A vida das crianças é uma constante inauguração e autoria. Para reconhecer isso nelas, basta escutá-las e observá-las. Ao mesmo tempo, a escola também faz parte dessa experiência, apresentando às crianças outros saberes e todo um mundo. No mês em que se comemora o Dia das Crianças (12/10) e também o Dia dos Professores (15/10), o programa Escolas Transformadoras faz um convite para os educadores e as escolas considerarem a concepção de escola para a infância de forma criativa.
O capítulo “Conexão Brasília-Manaus-Barcelona: reconhecer as crianças, investigar concepções, reinventar a escola”, que faz parte do novo livro digital “Criatividade – mudar a educação, transformar o mundo“, apresenta um debate sobre a concepção de escola para a infância, sua relação com a comunidade e as tensões entre o planejamento e o espontâneo, entre tantos outros temas relacionados à educação infantil. A publicação foi organizada pelo programa Escolas Transformadoras, correalizado no Brasil pela Ashoka e pelo Instituto Alana.
O texto foi elaborado a partir de uma entrevista conduzida por Raquel Franzim, coordenadora do Programa Escolas Transformadoras, com Levindo Diniz Carvalho, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, a Associação Pró-Educação Vivendo e Aprendendo (Brasília), representada por Pablo Martins e Wilma Lino, e o Centro Municipal de Educação Infantil Hermann Gmeiner (Manaus), representado por Lucianny Matias, Maria Estela dos Santos e Zilene Trovão.
Como lidar no cotidiano com esses dois lugares – o espontâneo e o planejado dentro de uma escola pública? Esse foi um dos questionamentos da educadora Zilene Trovão, do Centro Municipal de Educação Infantil Hermann Gmeiner. A escola, até então, adotava o sistema de apostilamento, focando na alfabetização das crianças. Essa realidade mudou quando a equipe pedagógica começou a estudar sobre educação integral e democrática, e percebeu que teria que sair do tradicional para transformar a escola.
“Tivemos que ser criativos e começamos repensando os espaços de aprendizagem e enxergamos que tínhamos um espaço muito bom. Aqui, vivemos na floresta, temos aqui muitas árvores, gravetos e sementes, que passamos a valorizar e a utilizar no dia a dia como instrumentos do fazer pedagógico. As crianças começaram a colher folhas secas, insetos e sementes. A educação integral mediou esse processo de desconstrução”, conta Zilene.
Essa ação é apenas um exemplo de como a criatividade está presente na escola e nas expectativas de aprendizagem. Outra experiência que valoriza a criatividade no cotidiano escolar aconteceu em Brasília, na Associação Pró-Educação Vivendo e Aprendendo. Pablo Martins, professor da escola, explica que, por lá, os educadores passaram a reconhecer a criança como um sujeito de saberes. Para ele, a criatividade “é um valor e uma oportunidade que os sujeitos têm de construir a si mesmos, expressando sua individualidade, seus desejos, suas hipóteses éticas e estéticas sobre o mundo”.
A educadora Wilma Lino, também da escola Vivendo e Aprendendo, ressalta que esse reconhecimento da criança como sujeito de desejos só ocorre quando o educador pratica a escuta e a observação. “No dia a dia, é importante observar a criança, seu jeito, sua história e, a partir daí, trabalhar formas de abrir espaço para que a criatividade se expresse espontaneamente, sem que os adultos direcionem as atividades”, diz.
“Criatividade – mudar a educação, transformar o mundo”
Escrito por estudantes, professores, gestores de escola, pesquisadores, profissionais do setor social e professores universitários, o livro digital aborda a importância da criatividade – uma das dez competências gerais estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular – na superação de desafios na educação e na sociedade. Os capítulos abordam o tema propondo reflexões inspiradas nas experiências relatadas pelos 43 autores e autoras, que assinam os 16 textos da publicação. O e-book já está disponível para download gratuito no site do Escolas Transformadoras. Acesse aqui.