Não se trata mais de filme de ficção científica ou história de desenho animado. Os eVTOLs, sigla para veículos elétricos de decolagem e pouso vertical, já estão voando e são uma realidade sem volta. A questão que fica é quando esses “carros voadores” entrarão em operação comercial de forma consistente, segura e em grande escala.
Esse compasso de espera não é um ponto negativo. Pelo contrário. Estamos falando de uma tecnologia disruptiva que precisa ser testada à exaustão. E isso leva tempo, naturalmente. É preciso que todas as etapas sejam criteriosamente concluídas, sem deixar espaço para contestações ou lacunas que possam prejudicar logo de saída um mercado dos mais promissores.
Ninguém ainda pagou para viajar em um eVTOL, nem por um minuto sequer. Mesmo assim, esse mercado bateu US$ 9,44 bilhões em 2021 e pode chegar a US$ 21,62 bilhões em 2027, de acordo com um estudo do Grupo IMARC. É um negócio imenso que tem movimentado fabricantes, fornecedores de infraestrutura e operadores. Estes, aliás, vão bem além das empresas de táxi-aéreo e envolvem diretamente companhias aéreas.
Os eVTOLs, obviamente, estão intimamente ligados à indústria aeronáutica. Muitos dos players que entraram para valer nesse segmento são marcas tradicionais no setor aéreo. A Embraer, por exemplo, fundou a Eve Air Mobility a partir de seu braço de inovação, e hoje a empresa tem uma carteira com 2.770 pedidos pelas suas aeronaves que ainda estão em desenvolvimento e que sequer saíram do chão. Airbus e Boeing também têm seus projetos em andamento.
Quem têm saído na frente, por outro lado, são empresas que nasceram exclusivamente para entrar nesse mercado comumente chamado de Mobilidade Aérea Avançada (AAM, na sigla em inglês). São startups que entre seus fundadores geralmente têm pessoas ligadas à aviação, mas sem o suporte de uma grande empresa do setor aeronáutico. Isso é positivo porque a tecnologia se desenvolve mais rapidamente, mas pode ser um ponto de atenção no quesito segurança.
Tudo tem acontecido muito rapidamente nesse mercado. Em poucos anos os eVTOLs deixaram as pranchetas para voarem em modo de teste, em um ritmo muito mais rápido que o da própria aviação, que foi se provando segura ao longo de décadas. Esses novos veículos não têm esse tempo para se provarem, senão a tecnologia vai morrer antes de ser colocada em prática.
Por isso os processos de certificação precisam ser extremamente rigorosos, da mesma forma que ocorre com aviões ou helicópteros. O obstáculo é que se trata de uma nova tecnologia – a começar pelo fato de serem elétricos – e não há um arcabouço regulatório que dê conta deles. É preciso adaptar o que há na certificação aeronáutica para acelerar o processo sem deixar de lado a segurança.
A Administração Federal da Aviação dos Estados Unidos (FAA) e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) saíram na frente e estão há anos trabalhando em uma regulamentação que possa não apenas certificar os eVTOLs, mas também os vertiportos – de onde decolam e pousam. E que permita a construção de um ecossistema no qual convivam harmoniosamente os eVTOLs, aviões, helicópteros e drones.
Os eVTOLs, no fim, não têm tempo a perder. Mas podem perder muito tempo se tudo ocorrer em um ritmo acelerado. O segredo para o sucesso desse mercado é equilibrar a velocidade com que a tecnologia avança e a preocupação com a segurança na operação, seja para quem está voando ou para quem está no chão. Se assim for, o tempo dos carros voadores logo chegará.
*Emerson Granemann é CEO da MundoGEO