O primeiro escrito do Cristianismo

Osvaldo Luiz Silva – Foto: Divulgação

Desde 1971, a igreja no Brasil dedica o mês de setembro à Bíblia, para aprofundar a reflexão da Palavra de Deus a partir de um tema ou de um livro. Este mês foi escolhido por conta da memória de São Jerônimo (dia 30), grande divulgador da Bíblia e seu tradutor para o latim (Vulgata).

O tema escolhido para 2017 – “Para que n’Ele nossos povos tenham vida” – foi inspirado no título do Documento de Aparecida e o lema na Carta aos Tessalonicenses: “Anunciar o Evangelho e doar a própria vida” (1Ts 2,8).

Datada do ano 50 ou 51, a Carta aos Tessalonicenses é o primeiro escrito do Cristianismo, anterior até mesmo aos Atos dos Apóstolos e aos evangelhos. Ela também é de vanguarda ao utilizar pela primeira vez a palavra “evangelho” para se referir aos fatos relacionados a Jesus. Antes, a palavra era utilizada para se referir a um presente ofertado a quem dava uma boa notícia ou a boa-nova de uma vitória militar.

Nesta primeira carta, já temos, com destaque, as chamadas virtudes teologais: fé, caridade e esperança, com ligações muito concretas: às obras, aos sacrifícios e à firmeza (1Ts 1,3). A compreensão sobre a Santíssima Trindade já é perceptível, sendo o nome de Deus citado 33 vezes, mesma quantidade de citação a Jesus. O Espírito Santo tem quatro alusões.

Em Tessalonicenses, predomina a linguagem da tribulação e o estilo apocalíptico, falando da segunda vinda de Cristo (parusia).

Paulo chega a Tessalônica com Silvano (Silas), vindos de Filipos, onde tinham sido duramente açoitados – sem roupa e em público – e presos com os pés amarrados num tronco. Soltos, os missionários descem para a cidade litorânea dos tessalonicenses, uma grande cidade grega com um movimentado porto comercial.

Não é possível precisar o tempo que Paulo passa na cidade, mas nesse tempo, para não ser um peso nessa comunidade tão pobre, o apóstolo faz questão de viver de seu ofício: fabricante de tendas.

Essa atitude causa uma forte empatia e entrosamento com a comunidade e a consequente perseguição dos que estavam à frente da cidade, que seguindo a mentalidade greco-romana, viam no trabalho braçal algo indigno, próprio de escravos. O desejo dominante era pelo ócio, a negação ao trabalho. Outro aspecto importante da cultura local, em forte conflito com a iniciante pregação cristã, era o desprezo para com o casamento, porque viviam a sexualidade desregrada, com prostituição e abusos.

Os missionários passaram a incomodar tanto que foram entregues ao Senado da cidade, acusados de levar à população transtornos já vistos em outras localidades e de serem revolucionários, ao anunciar Jesus como rei em contraposição a César. A perseguição foi tão séria que tiveram que fugir à noite para a cidade de Beréia, e depois para Atenas.

No primeiro escrito do Novo Testamento, há um clima de liberdade e confiança, com muita sinceridade e transparência, espontaneidade e afeto: “Imaginai uma mãe acalentando os seus filhinhos, assim a nossa afeição por vós” (1Ts 2,7-8). A palavra irmãos é empregada 19 vezes e a riqueza de temas é grande. Começa com a grande ação de graças e o apelo à perseverança e, num segundo momento, o chamado à santidade, à vivência no amor e à vigilância.

* Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor dos livros “Ternura de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, editor da Revista Canção Nova.e Presidente da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em Cachoeira Paulista (SP).

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