Para 72% dos jovens, Brasil trata a questão de transgênero com preconceito, diz pesquisa da Microcamp

Mas 79,7% não se relacionaria com alguém que mudasse de sexo.

Psicólogo Helder Hidalgo – Foto: Divulgação

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump proibiu transgênero nas Forças Armadas e causou polêmica. No Brasil, a autora Gloria Perez pela primeira vez abordou o tema identidade de gênero numa novela e deu o que falar. Na rede de escolas de informática Microcamp uma pesquisa sobre transgênero não foi diferente e mostrou que o assunto ainda é tabu: 72% dos 2261 entrevistados (51,4% homens e 48,1% mulheres) disseram que a questão de identidade de gênero é tratada de maneira preconceituosa no Brasil, tanto pelo governo quanto pela sociedade. Na mesma questão, 15,2% disseram que o tema é abordado de forma superficial, 8,7% com naturalidade e 4,1% com seriedade.

A pesquisa foi realizada entre os dias 18 e 23 de setembro, com jovens entre 12 e 31 anos, sendo que a maioria (52,3%) tem entre 12 a 16 anos e frequenta o ensino médio (59,1%), enquanto 22,4% está no ensino fundamental II, 8,1% ensino superior e 5,2 Ensino Fundamental I.

Dos entrevistados, 72% afirmaram saber o que é transgênero, enquanto 20,3% já ouviu falar, mas não sabe exatamente o que é, e 7,7% disseram não saber. Para a maioria (77,9%) transgênero é uma pessoa que nasce com um sexo, mas não se identifica com ele. Já 8,6% afirmaram que transgênero é o mesmo que transexual, 3,3% diz tratar-se de um homossexual e 1,8 de travesti. Já para 8,4% dos pesquisados, transgênero pode se enquadrar em todas as categorias citadas.

“O preconceito às vezes nasce do desconhecimento, e ignorância gera intolerância e é o que temos que evitar na sociedade”, pondera Helder Hidalgo, psicólogo e coordenador de cursos da Microcamp que enfrentou questionamento por parte dos próprios professores que aplicaram a pesquisa nas unidades. “Alguns questionaram se era prudente uma pesquisa sobre este tema em algumas unidades em que a maioria dos alunos é evangélica. Outros perguntaram por que não havia mais opções de sexo além do feminino e masculino”, exemplifica.

De acordo com o coordenador, a intenção da Microcamp não era levantar bandeiras nem polemizar, “apenas saber como pensam nossos alunos e como lidar com temas difíceis, mas que fazem parte da realidade deles”.

A pesquisa quis saber também se os entrevistados conheciam algum transgênero: 60,3% disseram que não, e 39,7 % afirmaram que sim. Foi questionado ainda se eles conheciam alguém que se relaciona com um transgênero e 63,4% afirmaram que não, enquanto 36,6 disseram que sim. Quando questionados se eles se relacionariam com um transgênero, a maioria (79,7%) disse que não e 20,3% disseram que sim.

Apesar da maioria dos alunos considerar o transgênero uma pessoa normal (76,6%), chamou a atenção do coordenador a porcentagem de entrevistados que considera transgênero como alguém com distúrbio psicológico ou social (19,4%) e com distúrbio físico (4%). “Representa que 23,4%não acha normal, é um índice muito alto”, pondera.

O estudo revelou ainda que a maioria dos jovens (56,5%) considera importante discutir o tema (19,4% não e 4% é indiferente). Mostrou também que o assunto já está presente no círculo de amizade da maioria deles (56,5%), embora 43,5% nunca tenha tocado no assunto com os amigos.

Quando questionados como reagiriam ao saber que alguém de seu círculo de amizade ou da família que é transgênero, 67,1% responderam naturalmente, enquanto 28,4% estranharia e 4,5% não aceitariam.

Por fim, a pesquisa quis saber qual seria a reação da família, caso o aluno resolvesse mudar de gênero: a maioria (41,4%) respondeu que a família tentaria mudar sua opinião, 25,4% acha que seria aceito e receberia apoio e 33,2% disseram que a família não aceitaria.

“O assunto ainda é muito delicado, merece um olhar mais cuidadoso e um debatemais aprofundado”, defende o coordenador Helder Hidalgo, que a partir do resultado da pesquisa vai organizar palestras e workshops nas unidades sobre o tema, tanto para os funcionários quanto para os alunos. “Não se trata de ser contra ou a favor, mas de esclarecer, trazer mais informações sobre o tema, e respeitar opiniões diversas”, conclui Hidalgo.

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