O Regime Cruel do Talibã em relação as Mulheres

Thiago de Moraes – Foto: Arquivo Pessoal

O patriarcado marca a construção das sociedades há milênios, desde a Antiguidade clássica, e pode ser entendido como um sistema político-cultural de opressão que se difunde por meio da dominação simbólica e material dos homens sobre mulheres e demais seres subjugados. Esse paradigma construiu ao longo da História uma série de representações sociais, culturais e políticas expressadas em valores, costumes, leis, papéis sociais e, também, em metáforas que passaram a ser internalizadas e externalizadas no âmbito das instituições.

Seus postulados estabelecem que a mulher é naturalmente inferior ao homem, constituindo um sistema, desde sua implantação, de rejeição às mulheres enquanto classe e sujeito social. As relações de gênero no patriarcado são marcadas pela exploração entre homens e mulheres, destacando-se a supremacia do primeiro sobre o segundo, que se refere ao processo de opressão ao corpo e subjetividade das mulheres e a toda uma construção simbólica onde o feminino não possui qualquer independência, não cria regras próprias, é inferior e possui a excelência de servir. O masculino, por sua vez, vem a ser dominante independente das circunstâncias, é legislador, honrado e capacitado a atuar na esfera pública.

Para garantir a superioridade e a dominação imposta pelos homens, desde sempre as mulheres foram oprimidas e ocuparam um lugar de subalternidade nas sociedades. No entanto, ao longo da história sempre houveram mulheres que se rebelaram contra sua condição, que confrontaram o patriarcado, resistiram e lutaram pela quebra dos paradigmas opressores e, muitas vezes, pagaram com suas próprias vidas.

É por esse motivo que a volta do Talibã no controle no Afeganistão representa um retrocesso significativo aos direitos das mulheres. No passado, quando esse grupo esteve no poder (1996-2001), as mulheres eram tratadas de forma desumana; seus direitos eram mitigados ou até mesmo excluídos. A educação e o trabalho feminino foram proibidos; a mulher foi proibida de realizar qualquer atividade fora de casa, sem que estivesse acompanhada por um parente próximo do sexo masculino; não podiam frequentar médicos do sexo masculino; eram obrigadas a usar burca; eram submetidas a açoites, tratamentos cruéis e penas físicas; apedrejamento público contra mulheres acusadas de ter relações sexuais fora do casamento; proibição do uso de cosméticos, entre diversas outras situações que demonstram a violação de direitos fundamentais das mulheres.

Após a destituição do Talibã do poder, no ano de 2001, houve avanços significativos nos direitos das mulheres no Afeganistão: as mulheres voltaram a frequentar escolas e a trabalhar fora de casa, sem necessidade de estarem acompanhadas por alguém do sexo masculino. Passaram a ocupar funções em espaços públicos, como embaixadoras, ministras, parlamentares, governadoras, policiais.

Esse cenário demonstra que o Talibã é um poderpatriarcal e machista, e ignora todos os direitos das mulheres e as suas lutas por reconhecimento ao longo de toda a história. O tratamento conferido às mulheres é completamente incompatível com o atual século vivido, em que, após muitas lutas, às mulheres são reconhecidos expressamente direitos e igualdade.

O cenário preocupa e parece ignorar um dos maiores problemas vividos em todo o mundo: a desigualdade de gênero.

Após séculos de lutas árduas e vidas sacrificadas em busca do reconhecimento de direitos fundamentais das mulheres, o Talibã representa um retrocesso, motivo pelo qual a comunidade internacional deve agir para evitar a atuação desse poder.

*Thiago de Moraes, cientista político, jornalista e escritor

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