São Paulo (SP) – Receber a notícia de um diagnóstico de tumor maligno é sempre um momento difícil para o paciente e seus familiares. Entretanto, um erro bastante comum é deixar de lado os cuidados com outras doenças, principalmente as doenças crônicas, ou seja, enfermidades de longa duração, para focar totalmente no tratamento da célula cancerígena.
“Quando se trata do câncer de próstata, o principal descuido é não dar atenção às complicações cardiovasculares, porém, é comum também ignorar a hipertensão, diabetes e obesidade, por exemplo”, explica o oncologista clínico e coordenador de Uro-oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Ariel Kann. Ainda de acordo com o especialista, esse fato ocorre, em parte, pela sensação de que o câncer se torna a única doença a ser tratada no momento e ainda pelo desconhecimento da interação do tratamento do tumor com outras complicações. Por esse motivo, é essencial que o oncologista clínico aborde o paciente de forma integral.
O médico destaca que é importante saber o histórico de saúde do paciente, como todas as doenças que já apresentou, hábitos de vida, medicações que estejam em uso, alergias, histórico dos seus familiares, entre outros. O câncer de próstata atinge predominantemente os homens mais idosos e, nessa população, mais de 30% já apresenta alguma enfermidade cardíaca logo no diagnóstico. “As doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte no Brasil. A boa notícia é que os fatores de risco que levam a estas doenças podem ser controlados”, destaca o oncologista.
Alguns fatores de risco são evitáveis e devem se tornar hábitos mesmo em homens jovens, já que, segundo o grupo de pesquisadores do Observatório do Câncer, o tumor de próstata teve um aumento de 5,2% na faixa etária de 20 a 49 anos, entre 1997 e 2016. Segundo Kann, alimentação saudável, prática de exercício físico regular, não fumar, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e realizar exames de rotina são atitudes que podem prevenir tanto o câncer, como a ocorrência de complicações cardiovasculares.
Atualmente, os oncologistas estão trabalhando a personalização do tratamento, focando em tratar o paciente e não apenas uma ou outra doença. “A escolha por determinado tratamento, seja ele hormonal, droga-alvo, quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia, passa por diversos limitadores que nos guiarão para a terapia mais adequada”, ressalta. Além disso, qualquer sinal ou sintoma após o início do tratamento oncológico como falta de ar, dor no peito, edema, taquicardia, arritmia ou piora neurológica, deve ser comunicado ao médico imediatamente, pois não fazem parte de efeitos colaterais e são alertas de complicações cardiovasculares, que devem ser levadas em consideração pelo corpo clínico que acompanha o paciente.