O Observatório de Favelas lançou, nesta quinta-feira (10), a pesquisa “Violência contra mulheres e letalidade feminina no Rio de Janeiro”. O estudo foi desenvolvido por pesquisadoras do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas com apoio da Open Society Foundations.
Também foi lançada a exposição fotográfica “Cenas Delas”, resultado da chamada pública que premiou fotografias com temáticas de enfrentamento à violência contra as mulheres. Na Galeria 535, localizada na sede do Observatório de Favelas, na Maré, serão exibidos os trabalhos das cinco artistas contempladas no edital. São elas: Ana Carla de Souza, Lais Reverte, Mayara Donaria, Maria Antônia Queiroz, Natasha Roxy Ponciano Sifuentes.
A iniciativa ‘Cenas Delas’ se propôs a viabilizar produções fotográficas que priorizam a sensibilização em torno do tema da violência de gênero e letalidade feminina. A exposição fotográfica Cenas Delas seguirá disponível para visitação gratuita.
Sobre o estudo
A pesquisa “Violência contra mulheres e letalidade feminina no Rio de Janeiro” tem como objetivo compreender as dinâmicas de violência contra mulheres (cis e trans) no Rio de Janeiro e os impactos da pandemia de COVID-19 sobre as políticas de prevenção e a rede de proteção a mulheres cisgênero e transgênero em situação de violência.
O estudo envolveu a combinação de diferentes fontes e recursos metodológicos: pesquisa documental, análise de dados públicos do ISP-RJ sobre violência contra mulheres no Rio de Janeiro, monitoramento de notícias sobre violência letal contra mulheres veiculadas em quatro jornais de grande circulação estadual e realização de entrevistas com integrantes da rede de assistência e atendimento especializado e não especializado no enfrentamento à violência contra a mulher.
A pesquisa analisou dados de violências físicas, sexuais e psicológicas perpetradas contra mulheres no estado do Rio de Janeiro registrados pelo ISP-RJ no período de 2015 a 2020. Entre as violências não letais, os casos de ameaça, lesão corporal dolosa e estupro foram os registros com maior incidência ao longo de todo o período.
Em relação à repercussão dos crimes letais noticiados na imprensa no primeiro ano de pandemia, foram mapeados 75 casos de violência letal contra meninas e mulheres no período de março de 2020 a março de 2021 pela grande mídia do estado do Rio de Janeiro. Estas ocorrências incluem casos de feminicídios, homicídios, latrocínios, homicídios decorrentes de intervenção policial e estupro seguido de morte.
Entre os casos de feminicídio analisados, chama atenção a frequência com que mulheres foram mortas por companheiros ou ex-companheiros na presença dos filhos.
Embora os dados oficiais do ISP coloquem em evidência que as mulheres negras são as principais vítimas dos feminicídios no Rio de Janeiro, esses casos não tiveram repercussão equivalente na imprensa. No primeiro ano de pandemia, mulheres brancas foram a maioria das vítimas entre os casos de feminicídios divulgados nos veículos de comunicação monitorados no estado do Rio de Janeiro. Em contrapartida, mulheres negras predominaram nos casos de violência letal noticiados que não foram qualificados como feminicídio.
No período monitorado, apenas um caso entre os dez casos envolvendo a morte de mulheres trans no Rio de Janeiro foi pautado na imprensa.
O estudo apontou ainda que o maior destaque em dinâmicas de violência doméstica e familiar nos veículos de imprensa em relação a outros tipos de violência, pode limitar a visibilidade de outras práticas agressivas. Nesse sentido, a pesquisa buscou contribuir com uma visualização mais ampla de diferentes contextos relacionados à letalidade feminina, agregando dinâmicas de violência de gênero que ocorrem no espaço público.
De acordo com Thais Gomes, coordenadora executiva do Programa de Direito à Vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas, “o estudo mostra que há uma série de violências que atravessam a vida de determinados grupos de mulheres, que não se restringe ao espaço doméstico, ou às relações interpessoais, mas que também corrobora para a mortalidade de mulheres. Esse continuum de violências é marcado pela militarização de espaços periféricos, pela fome, pelo racismo institucional, pela transfobia, pela lesbofobia, pelo capacitismo entre outros fatores. Vale reiterar que, ao confluírem, esses fatores intensificam ainda mais a exposição de determinadas mulheres à morte violenta, em especial, mulheres negras, periféricas e LBTs”.
A pesquisa também analisa avanços e limites de implementação das políticas de prevenção da violência e proteção de mulheres, cis e trans, a partir da perspectiva de profissionais, ativistas e pesquisadoras da área, com especial atenção para especificidades relacionadas a mulheres negras, LBTs e periféricas.