O tabagismo é um vício que vai além do gesto de levar o cigarro à boca. Ele leva a pessoa a desenvolver dois tipos de dependência: a física/química e a comportamental. A necessidade de fumar se torna cada vez maior e o fumante tem dificuldade de interrompê-la à medida que a dopamina liberada pelo cérebro aumenta a sensação de prazer, fazendo com que esta compulsão seja mantida e até cresça, pois cada vez mais será necessário consumir nicotina para manter os níveis de satisfação.
Nessa compulsão, a visão sobre as vantagens dadas ao uso do tabaco aumentam: fumo para socializar, relaxar, distrair, após refeições, para acompanhar a bebida, para sair de casa, ou enfrentar situações estressantes. Com essa atitude, o tabagista pode aumentar em duas vezes os problemas cardíacos, as chances de desenvolver um enfisema pulmonar, câncer de boca e pulmão, queda no desempenho pulmonar, doenças respiratórias, entre outros problemas.
A dependência comportamental é uma barreira a ser transposta. Muitas vezes, é feita uma associação de que o cigarro pode trazer benefícios tais como alívio do estresse, perda de peso, ser relaxante. Porém, a prática clínica revela o contrário: a nicotina é um estimulante que faz com que o coração acelere e a pressão arterial aumente, sendo necessário uma quantidade maior de nicotina para se manter “bem”. Quando isto não ocorre, há uma sensação de desconforto.
O sentir-se melhor fumando tem a ver com atribuir ao cigarro um momento de pausa para que ele tenha controle de sua vida. Fumar exige uma respiração calma, logo, a sensação é de relaxamento, porém, a mesma respiração sem a nicotina, também produz o mesmo efeito. Associa-se, portanto, que o cigarro acalma e não suas atitudes com relação aos problemas, o que é errôneo.
As primeiras semanas sem cigarro são difíceis: tristeza, irritabilidade, insônia, excesso ou falta na alimentação, entre outros sinais relacionados à abstinência aparecerão, porém, tendem a diminuir no prazo de 30 a 90 dias. Por tudo isto, esse começo é tão importante.
A necessidade ou fissura pelo cigarro é diferente para cada pessoa, mas aparecerá e, nessa hora, é importante ter clareza de outras dependências que podem surgir e acompanhamento médico e psicológico para o abandono do vício e a manutenção de sua decisão.
Falsas crenças estabelecidas com o uso do cigarro, como: vou engordar quando parar de fumar; não há prazer sem cigarro; fumar elimina o estresse; ou a vontade de fumar não passa, são falácias que precisam ser desconstruídas e descondicionadas. A psicoterapia ajuda nessa compreensão; a ter novos sentidos para a vida e descobrir as formas de lidar com a “incontrolável” vontade de fumar.
Contudo, é essencial que o fumante tenha uma firme e clara decisão, pautada numa melhora ampla em sua qualidade de vida, que, sim, será exigente e, por isso, necessita de apoio especializado, bem como da família e dos amigos. Não estranhe, nem desista, se neste processo você vivenciar raiva, arrependimento, uma vontade incontrolável de fumar, ter várias contrariedades, recaídas. Tenha certeza que a sua revisão de hábitos para uma nova vida lhe trará muito mais benefícios. Esteja firme e convicto do seu propósito e siga em frente!
* Elaine Ribeiro é psicóloga clínica e organizacional da Fundação João Paulo II / Canção Nova.
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