Teimo em dizer que Corumbá teve várias fases. Entretanto poéticamente percebo um impulso com a chegada da primeira locomotiva em 1914. Assim, em 12 de janeiro de 1915, o modernismo despontava em Portugal, e em um outro ponto do planeta: rua 13 de maio nº. 615 na cidade de Corumbá, abria os olhos pra vida, uma criança que curiosamente recebera o nome de Lobivar. Por conta de um erro do tabelião ao se confundir na escuta com Lorival. E a partir deste momento um vento poético assoviava sobre a cidade, assim foi com: “Era no doce tempo da quimera, Era o tempo risonho dos amores Em que, no campo, o repontar de flores Anuncia o sorrir da primavera. Franklin Cassiano da Silva, também corumbaense que nasceu a 1º de maio de 1891 e faleceu em Cuiabá, a 9 de junho de 1940.
No mesmo ano de nascimento evocamos Pedro Medeiros, poeta corumbaense, nascido a 25 de novembro de 1891, falecido a 12 de abril de 1943 que escreveu: “Relicário de tantas ilusões! Ninho de fantasias, Escrínio de alegrias, – Cofre de emoções!” Os anos passam até ouvirmos “E vivendo confirmou Que o amor não tem regra Ele escreveu a poesia: Um anjo está dormindo! E Eu digo: O anjo que está dormindo, Agora está sonhando; Todos estamos sentindo A saudade que está deixando. Os versos são do poeta Balbino de Oliveira, em uma homenagem, em forma de poemeto a Ricardo Benedito Arguello.
Quando menos se espera a inspiração traz “Corumbá Terra distante do meu espaço físico, Mas…tua imagem sempre viva. No canto dos passarinhos, E em tudo que trago comigo. Ao degustar uma manga, Sinto o teu sabor. No cheiro do tarumã, Sinto o teu odor. Parte de poema de Jane Baruki Ferreira, autora de “Prelúdio para o despertar”. Sem esquecer do poeta Eliney Gaertner: “Terra de águas, fogo/Ferro, cal, areias/Fim de mundo/Terra branca…Por te amar, fui encantado/Tornei-me tronco/Tenho os pés fincados aqui/A alma já não me pertence/Enraizou na terra!” Mas um destes além de ser poeta ao meu ver representa a resistência da cultura na cidade, atualmente. Benedito Carlos Gonçalves Lima, que junto ao pintor Jamil Canavarros, entre outros; aninharam o projeto “Passa na Praça /Que a Arte te Abraça”, mas isso tudo tem uma história, pois a longa trajetória cultural provém ainda de sua juventude, enquanto aluno da Escola Estadual Maria Leite de Barros.
Em torno de 1969 incentivados pela diretora da instituição, Magali de Souza Baruki, os alunos passaram a escrever poesias e inclusive integraram um Concurso Interno de Trovas no qual apareceram nomes como Nilton Grey Otto Lins, Eucliades Añez, André de Pinho Sobrinho, João Barbosa Jr., Jair Elias Gibaile, Luiz Carlos Cristóvão da Silva. Os anseios daqueles jovens poetas não se limitaram e logo buscaram amadurecer a ideia de criação de um grupo voltado ao incentivo da proeminência da arte poética na cidade Branca. Em 1972, os estudantes passaram se reunir na residência do compositor Luiz Cambará, dando origem a Escola Poética Castro Alves. Mas o ímpeto era ainda maior permutando o nome, logo depois, para PEC – Poetas Estudantis de Corumbá.
Também se reuniram na residência da imortal Izulina Xavier, com 96 anos comemorados em 18 de abril, próximo passado. Artista a quem sou muito grato por desenhar e formatar o busto do meu avô, hoje aberto à visitação pública no Mirante Pantaneiro, no município de Ladário. Entrementes, mais tarde, em outras reuniões do grupo, onde compareceram nomes memoráveis como Hélio Benzi, Jair Elias Gibaile, Wilson Gomes Maria, Marluci Brasil de Castro, Luiz Carlos Cristovão da Silva, André de Pinho Sobrinho e Rubens Galharte, fomentaram o grupo ALEC- Arte Literária Estudantil de Corumbá. O grupo ALEC lançou diversas coletâneas, cerca de mais de quarenta, a primeira foi a Nossa Mensagem (capa da foto) e recentemente Poetas do Café Literário e já organizam uma comemorativa pelos 50 anos.
Infelizmente a vida cultural da Cidade Branca, mudou. Corumbá, há décadas, pelo menos 5 cinemas em funcionamento, salões de teatro, ateliês, e sobretudo, uma comunidade envolvida na Cultura e incentivada pelo empresariado fronteiriço, para propagação da arte regional. Atualmente pela própria Covid-19 há um visível enfraquecimento na área. Mas os incansáveis abnegados não hesitarão em ombrear esforços pelo soerguer da cultura, aliados ao emérito professor Êneo Vila da Nóbrega, o poeta Balbino Gonçalves de Oliveira, Elino Crisólogo, Milena Mônaco e justamente quem estiver lendo esse artigo…depende de nós, essa e qualquer outra mudança. Conseguimos a sala do Poeta na casa do inesquecível Dr. Gabriel Vandoni de Barros, aliás Gabriel Vandoni de Barros, o incomensurável Doutor Gabi, que nasceu em 10 de julho de 1907. Pantaneiros da Nhecolândia, sempre esteve à frente do seu tempo. Foi advogado, jornalista, escritor, político, pecuarista, benfeitor da cultura pantaneira e da educação das crianças carentes em Corumbá. Faz parte da história por ter expressado o sentimento do homem pantaneiro na defesa de sua cultura e pecuária tradicional, assumindo posições de destaque nas decisões da política regional como influente articulista dos jornais que fundou, homem que nos espelha e inspira. Apenas como exemplo, na área educacional, estendeu a mão de benfeitor ao desenvolver um projeto de expansão do pré-escolar – iniciativa revolucionária na época – construindo 13 espaços anexos às escolas públicas, em formato de estrela, um marco na educação de Corumbá e Ladário. A primeira obra foi a construção, em terreno próprio, do prédio onde hoje funciona a Escola Estrelinha Verde, na Avenida Porto Carrero. Mesmo com exemplos a serem seguidos, é certo que falta muito a fazer, e só unidos o amor, a cultura e a educação caminham. Essa é a NOSSA MENSAGEM!
*Articulista
Na época os atores citados da novela eram da tv Tupi.