Rio de Janeiro (RJ) – As mortes por hipertensão arterial em mulheres aumentaram significativamente nos últimos anos no Brasil, possivelmente devido a dificuldades no acesso a cuidados de saúde, de acordo com o relatório Evolução da mortalidade cardiovascular em mulheres, publicado em 8 de março de 2023 pelo Observatório da Saúde Cardiovascular do Instituto Nacional de Cardiologia (INC).
O relatório detalha a evolução das causas de morte cardiovascular entre mulheres de 2006 a 2021, mostrando o impacto das diferentes doenças na mortalidade. Em 2020 e 2021, a hipertensão foi a quinta causa de morte mais frequente entre mulheres, superando o câncer de mama e o acidente vascular cerebral. Foram 19.289 mortes em 2020 contra 14.178 em 2019 – um aumento de 36%. Em 2021, as mortes por hipertensão chegaram a 20.076.
A hipertensão pode levar à morte por insuficiência cardíaca aguda, edema pulmonar ou cerebral, por exemplo. Ao contrário de várias outras doenças cardiovasculares, a morte por hipertensão é mais frequente entre mulheres. Como sua incidência e mortalidade estão fortemente associadas à idade, os números apresentavam aumento gradual. Contudo, houve uma aceleração significativa dessa mortalidade nos últimos dois anos analisados pelo relatório.
De acordo com o Dr. Bernardo Rangel Tura, médico e pesquisador do Observatório de Saúde Cardiovascular, isso pode refletir problemas de acesso ao tratamento da doença, já que os tratamentos ofertados pelo SUS são eficazes em conter a mortalidade por hipertensão.
“Esse aumento está diretamente ligado à pandemia de Covid-19, que nós ainda estamos vivendo. O motivo provável é a dificuldade de acesso aos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, farmacêuticos), bem como a dificuldade de acesso ao tratamento. Com a questão da epidemia e a modificação na priorização dos gastos, tivemos dificuldade de acesso aos medicamentos”, esclarece ele.
O relatório também mostra o impacto da Covid-19 nas estatísticas de mortalidade: em 2020 e 2021, a Covid-19 foi a maior causa de morte entre as mulheres brasileiras, superando muito o infarto agudo do miocárdio e a pneumonia, que eram as causas mais frequentes nos anos anteriores, seguidas pelo câncer de mama, acidente vascular cerebral e causas mal definidas.
Em 2020 e 2021, câncer de mama e acidente vascular cerebral sequer estiveram entre as cinco causas de morte mais frequentes. A Covid-19 liderou o ranking nesses dois anos, seguida, nesta ordem, por infarto agudo do miocárdio, causas mal definidas, pneumonia e, como já mencionado, a hipertensão.
Segundo o Dr. Bernardo Tura, para reduzir as mortes por pressão alta em mulheres, é necessário, em primeiro lugar, controlar a epidemia de Covid-19, incentivando a vacinação, e investir em uma política de assistência à saúde que garanta o melhor cuidado.
“É necessária a criação de uma linha de cuidado para hipertensão arterial, tanto na atenção básica quanto na atenção especializada. Por fim, é necessário reconstruir políticas de saúde como a farmácia popular, que disponibilizem a medicação gratuita para as pessoas que precisam de tratamento”, destaca ele.
Causas de morte entre mulheres no Brasil – 2018
IAM (infarto agudo do miocárdio) 37574
Pneumonia 31710
Câncer de mama 17125
AVC 15868
Causas mal definidas 15797
Causas de morte entre mulheres no Brasil – 2019
IAM (infarto agudo do miocárdio) 38309
Pneumonia 31747
Causas mal definidas 18125
Câncer de mama 17694
AVC 15933
Causas de morte entre mulheres no Brasil – 2020
Covid-19 87797
IAM (infarto agudo do miocárdio) 35663
Causas mal definidas 22395
Pneumonia 21616
Hipertensão 19289
Causas de morte entre mulheres no Brasil – 2021
Covid-19 180810
IAM (infarto agudo do miocárdio) 37481
Causas mal definidas 26289
Pneumonia 21009
Hipertensão 20076