Diante da pandemia do coronavírus, não demorou muito para as universidades do Brasil adotarem um sistema 100% de educação à distância (EAD). Parece até que tudo já estava planejado. Já os colégios demoraram um pouco mais para se adaptar, mas sabendo que o nível de inadimplência das mensalidades aumentaria, também migraram para o EAD. Essa preocupação com o ônus da instituição, muitas vezes camuflada pela própria instituição como uma “preocupação com a educação da criança”, fez com que os colégios não pensassem em um modelo educacional adequado para crianças e jovens, duplicando os já existentes nas universidades.
Isso é um problema: não se pode equivaler o que se aprende na infância (creche e escola) ao que se aprende na vida adulta (faculdade). A infância é de suma importância para o desenvolvimento de um indivíduo. Nela, o indivíduo aprende muito mais do que em uma faculdade, cujo conhecimento apreendido é mais específico. Neste momento inicial da vida, o indivíduo será apresentado à complexidade do mundo, da sociedade, da cultura, e por meio destas, irá tecer a sua própria complexidade. Cada experiência que um indivíduo sofre nesta época o transforma de alguma forma: das boas aos traumas, dos sons aos gostos, do calor ao frio, etc..
Reduzir as experiências da vida de uma criança pode ser crucial para o seu desenvolvimento. Parece que, se ela está segura diante dos aparelhos eletrônicos assistindo a uma aula on-line, ela não sofrerá com as adversidades da vida e isso será bom. Na realidade, assim como diz o ditado, “bons mares não fazem bons marinheiros”. Quanto mais experiências boas e ruins, mais um indivíduo estará preparado para a vida. Experiências como ralar o joelho, não ganhar um jogo, brigar com um colega e ter que pedir desculpas podem trazer muito mais aprendizado do que qualquer outro meio de educação. Lembrando que experiências somente boas ou somente ruins unilateralizam o indivíduo e sua complexidade também é reduzida.
Nesta crise pandêmica e em meio ao importante isolamento social, é quase impossível uma instituição promover atividades que demandem um relativo grau de complexidade das crianças, visto que a única solução atual de contato entre indivíduos tem sido o ambiente audiovisual, as redes sociais, a internet, etc.. Ambiente este que reduz a experiência humana aos sentidos da audição e da visão. Colocar uma criança por horas diante de uma tela que promove conteúdos supérfluos e estimula a audição e a visão é viciar a criança nos aparelhos eletrônicos; é transformá-las em usuários e não indivíduos. Nesta época tão importante do desenvolvimento infantil, é necessário que a criança fuja das telas e seja apresentada ao que é dor e alegria; ao azedo, amargo e doce; aos cheiros diversos; às texturas; à profundidade tanto do espírito (sujeito) quanto dos objetos.
Os aparelhos eletrônicos poderiam, sim, ser uma ferramenta para os pais estarem em contato com os professores e combinarem direções e atividades para cuidar e ensinar as crianças; e até para as crianças matarem a saudade dos amigos e dos professores. Falta ainda pensar e repensar esse sistema educacional infantil com a real preocupação no aprendizado da criança.
*Leonardo Torres, Professor e Palestrante, Doutorando em Comunicação e Pós-graduando em Psicologia Junguiana