Estamos todos, independente de ideologia, crenças ou valores, cansados de escutar que o Brasil é o país do futuro, que a Amazônia precisa ter mais valor de pé do que derrubada e por aí vai… Como transformar isso em realidade de forma disruptiva? A pressão promovida na última década pela conservação de nossos recursos naturais, o visível avanço das negociações internacionais envolvendo créditos de carbono e a recente aprovação na Câmara e no Senado do PL 312/15, que cria a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, podem representar indícios dessa virada histórica e definitiva que todos estamos aguardando.
Passadas algumas catarses ambientais, motivadas pelo aumento do desmatamento, queimadas e discursos polarizados de todos os lados, é hora de fazer um balanço de nossos ativos destinados à produção e conservação, para traçarmos novas estratégias. A unanimidade em torno da importância da Floresta Amazônica, mostra-nos a relevância do Brasil e de sua biodiversidade no contexto mundial. Sendo um estoque de carbono, berço de rara biodiversidade, regulador dos fluxos de água e do clima global e prestador de outra infinidade de serviços ambientais, é preciso reconhecer que nossos biomas não estão inertes e conferir valor monetário a eles, com o objetivo de conciliar sua conservação, com as legítimas aspirações dos que lá residem e de toda a sociedade brasileira.
A parte do rural mais arcaico precisa assumir que existem problemas, compreender a inevitabilidade desta nova agenda e se modernizar na direção da regularização. Já o rural moderno e sustentável, precisa assumir o protagonismo nos diálogos internacionais e desenvolver campanhas baseadas em dados confiáveis, que fortaleçam sua imagem. Alguns ambientalistas, também arcaicos, precisam se modernizar e sair da zona de conforto, abandonando a antiga estratégia de apenas difamar o setor produtivo sem mostrar os pontos positivos, às vezes manipulando a opinião pública em nome da conservação. Os mais antenados já qualificam este debate, indicando claramente este cenário de impunidade, descolando a imagem do setor produtivo da onda de desmatamentos ilegais, motivados em um primeiro momento por grilagem de terras públicas, comércio ilegal de madeira e especulação imobiliária. Esses dois setores devem apoiar o poder público, em suas instâncias federal, estadual e municipal, no combate firme a esses crimes ambientais e, juntos, anunciarem a boa nova: somos detentores da maior floresta tropical do planeta!
Segundo Nasa, Embrapa e Map Biomas, destinamos mais de 60% do território brasileiro à conservação, que entrega ao planeta uma infinidade de serviços ambientais, sem nenhuma remuneração. Se existe realmente esse consenso sobre o Brasil ser a maior biodiversidade do planeta, seria interessante que cientistas de renome se juntassem a essa aliança e se posicionassem junto a jornalistas e opinião pública mundial.
É chegado o momento de esquecer nossas diferenças e nos unirmos para negociarmos com as nações desenvolvidas, maiores emissores de GEE (Gases do Efeito Estufa), a criação de mercados que reconheçam valor e garantam renda a “floresta viva” e auxiliem de forma construtiva na conservação da Amazônia, respeitando a reputação e a soberania nacional, sem que haja exclusão ou prejuízo aos mais de 25 milhões de brasileiros que lá habitam. Vamos convidá-los a compartilhar conosco o custo ambiental de conservar essas áreas na forma da remuneração desses serviços ambientais.
Este é o Pacto Agroambiental proposto em 2020 pelo GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável), que tenho a honra de presidir neste momento: produzir mais alimentos promovendo a intensificação das áreas degradadas, retirando CO2 da atmosfera e fixando-o no solo; implementar o Código Florestal viabilizando a regularização ambiental; priorizar a regularização fundiária; criar mercados mundiais e ferramentas de Serviços Ambientais, dentre eles os créditos de carbono; tudo isso de forma inclusiva e com cuidado na preservação da imagem do Brasil, perante o resto do mundo. Só assim poderemos ter paz e forjar o renascimento de nossa rica nação, em sua verdadeira e natural vocação de Potência AgroAmbiental.
Caio Penido
Com mais de 10 anos de atuação como executivo do setor da agropecuária, Caio Penido é presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac) e do GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável.É sócio/diretor da Agropecuária Água Viva e da Encruzilhada Filmes e também é membro do Conselho de Administração do Grupo Roncador. No Vale do Araguaia mato-grossense é um dos responsáveis pelo núcleo de articulação agroambiental intitulado Liga do Araguaia, onde participa de projetos de pecuária sustentável implantados em parceria com organizações públicas e privadas, nacionais e internacionais.
*Caio Penido – Presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)