Existe uma longa tradição no jazz de reinventar canções pop. Mas em seu último lançamento, Rio Minas, o saxofonista de Montreal, compositor e arranjador Jean-Pierre Zanella dá à tradição uma reviravolta. No Rio Minas lançado dia 17 de abril no selo Arté Boréal Records, Zanella ele celebra a composição comovente e sofisticada de dois gigantes da música popular brasileira, Chico Buarque, Rio de Janeiro e Milton Nascimento, Minas Gerais
Para Zanella, este projeto além de ser musical ele é também um projeto pessoal. “Como músico de jazz, você aprende o Great American Songbook e o trabalho dos grandes compositores, pessoas como Cole Porter e George Gershwin, e isso inclui Antônio Carlos Jobim, e a Bossa Nova torna-se parte desse repertório”, diz Zanella. Mas há muito, muito mais na música brasileira do que bossa nova e, pouco a pouco, ele foi descobrindo a MPB e os trabalhos de várias cantores e compositores, tais como Djavan, Ivan Lins e Milton Nascimento.
A partir de 1987, um ano depois de conhecer sua futura esposa, Mima Souza, (uma carioca) Zanella começa a viajar para o Brasil. Desde de então ele vivenciou experiências musicais profundas e ricas com suas colaborações com artistas e grupos tais como Altay Veloso, Marcos Ariel, Roberto Menescal, Marcos Valle e o grupo vocal Boca Livre.
“Você chega no Brasil, você escuta a música, se envolve com o povo e a cultura, e então você só quer aprender mais….” Assim, diz Zanella.
Diplomado da Eastman School of Music, Rochester, New York, Zanella logo se destacou como um “bandleader”, gravando nove discos, assim como seu trabalho com John Abercrombie, Bob Brookmeyer, Kenny Wheeler, e Aaron Parks.
Em 2011 Zanella recebeu o prestigioso prêmio Oscar Peterson Award do Festival International de Jazz de Montréal pela sua contribuição no cenário jazz canadense.
Entre essas contribuições houve também o trabalho feito por Zanella e sua esposa abrindo as portas para músicos brasileiros em Montréal de maneira informal. É assim que Zanella descreve seus esforços na década 90. Os músicos chegavam em Montréal e eram hospedados em sua casa e ele organizava shows em bares da cidade, dando a oportunidade para esses músicos apresentarem seus trabalhos fora do Brasil. Em 2004 Zanella e Mima fundaram o Brazilian Music Festival of Montreal (2004-2008).
Ainda em 2004 ele recebe a Ordem do Rio Branco do governo brasileiro pela divulgação da cultura brasileira no Canadá.
Rio Minas como projeto começou em 2015 no estúdio montrealense Studio Victor em concerto intimo com uma pequena plateia. Zanella sublinha que este projeto foi ideia de sua esposa, Mima, ideia a qual ele achou muito interessante. “Em 2006 eu havia gravado o disco Villa-Lobos & Antonio Carlos Jobim, e então senti que queria continuar explorando esse universo musical.”
Zanella colecionou uma longa lista de composições e reduziu para um número menor. “Havia tantas que eu gostava que me inspiravam em arranjos diversos.”
Mas em termos de instrumental acabou sendo uma ferramenta para a diminuição da minha longa lista.
“A escolha de composições de Milton Nascimento facilitou meu trabalho, pois a música de Milton possui elementos jazz que se pode constatar em colaborações com Wayne Shorter e Herbie Hancock.” Por coincidência Rio Minas começa com Lilia, uma música que Shorter incluiu no disco Native Dancer com a participação de Milton.
Chico Buarque, poeta e grande autor compositor oferece um desafio maior. “Chico é um compositor que descobri um pouco mais tarde, quando aprendi um pouco mais sobre a música brasileira. Ele possui esta maneira de compor melodias lindas com elementos repetitivos, que dificultam a transição em uma versão instrumental. Sinto que a presença da letra torna-se importante para manter a essência. Então para este projeto eu escolhi composições como “Bye Bye Brasil” e “Sobre Todas Essas Coisas” que eu achava que fazia mais sentido como peça instrumental.”
Isso dito Zanella pede à sua filha Sashana Souza Zanella escolher 3 músicas para cantar no disco. Ela escolheu “Morro Velho”, de Nascimento, “Joana Francesa” de Chico Buarque, e “Beijo Partido” de Toninho Horta.
Zanella fez o arranjo de 9 das 11 músicas do disco, e também assina uma composição original “Dan”.
Para a gravação no estúdio Piccolo em Montréal convidou seus parceiros de longa estrada Pierre François (piano), Rémi-Jean Leblanc (baixo), e Paul Brochu (bateria) assim como o pianista André Dequech, trompetista Ron Di Lauro e trombonista Muhammad Abdul Al-Khabyrr. A arte gráfica da capa de Rio Minas foi feita por Mima Souza.
Si Rio Minas soa como uma história e de família tem suas razões.
“Me apaixonei pelo pais e pelo povo brasileiro”, diz Zanella. “Essa é a minha conexão com a música brasileira!