Campo Grande (MS) – Como parte da programação da Semana dos Museus, foi realizada a palestra “Paisagens Pantaneiras, Paisagens Identitárias” com a Prof.ª Dr.ª Icléia Albuquerque Vargas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul na noite de quinta-feira (19/05) no MIS (Museu da Imagem e do Som).
Ao iniciar a palestra a ministrante conceituou o que vem a ser paisagem, e disse que em primeiro lugar é preciso estar claro que esta é feita por gente, que é uma invenção humana, e que o termo polissêmico é interligado por várias áreas do conhecimento e da arte, ou ainda que paisagem é tudo o que a vista alcança e que começou a ser estudada a partir da arte (pintura) no século XVIII.
Já para definir paisagem cultural segundo a professora Icléia é preciso que haja um entendimento do que é patrimônio, que é uma obra conjugada do homem com a natureza. Citou alguns lugares como, por exemplo, a Cordilheira dos Andes, no Chile onde para o povo do lugar a paisagem tem um significado diferente do que para o turista e que determinadas paisagens culturais estão em processo de patrimonialização, e citou alguns pesquisadores como Paul Claval que afirma que paisagens revelam as variedades das formas associadas à atividade humana. E mais, que as paisagens revelam a relações das pessoas em sociedade, bem como a história do lugar com suas ressignificações. Nós produzimos e convivemos com paisagens.
Com relação à paisagem pantaneira, Prof. Icléia explicou algumas peculiaridades do Pantanal, bem com sua formação e extensão que chega a 140 mil km². Citou algumas curiosidades, como o fato de lá ter grande quantidade de salinas (sal), e reportou a história citando a passagem dos europeus no século XVI, principalmente dos espanhóis em busca de ouro e prata, percorrendo os caminhos desenhados pelos rios. Foi aí que chamaram o rio de mar de xarayes, por acreditarem que o rio pantaneiro fosse mar. Depois de não encontrarem o ouro, os europeus foram embora, ficando o Pantanal esquecido por muito tempo, com terra inóspita. Passado esse tempo os latifundiários ocuparam grandes extensões de terras pantaneiras.
Hoje segundo a pesquisadora, há uma valoração e projeção da paisagem do Pantanal na mídia com um apelo ambientalista e mercadológico, onde há uma imagem estereotipada, com a exacerbação do bucólico e da simplificação do real e ainda da desconsideração da complexidade da relação entre sociedade e natureza.
Também abordou o homem pantaneiro, ou melhor, da gente pantaneira, pois ela acredita que esse termo só remete ao homem e não a mulher, e disse que essa gente é ambientalista nata, que capta as mais sutis transformações. Com uma vida simples, onde a natureza é a principal fonte de vida sendo os saberes tradicionais uma influência muito forte no povo pantaneiro, assim como sua religiosidade e crendices.
A gente pantaneira sustenta sua cultura com a valorização da tradição oral, transmitindo as tradições culturais geração após geração. O território transforma-se em paisagem à medida que uma identidade é formada e construída dentro de uma visão de mundo daqueles que lá vivem.
Corumbela
Ao final da palestra surgiu uma pergunta da plateia sobre a possibilidade do Pantanal um dia ter sido mar e foi respondida pelo prof. Dirceu Lonkhuijzen, coordenador do Museu das Culturas Dom Bosco. Segundo o professor, o Pantanal já foi mar sim, há cerca de 550 milhões de anos e ainda acrescentou que nesse bioma também existe a Corumbela, o primeiro animal do planeta e que é encontrado em Corumbá. É um precursor dos vertebrados com estrutura mais dura, com revestimento de queratina.
Para Marlene Oliveira, com 52 anos de idade e acadêmica do curso de artes visuais, foi muito proveitoso ter acompanhado a palestra, “eu quero aprender cada vez mais e o que mais achei interessante foram as pesquisas realizadas no Pantanal e que a gente não tem conhecimento, foi muito válido”.