São Paulo (SP) – Diante das demandas de atendimento crescentes por leitos de UTIs em todo o País, novos dispositivos surgem para ajudar os profissionais de saúde e médicos intensivistas no manejo dos pacientes de forma mais segura e, assim, garantir a saúde destes profissionais.
Circula em alguns veículos da imprensa e maciçamente em redes sociais a utilização de novos dispositivos tipo “câmara, tendas e boxes” para contenção de aerossóis durante a aplicação de oxigenioterapia suplementar e/ou uso de Ventilação Não-Invasiva no tratamento de pacientes com COVID-19 e sobre uma cápsula acrílica, do tipo ‘hood’, semelhante à usada como proteção em recém-nascidos que precisam de oxigenação para ser usada durante o acesso às vias aéreas do paciente. Esta cápsula foi desenvolvida para proteger médicos intensivistas e fisioterapeutas que participam do processo de intubação e extubação de pacientes durante a aplicação de ventilação não invasiva em ambientes hospitalares. Em tese, elas poderiam evitar que profissionais de saúde tenham contato com fluidos de pacientes durante estes procedimentos em que há o risco de tosse e aerossolização de partículas e, assim, não se contaminem.
Entretanto a AMIB, ABRAMEDE, ASSOBRAFIR e a SOBRASP, têm considerações sobre este dispositivo que precisam ser debatidas antes que seja aplicado em UTIs:
- Não há estudos clínicos que comprovem a eficácia do dispositivo como forma de proteção para os profissionais de saúde. Como não há comprovação de eficácia baseada em estudos adequadamente desenhados, há ainda a necessidade de uso de todos os equipamentos de proteção individual necessários, mesmo neste cenário. Há ainda relatos de profissionais de saúde com dificuldade em manipular equipamentos e manusear o paciente durante o procedimento com estes dispositivos, o que poderia em tese aumentar a chance de contaminação em alguns casos;
- A caixa acrílica precisaria ser descontaminada por meio da autoclave, o que poderia danificar permanentemente o material do dispositivo. Como não há a possibilidade da descontaminação pelo processo mais seguro, há o risco de grande aglomeração de patógenos que podem contaminar pacientes e profissionais;
- A substituição do acrílico por material mais maleável, como plástico, poderia ser uma alternativa, pois seria descartado após o procedimento, mas, como não há evidências da segurança desta alternativa, o mais prudente e seguro é levar o dispositivo para testes e estudos clínicos para validação de sua eficácia e, somente após este processo, ser usado em ambientes hospitalares com a finalidade de proteção.
Quanto aos dispositivos tipo “câmara, tendas e boxes” para uso com Ventilação Não-Invasiva convencional com aparelhos de BiPAP e CPAP, a AMIB coloca as seguintes considerações:
- Na atualidade (abril/2020) não há estudos científicos que comprovem que a utilização de câmara, tendas e boxes para contenção de aerossóis durante a aplicação de oxigenioterapia suplementar e/ou uso de Ventilação Não-Invasiva traga EFETIVA PROTEÇÃO para os profissionais de saúde envolvidos.
- Na atualidade (abril/2020) não há estudos científicos que comprovem que a utilização de câmara, tendas e boxes para contenção de aerossóis durante a aplicação de oxigenioterapia suplementar e/ou uso de Ventilação Não-Invasiva traga benefício clínico no atendimento do paciente com infecção suspeita ou confirmada por coronavírus.
- A AMIB, ABRAMEDE, ASSOBRAFIR e a SOBRASP apoiam e elogiam a iniciativa de inovação que possa somar nessa atual crise causada pela pandemia. No entanto, há questões que precisam ser respondidas de forma científica sobre o uso dessas novas tecnologias, equipamentos e recursos, em sendo:
- O uso de aparelhos de Ventilação não-invasiva de ramo único enseja o uso de máscaras que causam necessariamente vazamento de ar para o funcionamento adequado. O objetivo da tenda/câmara/box é tentar mitigar a aerossolização que acontecerá de forma inevitável e, em tese, proteger a equipe. No atual conhecimento científico, não é possível tal proteção acontecer de forma plena senão com o uso dos Equipamentos de Proteção Individual e sob paramentação adequada contra procedimentos aerossolizantes. Desta forma, se a equipe multiprofissional tiver que continuar a usar estes EPI padronizados, não há necessidade de uso dos novos equipamentos propostos.
- Outros questionamentos como: acúmulo de gás carbônico; como será feito o descarte seguro do ar de dentro da câmara e qual a real melhora na efetividade do processo de ventilação não invasiva nesta condição restam ainda ser investigados e esclarecidos usando-se o padrão científico devido.
- Criação de falsa sensação de segurança para os profissionais de saúde de tais unidades, de que, com o uso destes novos equipamentos propostos, estarão protegidos sem o uso dos devidos EPI, passando a não mais usá-los, ficando expostos ao vírus.
Considerando-se o exposto acima, ciente e sensível acerca das dificuldades de infraestrutura e acesso a recursos de EPI que passa o Brasil e o mundo, as associações reforçam que o uso destes novos equipamentos propostos não substitui o uso dos Equipamentos de Proteção Individual adequados contra procedimentos de aerossolização e gotículas.
A AMIB, ABRAMEDE, ASSOBRAFIR e a SOBRASP compreendem ainda que, em tempos de pandemia, todas as ações são louváveis para driblarmos da melhor forma possível as consequências que o COVID-19 traz para a sociedade mundial, porém precisamos levar em consideração os riscos reais que as alternativas podem trazer para os profissionais de saúde e pacientes internados em UTI: é um processo em que todos os medicamentos, equipamentos hospitalares e procedimentos de saúde precisam tramitar para ter validação científica e aprovação das agências reguladores de saúde, seguindo os rigores do procedimento científico padrão.
As associações reforçam ainda que a contaminação pela doença está se alastrando por todo o País e está deixando as grandes cidades para ocupar também as cidades menores e comunidades mais vulneráveis. Por isso que no momento o ISOLAMENTO SOCIAL ainda é a melhor atitude que todos os cidadãos podem ter para diminuir o avanço da doença e permitir que hospitais consigam atender os casos mais graves de maneira mais efetiva.