O Brasil está passando por uma das mais graves crises de sua história. Temos um déficit fiscal de R$ 140 bilhões, um modelo previdenciário inviável a médio prazo, um sistema político falido, uma educação de péssima qualidade. Cerca de 140 pessoas morrem por dia em hospitais e postos de saúde públicos, a maioria por falta de atendimento. Uma infraestrutura (transportes, energia, recursos hídricos) deficiente, que encarece a produção de bens, 27 milhões de desocupados, uma insegurança jurídica que inibe investimentos, mais de 63.000 brasileiros foram assassinados em 2017. Até quando suportaremos esse estado de calamidade pública?
Em 45 dias, teremos eleições para cargos do executivo (presidente e governadores) e para o legislativo (senadores, deputados federais e deputados estaduais). Grande parte da população anseia por mudanças e transformações urgentes. Já não aguentamos mais a corrupção endêmica, o desperdício de dinheiro público, os privilégios dos agentes públicos. Recentemente a presidente do STF, declarou que: “o cidadão deve estar cansado de todos nós”, referindo-se aos ocupantes das nossas instituições republicanas. Trágica e verdadeira constatação. Mas o próprio poder judiciário aprovou um aumento de 16% no salário da magistratura, alegando que estão na penúria (sic). Comparando: o salário médio mensal da classe trabalhadora gira em torno de R$ 2.200,00 enquanto “apenas” o auxílio moradia dos juízes é de R$ 4.700,00. Até quando aceitaremos privilégios com dinheiro público?
Vexames continuam acontecendo diariamente. O líder nas pesquisas de intenção de voto para presidente foi julgado, condenado e está preso. No entanto, seu partido claramente zomba da lei. Sabedor que o sistema jurídico tem recursos “ad infinitum“, procura enganar o eleitor, usando de todas as artimanhas para postergar ao máximo a decisão do TSE, a respeito da elegibilidade do “candidato” presidiário. Uma situação no mínimo constrangedora para o nosso processo eleitoral. Até quando aguentaremos essa (in)justiça?
“O Brasil não é um pais sério”, a frase bem conhecida e atribuída a Charles de Gaulle, na verdade não é dele. Entre 1961 e 1963, Brasil e França tiveram um contencioso, barcos franceses vinham pescar lagostas na costa brasileira. Uma tensão militar se estabeleceu entre os dois países. Em meio à pendenga, Moreira da Silva, cantor, lançou um samba intitulado “A lagosta é nossa”, que satirizava a situação. Um diplomata brasileiro que participava das conversações com os franceses, ouvindo o samba, proferiu então a frase, que se tornou famosa.
Até quando continuaremos a fazer piadas com situações sérias?
*Celso Tracco é economista e escritor, autor do livro Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual.