Campo Grande (MS) – Em palestra, o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Mangabeira Unger, destaca a agricultura como um dos setores de vanguarda capaz de alavancar o desenvolvimento igualitário dentro do território nacional, em especial no chamado Brasil Central, composto pela região Centro-Oeste e Tocantins. “Devemos superar o contraste meramente ideológico entre Agricultura Familiar e a Empresarial. Não há duas agriculturas no mundo. Temos que evitar o contraste entre cidade cheia e campo vazio, promovendo uma classe média rural forte, não apenas na região Sul, onde historicamente existe uma classe média rural forte, mas em todo o País”, afirmou.
Mato Grosso do Sul foi a primeira parada do ministro após a criação no último dia 03, em Goiânia, do Movimento Brasil Central, que é formado pelos estados do Centro-Oeste e do Tocantins. A palestra contou com a presença do governador do Estado, Reinaldo Azambuja.
Combater o sistema de oligopólio na agricultura, promover a associação dos produtores rurais, recuperar áreas degradas e incentivar a industrialização sustentável por meio da bioquímica e da bioagricultura foram algumas das alternativas apontadas para se obter o desenvolvimento sustentável. “Na generalidade do nosso mercado agrícola, os vendedores de insumos e os compradores de produtos são cartéis e os produtores estão fragmentados. A primeira classe é a que fica com boa parte do leão, ganhos. É preciso mudar esse quadro, promovendo a associação entre produtores e organizando por meio do poder público a comercialização de seus produtos”.
Para o diretor–presidente da Agraer, Enelvo Felini, o atual governo de Mato Grosso Sul tem se mostrado interessado em seguir essa linha de desenvolvimento exposta por Mangabeira. “O papel da Agraer e da Sepaf [Secretaria de Estado Produção e Agricultura Familiar] é fortalecer o homem do campo através de serviços de assistência técnica para que ele negocie seus produtos e aumente as finanças. Nesse aspecto está em andamento o projeto ‘Terra Boa’, que busca facilitar o acesso de calcário e fertilizantes para correção do solo. A meta é que cada produtor corrija um hectare de terra por ano”, disse.
Em fase final, o projeto segue em análise pelo governador do Estado, Reinaldo Azambuja, para que seja aprovado e, na sequência, lançado. A perceptiva é que até o final do ano o “Terra Boa” comece a ser executado, atendendo uma média de 10 a 16 mil famílias nos dois primeiros anos, para depois atingir a marca de 30 mil propriedades até o final da gestão.
Brasil Central
Na palestra “Desenvolvimento e Sustentabilidade no Brasil Central”, realizada na quarta-feira (07), Mangabeira abordou as principais estratégias para a promoção do desenvolvimento socioeconômico brasileiro e ainda apontou tópicos de sua tese, destinada a municípios com baixa renda e alta vulnerabilidade social. Segundo o ministro, são essas cidades que podem exercer um papel central no novo modelo de desenvolvimento do Brasil, caso recebam a atenção dos três poderes: Município, Estado e União.
A visita de Mangabeira a Mato Grosso do Sul integra o projeto de construção de uma política regional que tem como objetivo alavancar um projeto de desenvolvimento para o País, com base no encontro dos governadores dos quatro estados (MS, MT, GO e TO), promovido na sexta-feira passada. “Percebe-se que as regiões nunca trabalharam unidas. Pela primeira vez, os governantes do Brasil Central se reuniram em Goiânia. Juntos esses estados podem estar na vanguarda do desenvolvimento nacional”, disse.
Produtivismo includente, inovações tecnológicas e investimentos em educação através da capacitação profissional e qualificação do ensino público, em especial o de nível básico, foram alguns dos pontos expostos no encontro. O ministro tem viajado, a pedido do governo Federal, por todos os estados, para estimular os governantes a uma articulação que impulsione a nova fase do desenvolvimento brasileiro.
Ministro
Mangabeira é filosofo e leciona na Universidade de Haward, na qual cursou o doutorado. Além de ser graduado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Detentor de uma trajetória acadêmica reconhecida internacionalmente, seus trabalhos na área de teoria social, já foram citados por autores como Jurgen Habermas e Richard Rorty. Ele também ocupou o cargo de ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no governo Federal, entre os anos de 2007 e 2009.