A ONU utiliza o conceito de mortes evitáveis para tratar daquelas mortes preveníveis por ações efetivas dos serviços de saúde que devem ser acessíveis em um determinado local e época. No entanto, a perplexidade diante das tragédias que vivenciamos nos últimos dias no Brasil nos fazem refletir se elas também não seriam evitáveis. O que faltou para que isso acontecesse?
Tivessem os gestores da Vale pensado que suas residências poderiam estar localizadas em Brumadinho para que garantissem a segurança da barragem da Mina Córrego do Feijão. Tivessem os gestores do Flamengo organizado o alojamento como se fosse para seus filhos e netos, e a infraestrutura estaria adequada para garantir o sono seguro dos meninos.
Tivessem os responsáveis não priorizado a economia e a ganância, e o time da Chapecoense teria viajado em segurança, com combustível suficiente, da mesma forma que os jovens da boate Kiss teriam comemorado os próximos aniversários de vida e tantos outros choros teriam sido evitados.
Mas a valorização da vida passa por cada um de nós em nossas escolhas rotineiras. Bastaria lembrar que, decorridos dez minutos de uma discussão no trânsito, o episódio já não terá mais nenhuma influência nas nossas vidas. Fôssemos capazes de evitar a discussão e aquele pai retornaria à sua família como em um dia normal.
Depois de uma tragédia, nos resta lutar e esperar por justiça, seja lá o que isso possa significar no ambiente legal e financeiro. No entanto, como cidadãos, precisamos desenvolver a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. O que faltou é o que falta toda vez: que não cuidamos do outro como cuidaríamos de nós ou dos nossos. Muito diferente do que se diz no ambiente corporativo, precisamos lembrar que as pessoas são insubstituíveis, sim!
Pergunte para uma mãe, um pai, uma esposa ou um irmão, se é possível esquecer a saudade de quem se foi. Tente descobrir quem conseguiu abafar essa dor. No campo da sustentabilidade, o elo chamado social clama por este entendimento. Sejamos capazes de assumir nossos papéis sociais e corporativos, assim como assumimos os papéis familiares. Liderar significa, inclusive, garantir que cada colaborador retorne para seu lar, para os braços daqueles que o aguardam incondicionalmente.
*Gleriani Ferreira é professora de Sustentabilidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville