Campo Grande (MS) – A poucos dias de completar dois anos, a pandemia de Covid-19 instaurou um alerta mundial sobre sua gravidade e impôs novos hábitos, como a higienização frequente das mãos, uso de máscaras e até mesmo o distanciamento social. Essa nova rotina, que visava reduzir a infecção pela doença, foi capaz de produzir uma atenção maior aos cuidados com a saúde do corpo, fazendo com que pessoas passassem até mesmo a iniciar a prática de atividade física e investir nos cuidados preventivos. Além disso, um outro aspecto da saúde também ganhou um olhar mais atento dos profissionais da saúde e principalmente da população: a saúde da mente.
Para a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Anhanguera, Juliana Del Grossi, um dos motivos que impulsionaram o aumento dos cuidados com a saúde mental está diretamente relacionado ao crescimento de transtornos mentais na população. “A pandemia provocou a manifestação de alguns sentimentos nas pessoas, como o medo e insegurança, que são gatilhos para desencadear transtornos mentais como ansiedade, depressão e outros”, esclarece. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), um estudo publicado na Revista Lancet Regional Health — Americas indicou que mais de quatro em 10 brasileiros tiveram problemas de ansiedade.
Outros sentimentos que emergiram durante esse período de pandemia de Covid-19 são o luto e a solidão. “O povo brasileiro foi muito afetado pelo distanciamento social. Pesquisas revelam que a nossa população ocupou a primeira colocação em um ranking que avaliou o quão sozinhas as pessoas se sentiam — metade dos entrevistados revelou sentir solidão ‘muitas vezes’, ‘frequentemente’ ou ‘sempre’”, afirma a docente. “Ainda, temos ainda que lidar com o luto, dando adeus a familiares, amigos, pessoas queridas. Isso faz manifestar sentimentos de raiva, tristeza, impotência, saudade e outros, provocando um estado mesmo de sofrimento”, complementa.
Diante de sinais de desequilíbrio emocional o recomendado é buscar por assistência profissional especializada. “Felizmente, podemos afirmar também que as pessoas têm superado a resistência em buscar ajuda psicológica para lidar com os problemas de fundo emocional. É muito importante ter o autocuidado, observar a si mesmo e se abrir para iniciar a cura dos transtornos da mente. Precisamos avançar nessa discussão e compreender que a nossa saúde de forma integral se faz com a manutenção da saúde do corpo e da mente. Uma não se dissocia da outra”, revela a psicóloga.
Atendimento no sistema público — Um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde revelou que, em 2021, os atendimentos a pessoas com transtornos mentais e comportamentais devido ao uso abusivo ou dependência de álcool e outras drogas aumentaram 11% no Sistema Único de Saúde (SUS). Do total de atendimentos realizados no ano passado, 159,6 mil estão relacionados ao uso abusivo do álcool e os de fumo são 18,8 mil. Para Juliana, esse aumento também é reflexo da pandemia, em que houve crescimento no consumo dessas substâncias. “Muitas pessoas buscam o alivio da ansiedade e encontram esse escape no uso abusivo de álcool e de fumo”, revela.
A docente lista alguns sintomas que devem ser observados para busca de assistência psicológica:
– Descuido com rotinas do dia a dia, como higiene, afazeres domésticos e do trabalho;
– Uso prejudicial de álcool, fumo e drogas, como medicamento controlado;
– Insônia ou sonolência excessiva;
– Desânimo, irritabilidade ou ataques de raiva;
– Dificuldades para manter o foco e a concentração;
– Tristeza excessiva, crises de ansiedade.