No fulgor literário que entrelaça Portugal e Brasil, a obra ALMAR, de Rubenio Marcelo com a criticidade de Ana Maria Bernardelli, recentemente lançado com sucesso, surge como um monumento estético, um tributo à eternidade das letras e terras lusitanas. O livro, composto por 33 poemas aos quais se alinham as reflexões ensaísticas, é um relicário onde a arte poética e a tessitura analítica se imbricam numa teia de sentidos que transcende o tempo e o espaço. Desde os títulos, como Almar Lusitano, Culto às Letras, Luso Azulecer, Mensagem, e Ser Sonhador, a obra provoca um encantamento estético singular.
Cada poema é um voo, um eco ressoando das terras lusitanas, transmutado pela experiência do poeta em Portugal. As palavras tornam-se azulejos em mosaicos culturais, onde a simbologia é viva, pulsante, e remete ao éter da tradição partilhada entre os povos irmãos. O lirismo de Rubenio Marcelo, inspirado por suas recentes viagens à terra de Camões e Pessoa, alude a um sagrado pacto poético. Os versos, impregnados de simbolismo e cristandade, perfazem um caleidoscópio metafórico que explora a dimensão do eu poético em consonância com a espiritualidade. É impossível ignorar a intertextualidade com a idade terrena de Cristo, simbolizada nos trinta e três poemas, que reverberam a busca de sentido e transcendência do humano.
Os ensaios de Bernardelli são como espelhos que desnudam os matizes ocultos de cada verso. A ensaísta, qual arqueóloga das palavras, convida o(a) leitor(a) a transitar pelas linhas e entrelinhas, descobrindo um universo de metáforas e histórias partilhadas entre as duas nações. Sua prosa crítica é um crisol onde a arte da leitura atinge o ápice da hermenêutica, redirecionando os passos do(a) leitor(a) pelas sendas literárias trilhadas por Camões e Fernando Pessoa.
Em Almar Lusitano, a poesia se desvela como um oceano espiritual, onde a alma do poeta navega em busca de conexões ancestrais. Em Culto às Letras, o verbo ergue altares à língua mãe, celebrando sua riqueza e universalidade. Já em Luso Azulecer, o poema é uma sinfonia visual, onde a porcelana das palavras reflete paisagens culturais que são ao mesmo tempo locais e universais. Os títulos Mensagem e Ser Sonhador encerram em si uma dialética-poética: de um lado, a relevância das mensagens históricas; de outro, o voo do sonhador (ou o voo-sonhador) que ousa reimaginar o mundo.
A interação colaborativa entre o poeta e a ensaísta confere à obra uma profundidade novel. Os poemas lusitanos escritos por Rubenio chegaram às mãos de Bernardelli como preciosidades a serem dissecadas. Suas análises lapidadas ampliaram as possibilidades semânticas dos versos e aproximaram mais o(a) leitor(a) da experiência/mensagem poética em sua plenitude.

Foto: Divulgação
No contexto contemporâneo, onde as muralhas entre culturas são constantemente atravessadas, ALMAR é viva expressão de simbolismos celebrando o passado sem deixar de dialogar com o presente. É uma obra que (re)direciona a poesia luso-brasileira, revitalizando seus laços e reafirmando a sua relevância. Assim, ALMAR é um farol que ilumina a irmandade luso-brasileira, um tributo às conexões eternas de fé, cultura e história. Rubenio Marcelo (com poemas lusitanos) e Ana Maria Bernardelli (com respectivos ensaios) lograram criar um testamento poético e cultural que atravessará gerações, mantendo vivo o elo imorredouro entre as duas margens do Atlântico. Obras assim (e)levam a nossa arte literária a patamares intercontinentais, emoldurando-o com a firmeza de uma expressão que pulsa com as veias da lusofonia e transcende as fronteiras do tempo e do espaço.
*Doutor e Pós-doutor em Estudos de Linguagens (UFMS), pós-doutorado (USP) e (UFSC), docente e pesquisador-visitante (UFMS/FUNDECT), escritor, professor e poeta. Membro efetivo da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL). Docente nos colégios Classe A e Colégio Bionatus, Coordenador de Pesquisa e Iniciação Científica da Faculdade Insted e Coordenador do Curso de Pedagogia da mesma instituição.