em sua maneira de agir e pensar, mesmo nos dias atuais”

O filósofo acredita que o objetivo da mente primitiva é a sobrevivência, e que esta mantém a cultura e os costumes, assim como traumas e personalidades do passado. “A nossa mente, atualmente, ultrapassou a significância da sobrevivência para um outro nível, mas mantemos o cognitivo, não de uma experiência de vida atual, mas sim, de uma ancestralidade”.

Fatos que podem comprovar que possuímos uma mente primitiva implantada em nosso DNA:

  • Quando o bebe nasce, instintivamente ele procura o alimento no peito da mãe! Ele fecha os olhos quando alguma ameaça se aproxima do seu rosto! Ele já sai da barriga da mãe respirando!
  • O egoísmo humano, de onde veio? O “gene egoísta” exerce uma influência massiva tanto no desenvolvimento evolutivo quanto na psicologia da mente humana. Não apenas afeta nossa luta por recursos e parceiros, como também define os termos nos quais nossas vidas sexual e familiar evoluem.
  • Por que formamos núcleos de amizades? Começamos a viver em grupos para melhor nos defender de predadores, e isso exigiu de cada animal “negociar” uma rede de apoio, aceitar hierarquias para se defender das inimizades. Ainda mantemos essa linha de pensamento e nos agrupamos porque quando fazemos parte de um grupo nos sentimos mais seguros.
  • Algumas mulheres ainda se sentem fortemente atraídas por características físicas masculinas que denotam força e virilidade, e que nos fazem lembrar as características físicas de nossos ancestrais primitivos. Quanto mais fortes eram, maior segurança, poderiam oferecer a suas mulheres, e aos seus filhos. Isso vem da era pré-histórica para a formação da família e reprodução. Buscavam proteção para a sobrevivência.
  • Todos os sentimentos que envolvem os 7 pecados capitais são uma herança da nossa mente primitiva.
  • Herdamos sentimentos e emoções. Não nos foi ensinado, está em nossa mente primitiva.
  • O homem antigo passava seus dias procurando, caçando e coletando alimentos. O que o fazia passar suas noites relaxando e banqueteando-se com tudo o que havia sido conquistado por ele. Por isso ainda sentimos fome à noite.
  • Já parou para pensar nas suas oscilações emocionais? Naquele momento que tudo e todos são chatos e já não há vontade de quase nada? Não, isso não é uma depressão, isso é o marasmo que está a consumir com a falta de acontecimentos e causam desânimo. Não esqueça que no passado vivíamos uma vida agitada nos preocupando em caçar, plantar, colher, utilizávamos de ações que hoje já não precisamos. É só trabalhar, ganhar o salário e ir no mercado comprar que está resolvido. Mas nosso corpo pede a movimentação que está gravada em nossa mente primitiva.
  • Os melhores exemplos do que seria a memória primitiva estão no campo das emoções, na forma de ver e sentir a vida, algo que não é ensinado e já é transparecido desde o nascimento. Quem nos ensinou a agir com todas essas emoções após o nascimento e ao longo da vida? A memória ancestral que vai desde o ontem, cem anos, mil anos e milhares de anos atrás.

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